Melhor programa da semana

 

O Museu Carlos Costa Pinto, no Corredor da Vitória, foi a melhor pedida da semana que se encerrou. Quarta-feira à tarde, trinta e quatro alunos do primeiro semestre, calouríssimos (quase maioria) e um corredor de histórias para explorar: ACBEU, ICBA e Aliança Francesa, três respeitáveis centros de idiomas; Museu Geológico, Museu Carlos Costa Pinto e Museu de Arte da Bahia; Igreja da Graça, Igreja da Vitória e Igreja de Santo Antônio da Barra e o Cemitério dos Ingleses. Tarefa para a tarde: explorar de modo sensível qualquer um dos espaços.

Entenda-se a complexidade da tarefa: passei semana passada um filme em classe a fim de falar sobre poesia e texto informativo, de metáfora e fatos. Falar de arte, de literatura, Neruda e sensibilidade. O filme era O Carteiro e o Poeta. Não é que peguei gente rindo do filme? Foram poucos, fiz questão de nem saber quem eram, de não prestar atenção às figuras para não gravar má impressão. Fiquei tão emp*tecida por tanta insensibilidade que mudei toda a aula do dia. Escrevi no quadro uma sondagem para reflexão pessoal. Isso mesmo. Eu não ia recolher nem ler nada, só queria que cada um pensasse. Sozinho. Em si. 

Não fiz cara de bruxa. Sorrindo ( com o coração raivoso, juro, mas ainda acreditando na profissão), escrevi várias perguntas no quadro branco. Perguntei o que cada um entendia por cinema para as massas, qual o museu inesquecível que haviam visitado, qual a biblioteca de que mais gostavam, qual o tipo de música preferido por cada aluno, qual a peça de teatro de que mais gostaram na vida, quais os livros mais amados por eles, quais as cidades da Bahia que conheciam, quais os estados do Brasil e quais os países que haviam visitado.

Cinqüenta minutos para escreverem sozinhos, com exigência de justificativas, embora houvesse avisado que eu não leria nenhum dos cadernos. Então, ditei para que escrevessem o tema da produção/reflexão textual :

“O MUNDO É DO TAMANHO QUE VOCÊ O VÊ. “

QUE TIPO DE JORNALISTA VOCÊ QUER SER? Que caminhos está percorrendo para atingir seu objetivo? Que trilhas pretende explorar nos próximos anos?

Então marquei rapidinho um programa cultural externo à faculdade. E fiquei satisfeita com o resultado.

Encontramo-nos no ponto exato símbolo do capitalismo, da globalização, da cultura de massas, da junk food: Mc Donald’s. Bem embaixo daquele M gigante fiquei com os meninos. Convidei-os a olhar ao redor e ver: uma igrejinha histórica, um sítio onde Diogo Caramuru esteve, árvores centenárias na Vitória, prédios da década de 40 e 50, uma arquitetura urbana riquíssima a ser explorada. Gradis, janelas, residências. Muito da cidade de Salvador está ali, muito mais que o carnaval em fevereiro de todos os anos.  

E, traçadas as possiblidades de roteiros, eles se rearrumaram em grupos e partiram  em busca da experiência e de vivências diferentes. Pedi-lhes que procurassem ver o que talvez poucos vissem, que explorassem os detalhes e que se permitissem contemplar.

Passada meia hora, optei pelo caminho do Museu Carlos Costa Pinto. Uma funcionária gentilíssima, Liége Coelho, atendeu o grupo e, além de contar-nos a história da família e da criação do museu, projetou o filme sobre as peças e a história da fundação do MCCP. Depois, a maravilha de ver as pratarias e as louças, as jóias de escravas e senhoras, os candelabros, os cristais, o mobiliário e os quadros de coleção do grande mecenas que foi Carlos Costa Pinto. Algumas peças estavam fora, na exposição O que é que a Bahia tem, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, mas em nada subtraíram a beleza da exposição. Interessantíssimo foi para mim verificar o estado de conservação das peças, a seriedade com que o museu é cuidado e o sistema de segurança.

Boas notícias: menores de 18 anos nunca pagam; às quintas-feiras, ninguém paga e, também às quintas, é exibido um filme antigo no cinema do museu, gratuitamente. A biblioteca Margarida Costa Pinto tem um riquíssimo acervo de livros sobre arte e o café Balangandan  é simplesmente um espaço delicadíssimo no centro da cidade, com requinte e bom gosto.

Visite o link quem não mora aqui. Quem reside em Salvador, vá degustar uma tarde no Museu. Eu adorei. Os meninos também.

O carteiro e o poeta? Será reavaliado em ouuuuuuuuuutra aula, depois que algumas visitas mais ocorrerem. E olha que respeito muito o gosto pessoal. Poderiam fazer mil críticas ao filme, achá-lo até monótono. Mas rir… só se for de piada.

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