Sobre Plutão

Não me assusta a mudança de classe de Plutão, assunto que causou frisson nesta semana que passou.

Eu adoro astronomia, adoro olhar para o céu à noite naquelas cidadezinhas em que quase não há luz e podemos ver também o céu da poesia, como o de Ícaro ou o de Mario Ruppuolo, em O Carteiro e o Poeta. Amo ver a astrofotografia.

Mas me incomoda muito a mania humana de classificar todas as coisas. Mais sensibilidade e menos razão nesse pseudomundo-racionalíssimo-e-tão-bárbaro-e-provinciano-e-tosco! Penso em Darwin e também nas classes de palavras, nas classes econômicas, classes escolares, animais, vegetais, sociais… etc etc etc. Por causa das classes é que a gente se perde neste mundo. Por causa da classificação é que se acentua o preconceito, se incentiva o mundo da aparência : pareça que pertence a esta ou aquela classe para pertencer a ela.

Ciência: verdade absoluta? Inquestionável? A própria história revela o contrário.

E sorrio ao pensar que o que Aristóteles pensou, Copérnico refutou, Galileu modificou… Os astrônomos de agora revêem e os do futuro também verão com outros olhos. Passei um tempo tentando, por curiosidade, entender o que Plutão era então, já que não era mais planeta porque assim os homens estudaram, comprovaram(?!) e decidiram. Não achei durante o primeiro dia da notícia o que Plutão era então. No outro dia, li sobre sua massa, suas características e etc… Para mim, o que verdadeiramente importa é as conseqüências de Plutão, simplesmente, existir. O que é Plutão para o homem e o que ele interfere na nossa vida.

A Lua influencia as marés, por exemplo. E mais os amantes e os poetas. Por isso ela é tão inteira, tão Lua. E Plutão?  É um corpo celeste (enquanto não decidirem os homens que é outra coisa). O que Plutão nos traz, o que transforma ou o que influencia ?

Blá-blá-blás à parte… Não interessam muito as denominações no âmbito que as pessoas as têm discutido.  Corpo celeste, astro, galáxia, planeta, sol ou satélite, nada mudará na sua vida porque o nome mudou. A ciência descobre que Plutão não pertence à classe dos planetas, então da descoberta derivam estudos que beneficiarão ou não a humanidade. Isso importa.

Qual a questão? Shakespeare é que estava certo neste mundo de ser ou não ser. Eisnsten também, quando encucou uns e libertou outros com a relatividade de todas as coisas…  Outro homem lá no passado da Grécia Antiga, um tal de Platão que não é o Plutão da questão, também já percebera as sombras projetadas na parede da caverna… Os limites da nossa visão. Camões, na Renascença, escreveu : ” Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,/ Muda-se o ser, muda-se a confiança;/ Todo o mundo é composto de mudança,/ Tomando sempre novas qualidades.”

Gente, paremos de chorar a classificação declinada. Talvez seja um convite a repensarmos a falsa solidez dos conceitos. Dos dogmas. Das certezas. E dos absolutismos que nos levam à Tirania da Intimidade, da Política, da Fofoca, da Crítica Indiscriminada, do Preconceito, da Intolerância.

“Tudo que é sólido, desmancha no ar”, não é Marx? Um brinde às mudanças, ao repensar, às novas descobertas. Mas um brinde especial com cara de vacina à lucidez que devemos ter para lidar com o mundo dos homens, da racionalidade e da ciência. Senão, poderemos ficar (ou permanecer) como o doutor alienista de Machado: louco; ou como os homens do ensaio de Saramago: cegos que vêem não vendo.  

Por isso é que eu não fiquei pluta da vida, não me preocupei com as mnemônicas musiquinhas escolares ( aliás, acho-as imbecis: se posso memorizá-las,p osso decorar logo o que tenho que aprender).

Plutão não é mais planeta, mas (parece que) continua lá no céu… Take it easy, portanto.

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