Saldo do sabadão

Resolvi tirar o dia para mim. Isso implica reclusão e fazer só o-que-eu-quis. Esperei até uma pessoa me ligar, mas parece que estava com outros afazeres. À tarde, naquele esquema depois do banho, deitei no ócio na minha cama e simpesmente dormi profundo. Concluo nestas horas que o sono sempre está atrasado quando se é professora.

O engraçado às 19 horas: lembrei que me esqueci (ô contradição!) de pegar os convites para o show de Nando Reis que já rolava na Concha Acústica (risos). Também, vai ver que o inconsciente se satisfez com a dose de quinta e resolveu desconsiderar a outra oportunidade.

Foi dia de arrumar gavetas e papéis. Jogar coisas fora.

Maior ato de coragem: jogar no lixo todos os arquivos de jornais velhos que tenho.

Maior arrependimento: ter jogado no lixo todos os arquivos de jornais velhos que tenho.

Atitude póstuma: ir ao lixo pegar de volta todos os arquivos de jornais velhos que joguei fora.

Pode?

Aí fico angustiada aqui pensando quando é que vou me livrar do excesso de papelada que eu tenho?  Vira e mexe, faço doações gigantescas. Fico aqui num trabalho de bibliotecária, separo sacolinhas para fulano, sicrano e beltrano.  Entretanto, arght!, tem horas que dá vontade de passar tudo pelo incinerador. (Ah, falar nisso, meu sonho de consumo mais imbecil é a trituradora de papel de escritório. Ainda compro uma bichinha daquelas [AS 870 CR] para ter o prazer de ouvir o tzzzzz tzzzz tzzzz… e ver o papel picotadinho. Se alguém se habilitar, rsrsrsr, aceito de presente!).

Agora, tarde já, um filminho que eu sou gente ainda. Quanto ao lanche, vou inventar que eu não sou traça.

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Ser mulher

Ser mulher não é lá tarefa das mais fáceis, embora seja uma delícia muitas vezes. Na semana que antecede a menstruação, nós acumulamos líqüidos que podem, na balança, significar exatos dois quilos a mais. Nada de drástico se se considerar que, assim que menstrua, o peso equilibra-se, uma vez que a atividade linfática retoma à  normalidade. O problema é que, percebendo-se inchada, dificilmente a mulher se lembra de qualquer vaso: nem o de flores, nem o sanitário, quanto mais o linfático! Ansiosas, então, pela alteração hormonal e pelo inchaço que faz elas se sentirem feias e não caberem bem naquela calça, a menina, a moça e a mulher comem. Comem não, devoram.

Doces, chocolates, biscoitos, tortas, calabresas, picanhas, churrascos, camarões, queijos e tudo o mais que for gordura ou açúcar (e delícia, diga-se). Este comportamento, obviamente, leva, realmente, os ponteiros na balança a subirem. Então, só no dia em que a dita cuja chega é que a mulher consegue controlar a ansiedade e fazer dieta até que possa, novamente, chegar ao patamar de alimentação normal. Nenhum problema se se conhece o funcionamento corporal, o diabo é que é um CICLO. Sim, e isso significa que, todos os meses, lá vamos nós de novo, mulheres, neste processo incha-desincha, que talvez tenha inspirado a sanfona que tanto chora. Chora, chora, sanfoninha, chora, chora…

A sensibilidade fica à flor-da-pele, viramos manteigas-derretidas. Para chorar, é daqui para ali. Choramos por tudo, coisas sérias e banais. A taxa hormonal potencializa todas as coisas e, de repente, um outro programa feito pelo namorado é interpretado como escanteio ou provocação. Ou então palavras sérias de repente ouvidas como grosseria das bravas. Um mau humor daquele funcionariozinho da repartição pode parecer a ela uma perseguição sem precedentes! Coitados dos homens, sim, que não sabem o que é o ciclo menstrual e não têm como entender a nossa órbita. É difícil mesmo.

E ainda temos que contar com o efeito da Lua. Não é à toa que a Lua mingua, cresce, fica cheia e depois nova de novo.  Somos água e, se a Lua influencia o movimento das marés… imagina os maremotos que não nos causa. Já observei o quanto o “enchimento” lunar tem a ver com o enchimento do meu metafórico saco. Perco a paciência, não tolero idiotices, não faço ouvidos de mercador, digo o que penso e fico cortante. Navalha na saia. Por outro lado, na Lua nova, fico meio perdida, marola sem objetivo, até que ganho de novo, entusiasmo e cresço em ondas… para minguar daqui a  pouquinho em maré morta. De cansaço. Ou de enfado.

Nada é 100% exato, sim, ainda bem. Se não houvesse outros fatores, poderíamos ser simplistas e reduzir a análise a quaisquer estereótipos cabíveis. Ser mulher ou humana, escapa, felizmente, aos estereótipos. É difícil estar e não estar, inchar e não inchar, emagrecer e engordar, animar e desanimar… Quando se pensa que seremos agressivas, relaxamos e somos doces; quando se crê que seremos passivas, viramos leoas feridas. Talvez este seja o encanto: o imprevisível. A shakespeariana questão: ser ou não ser serve para os homens, porque oferta exatas opções. Às mulheres, acrescente-se a possibilidade do quando. Quando quero ser ou quando posso ser ? Quando não sou e nem quero ser? Somos agora e daqui a pouco não mais.

Talvez o paradoxo da inconstância cíclica nos remeta ao que somos nós, as  mulheres: a antítese pleonástica de nós mesmas. Vá entender. Ou entender-nos.