… que não deveriam existir!
Houve uma novela e um tempo em que eu via novelas. Lembro-me de que Mário Lago interpretava o jovem doutor Molina, havia o Tadeu, personagem do Jairo Matos e a Clara, interpretada pela Cláudia Abreu. Em uma certa cena (inesquecível) , o velhinho Molina discursa para o Tadeu e lhe diz, após este destruir o coração de Clara, que assassino não é só aquele que pega uma faca e a enfia no coração de uma pessoa ou um revólver e dá cinco tiros. O pior assassino é aquele que destrói os sonhos de alguém.
Nossa, me lembrei disso neste instante por causa de um personagem que me apareceu… Sabemos nós que somos todos a multiplicidade de heterônimos que habitam em nós. Ninguém é somente bom ou apenas mau. Mas há sacanas, cafajestes, seduzidos pela arte de seduzir, que se empenham em descobrir os anseios mais profundos desta ou daquela mulher… E a cortejam, embalam, levam-na às nuvens de algodão ou aos frágeis palácios d’ouro de seus anseios… Prometem-lhes os lírios do deserto e, com o peito, por um tempo, lhe aplacam a solidão.
Fazem isso de forma sádica, satisfeitos em seduzir, em conquistar, em exercer a sua torpe macheza para, logo em seguida, ter a mulher presa pelo preeenchimento de suas próprias carências. Então lhe arrancam o tapete debaixo de seus pés. Geralmente, ela, a moça ou menina nem tem tempo de ver o trem que lhe passou por cima… Enreda-se num sofrimento que inclui autocomiseração, impotência e culpa. Sangra fêmea ferida sem confiança, na lama de seus restos.
O bonitão? Sorri e parte para a próxima. Vítima.
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* Não falo do homem nem dos homens, mas de um tipo específico que, convenhamos, não deveria mesmo existir.