O período não está para vôo

Nova queda de avião no Brasil.

Conheci uma pessoa que diz sempre que há os períodos do ano para as quedas de avião. O mundo cíclico… depois, são os acidentes de trem… bom, vou evitar o ar neste mês. Também, não tenho nenhuma programação. Ao menos por enquanto.

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O diabo veste Prada

Crédito da imagem: https://i0.wp.com/www.cinemacomrapadura.com.br/filmes/img/1937-2006-06-21-19:06:09_8.jpg

A maior recompensa de O DIABO VESTE PRADA é, realmente, ver o esbanjamento de charme e classe de Meryl Streep, magnífica no papel de Miranda, editora de moda da revista Runway, a mais importante de NY. O filme revela os bastidores do mundo da moda. O enredo é fraquinho,  cansa o espectador e faz a coluna sentir o incômodo da cadeira. Interessa a poucos e não chega a ser nem politicamente correto nem incorreto. Meio constatações de como são as coisas no mundo fashion.  Anne Hathaway interpreta a recém-formada em jornalismo que consegue o seu primeiro emprego , justamente como assesssora da terrível Miranda, misto de deusa da moda e diabo de chefe.

Soube agora que o filme é uma adaptação do livro homônimo, de Lauren Weisberger. Admira-me esta obra virar best seller com tanta literatura precisando de leitores no mundo, mas vamos lá, metáforas não são mesmo para todos e o mundinho fashion das celebridades é o norte dos valores vigentes então. A autora foi assistente da editora da Vogue americana e parece que a voz d‘a vida como ela é’ acabou por apimentar mais ainda a vendagem do livro.

Mito ou realidade, se o diabo veste Prada, todos podem concluir que ele é um show de elegância. E se o diabo veste Armani, Gabbana, Dior, Valentino e o que mais do gênero, além de endinheirado – não dizem que foi ele que inventou o $$$? – o tinhoso é  de muito bom gosto. O que me atraiu ao longo do enredo, que deu sono realmente, foi o mundo de faz-de-conta e a tirania das editorias. Miranda é realmente espelho de muitos editores , capazes de vender até a alma ao diabo para ter certas benesses. Uma troquinha de favores aqui, uma puxação de saco ali, e milhões de dólares gerados pela indústria da moda. É o espelho de pessoas que vivem de flashes e sorrisos, diplomáticas, mas , na verdade, toleram-se umas às outras.

Nada contra a moda, nada contra os estilistas. Aliás, os melhores momentos do filme são realmente os desfiles de modelitos. O diálogo de Miranda com a subalterna explicando-lhe sobre a cor do suéter dava uma aula de análise crítica muito boa. Aliás, o clímax do filme para mim. A secretária de Miranda entra no manequim  do papel. Ótimo pensar que a moda crucifica quem veste 40. Acima disso, nem existe! Paradoxo é ver a própria Miranda exibir com elegância quilos a mais e a mais e a mais do que o restrito padrão de 34 a 38. Quem tem um pouco de massa encefálica, entende a crítica que perpassa levemente satírica o enredo. Os demais? Deslumbra-se-ão e considerarão a  heroína Andrea tola.

Paris em flashes vale a pena: dá para quem a conhece sentir o frio gostoso da saudade. Mas o final, diante do desenrolar dos fatos: pouco provável. Sem contar no editor que paquera Andrea… tsc tsc tsc… personagem mais improvável impossível.  A relação de Andrea com o love também … tsc tsc tsc…

Bom, só para não dizer que não falei dela,  Gisele Bündchen faz uma mini ponta no filme. Bela como sempre, mas nada que chegue a lhe dar algum sal a ponto de a considerarmos  como algo mais que uma figurante. Foi ela, mas poderia ter sido qualquer outra ali.

É inútil o filme? Não. Mas também não chega a ser bom.

Cegueira

Por que será que as pessoas que mais falam em religião são as que menos professam os seus preceitos? Que eu saiba, a maioria das religiões professa os mesmos valores: tolerância, perdão, compaixão, amizade, AMOR. Então não é um paradoxo que haja tanto ‘ministro de deus e do espírito” INCAPAZ de ao menos ouvir o outro?

São sempre cheios de certezas e a certeza é um absolutismo que leva à intolerância. O dogma das razões religiosas conduz à soberba. Os que se acham certos, os que se consideram infalíveis… Os donos da verdade e da ‘palavra’.

As pessoas que geralmente vivem a falar em deus ( aquele lá que colocam com letra maiúscula e tudo, senão é “desrespeito”) são as menos propensas, muitas vezes , ao Amor. Tem até uma religião que fala que deus é amor. Mas AMOR pressupõe tolerância, perdão, compaixão, amizade.

Se Deus existir, creio que reprova o egoísmo. A intolerância. A grosseria. A estupidez. O espezinhamento do outro. O sadismo.

Encontrei pela vida umas pessoas boas. Elas tinham amor no coração. Delicadeza nos gestos. Compreensão nas atitudes. Paciência como virtude. E sabiam ouvir, com os olhos e os ouvidos.

Eu não acredito em religião. Para ser sincera, gosto das mais tribais, panteístas. E faço delas uma miscelânea: um pouco de cada ensinamento.

Eu acredito é nas pessoas. E sei que há boas e más pessoas no mundo. Não da forma assim, divididinha, os bons de um lado e os maus de outro. Creio que há bondade e maldade em todos nós. Mas sei que somos dotados de passionalidade, impulso e razão. Por isso, alguns conduzem melhor sua vida.

A minha máxima “religiosa” li em A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, quando eu tinha 14 ou 18 anos : “Toda paixão pelo extremismo é um desejo de morte disfarçado.”

Citações

“Apenas as pessoas podem participar no amor. Todavia, não o encontram já pronto e preparado em si próprias. Se uma pessoa permitir que a sua mente, os seus hábitos e as suas atitudes se impregnem de desejos sexuais não encaminhados para um amor pleno, resultará que pouco a pouco se vá deteriorando a sua capacidade de amar verdadeiramente, e estará permitindo que se perca um dos tesouros mais preciosos que todo o homem pode possuir.

Se não se esforçar por retificar esse erro, o egoísmo far-se-á cada vez mais dono da sua imaginação, da sua memória, dos seus sentimentos, dos seus desejos, e a sua mente ir-se-á enchendo de um modo egoísta de viver o sexo.

Tenderá a ver o outro de um modo interesseiro, apreciará acima de tudo os valores sensuais ou sexuais dessa pessoa e fixar-se-á muito menos na sua inteligência, nas suas virtudes, no seu caráter ou nos seus sentimentos. O despertar do prazer erótico antes do tempo costuma ocultar a necessidade de criar uma amizade profunda e pura. Aliás, uma relação baseada apenas numa atração sensual, tende a ser flutuante pela sua própria natureza, e é fácil que em pouco tempo – ao desvanecer-se esse atrativo – acabe em decepção, ou até numa reação emotiva negativa, de antipatia e desafeto.”

Alfonso Aguiló