Plágio

Como professora, procuro sempre educar meus alunos em sala e a questão do plágio está atualmente em pauta nas discussões das universidades e escolas. O famoso “Que é que tem?”  é a declaração de falta de ética maior que eu já vi. Uma aluna minha copiou na íntegra uma crônica de Fernando Sabino e me deu como se fosse a genialidade dela que a tivesse produzido. Achei que já havia lido o texto e … pimba! Tiro e queda! Para azar dela, outro aluno resolveu gravar uma locução da mesma crônica no mesmo dia e me trouxe a fita para que eu a avaliasse em classe. Foi ouvirmos e o texto da “dita Sabina” aparecendo …

Não me mata saber do plágio porque não sou inocente e sei que nem todo mundo tem caráter. O que me revolta é pensar no tamanho do cérebro do imbecil que plagia. Poxa, plágio para mim é atestado de incompetência, de ingerência cerebral. Quando leio algo que eu queria ter escrito, acho genial, bacana, elogio, divulgo a idéia, dou o crédito, aprendi com fulano… Penso então que preciso ouvir minhas vozes para escrever como os autores que eu gosto de ler. E nunca me esqueço de que o berço da escrita é a leitura. E não há como discordar.

Quem plagia obviamente admira ou reconhece o valor do plagiado. Mas é um tipo de admiração que nenhum autor quer ter. Na internet, com o control c e control v, tudo ficou absolutamente fácil. Em segundos, o desonesto pode ser o novo dono de suas palavras, de seu estilo, de suas idiossincrasias e de seus pensamentos publicados. Só leio blog que se respeita, só repasso mensagem com autoria publicada ou assinatura. Só escrevo o que sai de minha cabeça, de minhas emoções, de meus sentimentos e percepções.

Chateia ver o que anda acontecendo:  http://queridoleitor.zip.net/arch2006-08-20_2006-08-26.html .

Mas há solução: denúncia e processo. Todo leitor tem dever ético com o autor que admira. Aderi à campanha de denúncia e divulgação de casos como o de Miltinho

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Trair e coçar

Trair e coçar: é só começar, o filme, tem, como elenco, Adriana Esteves (Olímpia), Cássio Gabus Mendes (Eduardo), Otávio Müller (Cláudio), Bianca Byington (Inês), Mônica Martelli (Lígia), Mário Schoemberger (Cristiano), Aílton Graça (Nildomar), Fabiana Karla (Zefinha), Márcia Cabrita (Vera), Lívia Rossi (Salete), Thiago Fragoso (Carlos Alberto), Mário Borges (Ricco), Cristina Pereira ( D. Orávia), Chris Amorim (Gorete), Leandro Firmino (Mecânico), Miguel Nadir (Homem da mudança), Paulão Duplex (Homem da mudança), Ed Oliveira (Homem da mudança).

O filme deixa a desejar em vários aspectos. Primeiro, não vi a peça e não tenho, portanto, elemento de comparação. Cheguei a pensar que talvez no palco a fórmula dê certo, mas na telona peca em diversos aspectos de seqüência e verossimilhança. É entretenimento barato, arranca algumas risadas ao longo do enredo, mais pela atuação de um ou outro consagrado ator ou atriz do que pela história propriamente dita. Adriana Esteves mostra sua versatilidade, sai do papel de mocinha, que a trouxe ao conhecimento do público nas novelas, e encarna a atrapalhadíssima empregada Olímpia no filme. Consegue convencer.

A doméstica interpreta equivocadamente a ironia e brincadeira do patrão Eduardo ao lhe responder sobre uma outra mulher com quem falara ao telefone e se confunde ao mentir por causa de um jantar surpresa da esposa Inês em comemoração aos seus 15 anos de casados. Eduardo volta mais cedo de viagem para casa e as confusões começam todas “ao mesmo tempo agora”. Lígia, amiga de Inês, conhece um joalheiro há muitos anos e o marido Cristiano pega um cartão dele, Ricco, para ela, interpretando-o como uma declaração de amantes. Até aí, interessante pensar em como a comunicação realmente causa ruídos e nos faz transformar hipóteses em certezas.

Entretanto, se no teatro a comédia se consagrou, no cinema deixa a desejar certamente. Teatro e cinema exigem recursos distintos e a fórmula que dá certo no palco, pela ação e performance dos atores, no cinema,  exige outros elementos de coesão e melhor interpretação porque a ação é projetada na telona.

Erros de seqüência, captei-os ainda no cinema, enquanto assistia ao filme: os dois maridos supostamente corneados, por exemplo, estão trancados no escritório e ouvem a conversa das mulheres pelo buraco da fechadura. A empregada os trancou lá dentro. Depois, em outra cena, eles olham pela fresta da porta entreaberta e, na cena seguinte, estão lá trancados de novo. Como abriram a porta se não possuíam as chaves? E depois, logo seguidamente, aparecem trancados por fora?

Na cena em que Vera ouve a confissão do marido síndico de que se apaixonara por outra, no caso Inês, a descompostura de Márcia Cabrita (como Vera) e a péssima qualidade de sua atuação ficam evidentes. Ao sair do espaço no play onde conversavam, concluindo que está sendo traída e que vai se separar, levando tudo de casa, Vera sai saltitante como se fosse uma criança a buscar o sorvete na esquina com os dez reais que ganhara do pai. Nenhuma expressão corporal, diga-se. Nenhuma mulher se separa saltitante, nem sai de uma confissão de paixão do marido por outra com a leveza que ela caminha para se retirar. Até hoje, estou certa de que ela é um caso típico de atriz por QI (Quem Indica). Nunca convenceu no Sai de Baixo e em nada mais que fez e pude ver.

A aspirante a síndica, D. Orávia, não diz a que veio. Cristina Pereira desperdiça seu talento e simplesmente sobra no filme. É, no filme, elemento totalmente secundário e dispensável. Não precisava constar. Assim também ocorre com Salete, personagem de Lívia Rossi. Encontrar o cardiologista Eduardo no avião é verossímil e interessante. Situação plausível. Mas o filme projetado na aeronave ser o dela dançando num congresso e o jornal que ela lê ter a foto de Eduardo… coincidência demais para poucas horas de avião. Ao final da história, ela ainda aparece na casa dele para lhe devolver o seu celular que perdera. Nenhum problema nesta situação, mas ela ir à casa de um quase estranho vestida para dançar e subir no apartamento dele não é nada comum.

Ao final do filme, a empregada tranca todos em salas, quartos, lavabo, área de serviço. O detalhe é que ela guarda todas as chaves na própria roupa, arrancando-as das portas. Quando os homens que fizeram a mudança da esposa do síndico invadem o apartamento, em busca de reaver seus prejuízos, saem destrancando todos. E as chaves? Não houve a cena deles pegando a chave. Abrem simplesmente as portas como se lá na fechadura as chaves estivessem. 

Outra questão me deixa sem paciência para o engraçado que poderia haver na circunstância: a esposa do síndico se enerva com a possibilidade dele a estar traindo e resolve se separar. Os trogloditas da mudança chegam e, simplesmente, sob protestos do síndico, saem carregando toda e qualquer coisa que haja dentro do ap. O síndico nem consegue impedir, pela força bruta os homens levam o que querem. Como isso pode ocorrer? Nem mandato eles tinham …  E olha que tenho experiência em mudança e é simplesmente impossível que se carregue tudo tão rápido, em poucas horas,  inclusive que se arranque o lustre da sala e nenhum biscuit mais haja pela casa, ou milhares de caixas.

Depois, mais um erro de seqüência: o síndico se esconde no armário ou guarda-roupa que os homens carregam e, na cena que sai do ap, eles realmente demonstram a força física extra necessária para acarregar o móvel com um homem (gordo) dentro. Ao saírem do elevador, entretanto, os homens , apenas dois, carregam-no sem o menor esforço. O homem saiu do armário ou eles tomaram espinafre? Em poucas horas, a mudança vai e volta.

Adriana Esteves, Cássio  Gabus Mendes e Aílton Graça são os atores responsáveis por sustentar toda a trama e garantir que ainda a classifiquemos como comédia. Eles impedem que o filme caia na “sem-gracisse” absoluta. Ainda há que se ressaltar que o perdão coletivo dos patrões e demais pessoas envolvidas na confusão de Olímpia não desce na garganta de ninguém em sã consciência. Além do mais, o título do filme não diz a que veio. Nada o justifica. Não houve sequer uma traição no filme, é preciso registrar. E ninguém se coçou (estou sendo mordaz).

Penso que os autores e diretores de  filmes, livros e peças têm de escolher o grau de verossimilhança que pretendem imprimir às obras. Não dá para oscilar tanto sob pena de cair no ridículo do mau gosto e decepcionar o leitor ou espectador que se sentem subestimados. O inverossímil de filmes como Top Gang, Corra que a polícia vem aí ou do Casseta e Planeta são exatamente a medida certa de sua graça. Mas Trair e coçar não consegue situar-se nem em um campo nem em outro. O filme não ganha força, não alavanca como comédia, proporcionando apenas risos aqui e ali , e vira mera sessão da tarde. Não oportuniza o riso largo ao sair da sala de exibição e nem nos faz comentá-lo depois em mesas de bar ou sessões com amigos. Simplesmente, um filme que esqueceremos.

Finalmente

Finalmente o processo de perder o passado está acontecendo.

Deixar as traças da memória apagarem o que passou.

Rasgar os papéis que não fazem mais sentido.

Superar os traumas que ainda despontavam como dor breve.

Um medo que não existe mais.

Uma tranqüilidade que começa a chegar porque a vida vai , simplesmente, ficando normal.