Porque hoje é sábado, acabei indo parar na praia do poeta. Incrivelmente, a luz estava linda para a fotografia, descobri que talvez seja aquele o lugar de melhor luz em Salvador. Mas porque hoje é sábado, não levei a câmera. Fui livre, leve, solta… tranqüila… sem hora para voltar, sem contas a pagar, sem estresses, sem trabalho; larguei tudo em casa, deixei tudo na vida, na cidade que se via de lá ao longe.
Fomos eu e meus olhos de céu, abraçar moleque, rir à toa, gargalhar de besteiras e, simplesmente, namorar, namorar, namorar… Quanto tempo passou não sei, quanto tempo virá não sei, quanto tempo já há, também não sei. Sei que é bom, que é bonito, que é puro.
Os barcos de Itapuã estavam lindos, com aquela preguiça no doce balanço, proa voltada para o leste… Pareciam me embalar em sonhos de infância quando havia pai e mãe. E foi gostoso, foi bonito. Estar com o coração tranqüilo acalma, não entristece. A luz da tarde, alta ainda, prateava o mar de tal maneira que mil folhas de celofane pareciam rebrilhar a cada marola.
Então nuvens pesadas vieram do horizonte, mas o Nordeste soprou e levou-as a chover em Salvador, naquele cinza de cotidianos que cegamente correm para lá e para cá, atropelando-se todos. Aqueles outros, os urbanos, eram os que precisavam de um banho de chuva. Ali, o tempo parara para a gente. E os barquinhos azuis, um vermelho, alguns brancos e tantos verdes, muitos verdes, dançavam numa cadência infinita no mar.
E pudemos perceber três homens, senhores de si a conduzir o saveirinho que mais parecia uma carruagem real, abrindo espaço entre as colchas d’água de Yemanjá. Era um saveiro de sonho, orgulho e perfeição no conduzir humano. A pintura tosca não era menos poética: ondinas marrons marolavam no branco do barco, lambendo a possibilidade de navegar para sempre.
As ostras estavam frescas, o abará delicioso. A cerveja no ponto, a roska na medida. O tremer de frio de lábios tão queridos aguçava as vontades de abraços. As pessoas sorriam-nos, a luz da tarde dourou o coqueiro de modo que imponente ele se ergueu a declarar a sua presença. Música do dia? Não sei se há. Mas cantarolei comigo mesma toda a tarde.
Alena Cairo
05 08 2006