Não sei porque abandonamos o que gostamos… não sei porque desistimos de nossos amores… não sei porque não bebia vinho há muitas semanas… Hoje, no 5S final que estou fazendo em minha vida, repaginação total (leia-se possível), me transportei de novo aos 14 anos, quando eu era filha ainda e arrumava meu guarda-roupa. Adoro dar as coisas. Mas só dou a quem eu acho que vai fazer uso. A gente limpa, limpa, limpa… e daqui a uns anos tem tudo entulhado de novo. A gente vai juntando de novo novas importâncias. Por quê? Porque as coisas perdem a importância e as pessoas também enquanto outras coisas e pessoas vão surgindo. Alguns dizem que infelizmente, outros suspiram felizes. Eu não sei. Acho mesmo que a vida é assim. Simplesmente.
Hoje minha aluna fez um elogio à minha roupa. Olhei-me toda e de repente percebi que era a roupa comprada para um jantar especial que ocorreu há um ano. Pulôver lilás, jeans justinho e bota preta de bico e salto finos. Tudo novinho há um ano, bonito no dia, especial para tomar uísque com pessoas importantes… Hoje aquele tempo vai longe, as pessoas continuam importantes, mas agora para os outros, não mais para mim. E a roupa? A roupa virou uma indumentária de trabalho. Bonita ainda, mas já vulgar, porque consigo não carrega a especialidade que ficou presa no outrora de um tempo em que se cria em projetos diferentes.
O cheiro de passado não voltou com a arrumação de hoje. Não houve naftalinas no coração. Só a certeza de que os ossos são mortos. E talvez o presente também o seja. Que importa? Importa que eu estou feliz, que como queijo mineiro e tomo vinho francês em casa… vestida de menina que ainda sonha com um futuro que talvez me traga a paz que eu procuro para dormir aninhada. A ninhada.