Xeque-mate, o filme

Excelente filme! A narrativa consegue ter coesão do início ao fim. Considerando-se o que andamos vendo no cinema recentemente, há que se aplaudir a seqüência realmente lógica das idéias. A sucessão de cenas aleatórias a que assistimos no início, aos poucos, vão fazendo sentido e são recuperadas ao longo da história, encaixando-se coerentemente na trama dos fatos. A ‘trapaça Kansas City’ é o elemento condutor da história.

O enredo é aparentemente simples: um garoto é confundido com outro rapaz: estava na hora errada, no lugar errado e caiu nas mãos de poderosos chefões do crime e do jogo de New York. Sem opção, enfrenta um e outro, sabe de ambos o que deve fazer e parte para cumprir sua missão.

Interessantíssimo o poder que a arte tem de projetar nossos sentimentos e nos conduzir a sensações várias. Adversamente à moral social comum, como justiceiros que aguardam ansiosos o acerto de contas, a platéia termina por sentir o bem doce sabor de vingança pelas mãos de Slevin Kelevra (Josh Hartnett). Nada de esperar pela polícia ou pelo juízo final : justiça feita, filme com ares de ‘é melhor agir por conta própria’, porque o Estado ou a Providência deixam, infelizmente, muitos bandidos impunes.

A ação garante atenção do início ao fim, mas as almas mais sensíveis não devem arriscar seu estômago: as cenas de morte  exploram desde cabeças estilhaçadas por explosivos tiros de armas potentes, passando por asfixia e chegando até mocinhas assassinadas à queima-roupa. O personagem de Willis desde o princípio deixa muito claro que a Trapaça Kansas City será uma ótica que reverterá a nossa visão: quando pensamos que o inimigo está de um lado, ele, na verdade, estará do outro.

Bruce Willis, além de charmosíssimo na pele do GoodKat, esbanja maturidade e charme na interpretação do assassino por encomenda que é encarregado de matar o filho do Rabino, (Ben Kingsley) arquiinimigo adversário do Chefe (Morgan Freeman – também espetacular na frieza do papel do gângster).

Nas entrelinhas da história, ainda um final moralizante. Os temidos rivais do submundo do crime novaiorquino terminam por destruir-se a si mesmos em vida: encarcerados em prédios de segurança máxima, passam a vida a odiar-se e vigiar-se mutuamente. Do cárcere privado em vida, chegam à auto-destruição: à armadilha que os conduz à presa fácil dos assassinos que eles próprios contrataram.

Envolvente, emocionante, boa diversão nas telonas. Vale o bilhete e a pipoca.

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Mãe assassina bebês

O que leva uma mãe de 23 anos a matar envenenadas suas filhas gêmeas de 8 meses? A declaração da genitora à polícia, segundo a Folha, justifica o crime como vingança contra o pai que a abandonara há cerca de um ano.

Há que se fazer conjecturas… mas não penso ser amor jamais o motivo desta barbárie. Mata-se por desespero, por desolação, por ódio, por raiva, por falta de amor próprio, por depressão…

Não sou mãe, mas basta ser humana para ficar indignada pelo torpe envenenamento. Penso mais: a mãe deixou com uma babá as crianças e foi trabalhar em casa de família na Barra da Tijuca. Se foi capaz de envenenar suas filhas indefesas, bebês ainda, de que mais seria capaz esta mulher? Talvez jamais cometesse ato criminoso contra a sociedade, contra seu patrão, contra os cidadãos comuns… Talvez o ódio, o desprezo, a baixa auto-estima a tenham levado à insanidade assassina.  Não sabemos o que este ex lhe fez de tão grave ou desesperador que tenha despertado nela as piores revoltas, a ponto de destruir suas filhas como suposto castigo àquele que as gerou. Talvez o simples abandono. A desistência de querê-la. O desinteresse tão comum a tantos casais. A mente humana tem lá seus mistérios.

Podemos como leigos apenas entender uma coisa: o ser humano é capaz. De tudo.  Cada um tem freios inibitórios diferentes dos demais humanos. Não sabemos quais os limites do outro. Portanto, respeito sempre cabe.