Post de 20 de setembro de 2006. Novo post sobre a decisão absurda de retirar o You tube do ar.
Economizem-me os puritanos de plantão. Se o são, não vejam o vídeo. A modelo Cicarelli aparece na praia espanhola de Cádiz, belíssima – tanto a praia quanto Daniela, em um grande amasso com o namorado que termina com um affair mais ousado no mar, pelo visto, com penetração … enfim, uma transa, cópula, ato sexual e animal. E humano, posto que animais somos.
Ora, a julgar pelos comentários que li, que a consideram uma vadia, vagabunda e outros tantos adjetivos do gênero (basta verificar os chats e blogs), parece que a modelo e o namorado fizeram algo tão absurdo que beira o sobrenatural.
Qual a moça, namorada, com a mesma idade, mais nova ou mais velha, que não desejou fazer sexo na praia, ou amor, se preferirem os que precisam do eufemismo ? Quem não teve a oportunidade de dar uns amassos em seu namorado(a) e não aproveitou a libido que o sol e o mar despertam na doce cadência das ~~~~ ondas ~~~~ , tão cantada pelos poetas? Quem não fez sexo na praia, ou amor, desejou fazer ou fará, se puder.
Fico a pensar nos absurdos masculinos que ouvi … adolescentes ávidos pelo sexo disponibilizado gratuitamente na rede e ‘machos’ de plantão a apedrejar Daniela Cicarelli com os impropérios mais absurdos… Femininas línguas venenosas completam o coro. Não sou fã da apresentadora, não tenho afetos nem simpatias por ela. Daí a meu queixo cair porque um casal namora na praia… há uma enorme distância.
A ocasião desperta em mim outras indagações. Em tempos de Big Brother, câmeras em elevadores, locais públicos, celulares que gravam e fotografam ou filmam… janelas indiscretas vigiadas por um vizinho voyeur, sabemos não ter mesmo mais privacidade alguma. Aparentemente anônimos ou assim se acreditando, Tato e Daniela desfrutaram da paixão e tesão que sentiam um pelo outro, supostamente protegidos por oceanos e continentes de distância. Não procede a acusação dela expor-se a fim de buscar mais fama. Se assim fosse, namoraria no Guarujá. Seria mais rapidamente reconhecida.
A modernidade fez as comunicações evoluírem a tal ponto que não se pode mais falar em intimidade ou privacidade. Se eles quisessem sexo explícito, teriam feito na praia, à vista de todos. O simples entrar no mar revela um pudor social que, como lembra Rubem Fonseca em Intestino Grosso, nos faz envergonharmo-nos de toda e qualquer condição que nos lembre que somos animais, como as funções sexuais e excretoras. Não se pode ver alguém em condições ‘mais íntimas’ que um grande assombro toma conta das almas desocupadas e desperta a maledicência ferina que os castos difamadores destilam com prazer. A Cicarelli, se realmente foi ela a moça do vídeo, caberia bem a frase-defesa diante do júri que a espezinha: E daí?
O ‘escândalo’ que o vídeo causou e o furor no you tube, que retirou o filme do ar por violar as normas do site ( não podem conter cenas de sexo os vídeos veiculados), revelam uma sociedade presa a fofocas e fuxicos herdados em anos de lavagem cerebral de uma imposição religiosa que insiste em transformar as mulheres em ‘virgens’ e os homens em fidedignos animais racionais, sem libido, sexualmente ativos apenas para a reprodução.
Honestamente, indecente foi terem filmado o casal com modernas câmeras equipadas com zoom, sem o consentimento de qualquer das partes.