Nesta próxima quarta, terá início a Festa Internacional Literária de Parati (FLIP). Infelizmente, não estarei lá. Ano passado, em julho, estive a passeio no litoral sul carioca e no litoral norte paulista. Um dos pontos altos da viagem apaixonante foi descobrir Parati. Lembro-me com muito gosto de que meus pais pescavam e estiveram em um torneio de pesca em Parati. Herdei deles o gosto pelas viagens, literárias e mundanas, mentais e físicas… E era incrível ouvir a voz doce de minha mãe ao falar de Parati. Sempre contemplando, absorta em suas recordações idílicas. Descobri Parati e também que talvez não haja lugar melhor para esta festa.
Vindo do litoral paulista, a chegada após costear a praia presenteia-nos com uma cidadezinha colonial, incrustada no cenário belíssimo da serra que abraça o mar. O casario encanta e lembra a Minas de Ouro Preto e Mariana, a Bahia do Pelourinho, de Santo Amaro da Purificação, de Lençóis, Ilhéus ou Valença.
Neste ano, oportunamente, o homenageado pela FLIP é baiano. Assim , não há como não celebrar a fusão entre Parati e o Jorge tão amados.
(foto Parati, julho de 2005)
” Melodia
O mar lhe mandou os ventos mais rápidos, lhe enviou o nordeste que atira o “Valente” para o cais da Bahia. Canoas que passam, saveiros que cruzam, jangadas que levam pescadores, batelões carregados de lenha lhe desejam boa viagem:
– Boa viagem, Guma…
Boa viagem que ele vai em busca de Lívia. A lua ilumina sua rota, o mar é uma estrada larga e boa. E o nordeste sopra, o terrível nordeste das tempestadaes. Mas agora ele sopra como amigo que o ajuda a transpor mais rápido esse braço de rio. O nordeste traz as canções da beira do rio, canções de mulheres lavadeiras, cantigas de pescadores. Os tubarões saltam nas ondas da entrada da barra. Há danças no navio iluminado que entra. À luz da lua, um casal conversa. “Boa viagem”, diz Guma e sacode a mão. Eles respondem e ficam comentando, entre sorrisos, a saudação daquele marítimo desconhecido.
Ele vai buscar Lívia, ele vai buscar uma mulher bonita para oferecer ao mar. Não demorará muito a carne de Lívia terá o gosto da água salgada do oceano, os seus cabelos serão úmidos dos salpicos do mar. E cantará, no “Valente”, as canções do cais. Saberá da história de Besouro, da história do cavalo encantado, de todas as histórias de naufrágios. Será como um saveiro, o casco de uma canoa, uma vela, uma cantiga, apenas uma coisa do mar.
O nordeste sopra, empina as velas do “Valente”. Corre, saveiro, corre, que já brilham as luzes da Bahia. Já se ouve o baticum dos candomblés, a música dos violões, o triste gemer das harmônicas. Guma parece já ouvir a risada clara de Lívia. Corre, saveiro, corre.”
(AMADO, Jorge. Mar Morto.)
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Todos os dias da semana, então, um post a ambos. Com direito a fotos inéditas.