Ser mulher não é lá tarefa das mais fáceis, embora seja uma delícia muitas vezes. Na semana que antecede a menstruação, nós acumulamos líqüidos que podem, na balança, significar exatos dois quilos a mais. Nada de drástico se se considerar que, assim que menstrua, o peso equilibra-se, uma vez que a atividade linfática retoma à normalidade. O problema é que, percebendo-se inchada, dificilmente a mulher se lembra de qualquer vaso: nem o de flores, nem o sanitário, quanto mais o linfático! Ansiosas, então, pela alteração hormonal e pelo inchaço que faz elas se sentirem feias e não caberem bem naquela calça, a menina, a moça e a mulher comem. Comem não, devoram.
Doces, chocolates, biscoitos, tortas, calabresas, picanhas, churrascos, camarões, queijos e tudo o mais que for gordura ou açúcar (e delícia, diga-se). Este comportamento, obviamente, leva, realmente, os ponteiros na balança a subirem. Então, só no dia em que a dita cuja chega é que a mulher consegue controlar a ansiedade e fazer dieta até que possa, novamente, chegar ao patamar de alimentação normal. Nenhum problema se se conhece o funcionamento corporal, o diabo é que é um CICLO. Sim, e isso significa que, todos os meses, lá vamos nós de novo, mulheres, neste processo incha-desincha, que talvez tenha inspirado a sanfona que tanto chora. Chora, chora, sanfoninha, chora, chora…
A sensibilidade fica à flor-da-pele, viramos manteigas-derretidas. Para chorar, é daqui para ali. Choramos por tudo, coisas sérias e banais. A taxa hormonal potencializa todas as coisas e, de repente, um outro programa feito pelo namorado é interpretado como escanteio ou provocação. Ou então palavras sérias de repente ouvidas como grosseria das bravas. Um mau humor daquele funcionariozinho da repartição pode parecer a ela uma perseguição sem precedentes! Coitados dos homens, sim, que não sabem o que é o ciclo menstrual e não têm como entender a nossa órbita. É difícil mesmo.
E ainda temos que contar com o efeito da Lua. Não é à toa que a Lua mingua, cresce, fica cheia e depois nova de novo. Somos água e, se a Lua influencia o movimento das marés… imagina os maremotos que não nos causa. Já observei o quanto o “enchimento” lunar tem a ver com o enchimento do meu metafórico saco. Perco a paciência, não tolero idiotices, não faço ouvidos de mercador, digo o que penso e fico cortante. Navalha na saia. Por outro lado, na Lua nova, fico meio perdida, marola sem objetivo, até que ganho de novo, entusiasmo e cresço em ondas… para minguar daqui a pouquinho em maré morta. De cansaço. Ou de enfado.
Nada é 100% exato, sim, ainda bem. Se não houvesse outros fatores, poderíamos ser simplistas e reduzir a análise a quaisquer estereótipos cabíveis. Ser mulher ou humana, escapa, felizmente, aos estereótipos. É difícil estar e não estar, inchar e não inchar, emagrecer e engordar, animar e desanimar… Quando se pensa que seremos agressivas, relaxamos e somos doces; quando se crê que seremos passivas, viramos leoas feridas. Talvez este seja o encanto: o imprevisível. A shakespeariana questão: ser ou não ser serve para os homens, porque oferta exatas opções. Às mulheres, acrescente-se a possibilidade do quando. Quando quero ser ou quando posso ser ? Quando não sou e nem quero ser? Somos agora e daqui a pouco já não mais.
Talvez o paradoxo da inconstância cíclica nos remeta ao que somos nós, as mulheres: a antítese pleonástica de nós mesmas. Vá entender. Ou entender-nos.