Não é de admirar que em tempos de capitalismo, quando o consumo é padrão de aceitação social e confere status às pessoas, que novas formas de diversão surjam. Se o governo da Colômbia tem investido em educação e bibliotecas se tornaram espaços de lazer e encontro, aqui na Bahia a coisa anda um tanto quanto diferente.
Hoje vou receber amigos e fui ao recém inaugurado supermercado do bairro comprar cerveja e petiscos para aperitivo antes da famosa feijoada. Duas madames, de salto alto, se encontraram entre as gôndolas que ofertavam produtos em promoção, e pude ouvir a conversa, posto que falavam alto de contentamento:
– Rosa, o que faz por aqui? (lembrei até o tolerância zero, porque na minha ingenuidade, considerei a resposta óbvia)
– Ora, menina! Vim passear. Sabe como é, né? Amo supermercados!
Eu, pasma, emburrei… Fico a imaginar a delícia e o acréscimo cultural que deve ser ver os gelados, talvez dialoguem sobre a invenção de Carl von Linde em 1875. As hortaliças provavelmente fazem elas se sentirem mais perto da natureza, numa expectativa neoclássica do fugere urbem. Talvez o leite em pó, o condensado e o creme de leite evoquem os banhos de Cleópatra e a seção de facas seja uma ótima lembrança de que já houve guilhotina. A padaria deve remontar aos primórdios da humanidade e ao ler a seção de azeites, elas devem se sentir no Mediterrâneo. As massas as transportam à Itália e a cultura francesa talvez esteja inteiramente limitada a um potinho de Brie.
Tempos modernos, tempos modernos…
Não penso em trocar minhas viagens e passeios pela ida aos fantásticos supermercados. Talvez essas sejam as pessoas capazes de pisar o pé em Lisboa e sequer adentrar o Castelo de São Jorge. Para que, se o shopping Vasco da Gama tem ar condicionado e granito (aliás, como todos os demais do mundo)? Ginja? Tá doido, elas só conhecem coca-cola porque é isso aí.
Por conta disso, meu carrinho de compras trouxe foi a bebida alemã. Eu preciso me embriagar, porque sóbria não dá.