Sai pra lá!

Credo, que olhado! Quem sente inveja de qualquer coisa, sinta não. A vida não é fácil para ninguém. A gente passa por problemas sérios e cada um tem aquilo que busca ter. Trabalho, honestidade e caráter foram a receita para cada linha que escrevo, para cada pedaço de pão que como. Dá um tempo! Minha vida não foi fácil, as coisas não me caem do céu.  

Tudo que a gente perde, a não ser nós mesmos e os entes queridos, pode ser reconquistado, sempre com trabalho. Então, quem gasta suas horas invejando ou desejando mal, procure reorganizar suas próprias energias, procure concentrar-se em ter coisas boas para si, em alcançar sentimentos verdadeiros e em ter amor, respeito e admiração dos outros por mérito próprio.

Oxalá. Amém. Deus é mais. Credo! Toc toc toc.

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Recado:

“É isso aí

Há quem acredite em milagres

Há quem cometa maldades

Há quem não saiba dizer a verdade”

Ana Carolina

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Banana amassadinha com leite Ninho

Resisti o quanto pude. Enrolei o máximo possível. Hoje é sábado, entretanto, o sol da Bahia nos faz esquecer que talvez seja mesmo inverno. O dia está claro. A vida continua. Os carros passam. O telefone toca. Os bares vão ficar cheios daqui a pouco. Peguei nas provas. Larguei-as. Li bula de remédio. Ouvi música. Cansei. Tomei um banho de uma hora. Gastei hidratante ao máximo. Pus as roupas para lavar. Bebi água. Li um pedaço de livro. Mergulhei num artigo inteiro.

O cenho está franzido. Decidi fazer à tarde o molho de tomate. Lembrei a pizza de ontem. Levantei. Sentei. Levantei. De novo e de novo. Mais música. Mais pedaço de livro. Um nó na garganta. Então o poema que declamei na adolescência, teatrinho de colégio, escapou dos labirintos da memória e repetiu-se intenso: 

“Ah, no entanto, pomba, varou-te a flecha do destino. Astro, engoliu-te o temporal do norte. Tecto, caístes. Crença, já não vives… Correi, correi ó lágrimas saudosas… legado acervo da ventura extinta, dúbios achortes que a tremer clareiam a lousa fria de um sonhar que é morto…” *

É morto. É finito. É findo. Quando as pessoas morrem, sempre alguém se entristece. Quinta-feira, numa premonição, ironia da vida ou num risco da intuição da Oxum que há em mim, abri meu guarda-roupa e me deparei com uma meia pequetitita, de bebê. Branquinha , lindinha, com a possibilidade única de caber ali apenas um pezinho de um ano de idade. Assustei-me, não entendi nada.

Levei um dia inteirinho para entender que havia a possibilidade do meu edredon ter engolido na fazenda semana passada a “meinha” do meu priminho Dudu que pintava e bordava no meu colo… Talvez o meu edredon tenha raptado o pedaço de sonho que ele acalenta um dia sentir em minha cama.

Intriguei-me com o furto e, mais ainda, com a aparição repentina. Até que tive o corte: nada vai mal ao Dudu, graças, contudo a bebê que há um mês carreguei no meu colo e que brincou com meus cabelos e que riu descaradamente para mim, só para mim, e que falou meu nome errado, e que bateu palminha e que sorriu, sorriu, sorriu… essa bebezinha simplesmente morreu quinta-feira. Assim. Morreu. Virose, bactéria, maus diagnósticos, a vida, Deus, carma, encosto, sei lá sei lá sei lá… Uma mãe chora, um pai não sabe o que fazer, um irmãozinho pergunta pela pequena de quem ele ia cuidar a vida inteira, a família fala palavras de consolo inútil tentando se auto confortar. Ai! Foi demais para meu peito já cansado de guerra… E à noite, outro projeto de vida morreu. Minha grande amiga perdeu o bebê que ia no seu ventre.

Morrerem velhinhos, juro, creio o natural, o lógico, o normal. É clichê assim comentar, mas não dá para engolir nesta cabeça ocidental a morte de crianças e jovens e adultos. Estou entalada. Não queria escrever isso. Mas quando me vi na cozinha de casa, com meu lírico pratinho de florzinha, cheinho com três bananinhas amassadinhas e rompendo o lacre da lata de leite Ninho, senti que a criança em mim precisava de um colo. Nem que fosse o virtual.  

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* Poema de Fagundes Varela, declamado aos 16 anos no teatrinho da escola. 

“I’M STILL ALRIGHT TO SMILE”

O Guns assovia a velha canção de quando eu era adolescente ainda. Os pensamentos voam… Não cheguei a derramar nenhuma lágrima… mas a canção grita em seguida I need you, I need you

Dentro de mim parece ecoar um tempo que se perdeu não sei onde.

A sensação de atropelo que me impulsionou à frente às vezes me faz tonta como quem perdeu o bonde e, alheia ao abismo que me separa de tempo tão distante no espaço do que existi, permaneço atônita sem saber se com o coração dorido ou se anestesiada pelas sucessivas cicatrizes.

Hoje já compreendo o suficiente para entender a veracidade das múltiplas máscaras que cada um adota no cotidiano para projetar os picos e esconder os abismos de si mesmo. O Guns continua insistindo aqui no pc em gritar “…because I need you”.

O título da canção me convida a ter paciência.  Paciência para quê?

Aquele que nos aparece aqui sorrindo e acolá também está sendo, sim, honesto consigo mesmo. Somos tantos em um só! Quisera o amor captar a unicidade utópica. Tudo, tudo, tudo relativo… Este post não faz lá muito sentido talvez para todos, mas é o que me vai na alma exatamente agora. Nenhuma gota de álcool no organismo, apenas duas águas tônicas. Embriaguei-me esta noite foi na observação muda do mundo. Apenas isso.

Tenho essa louca percepção: colocar-me à margem para melhor compreender ou ser mera espectadora… E viajei no inconsciente da alteridade hoje, permitindo adentrar nas verdades absolutas que temos para tantas relativas ocasiões.

Cássia canta que o meu telefone irá tocar… em minha nova casaEu fui lá fora e vi dois sóis num dia e a vida aqui ardia sem explicação. E ela grita que sem explicação, sem explicação

Que órbitas serão realinhadas? Pergunto-me. E as há?

De forma sádica, ouço de novo e de novo as mesmas músicas. Há e-mails não lidos: não me interessam. Há fotografias não digitalizadas: podem esperar. Pouco importa agora. Só quero mesmo o que posso: minha música, meus travesseiros, minha água com gás.

“I ain’t got time for the games
    ‘Cause I need you
    Yeah, yeah, why I need you
    Oo, I need you
    Whoa, I need you
    Oo, all this time ”