Aula Magna

As FJA receberam ontem, dia 05 de fevereiro, José Saja, professor de Filosofia da UFBA para a Aula Magna da instituição. Franzino, ele se apresenta como um homem sem H maiúsculo, reflete sobre o h minúsculo e conclui que, pelo seu tamanho, deve ser mesmo um homem com o, minúsculo mesmo. O interessante é que este pequeno convidado ganha ares de grande e ilustre pessoa à medida que fala, porque, de modo simples e humilde, ensina-nos a viver a escola.

Ele dedicou a 1a aula aos calouros não sem agradecer e lembrar a presença dos veteranos e professores. Provocativo, diante de uma geração desiludida e apática face à modernidade ‘tribalista’, individualista e desprovida de ideais , evocou logo Che Guevara:

” Mesmo correndo o risco de parecer ridículo, todo revolucionário é movido por imenso sentimento de amor”

 e nos lembrou que este amor de que se fala é um arrebatamento, mas, principalmente , uma atitude.

É desconcertante, no cenário moderno capitalista e neoliberal com todo o seu impacto sobre as massas e a educação, ouvi-lo dizer que, se “mil vidas” tivesse, seria mil vezes professor de Filosofia da UFBA. Assusta porque estamos habituados a ouvir os queixumes dos professores, a desilusão que se instalou. A fala de Saja é a fala de um homem realizado, que encontra amor em sala de aula e o distribui também.

Nas suas palavras, que refletem a Pedagogia de Freire, uma sala de aula jamais deve ser uma “cela” de aula. Compreende este espaço como um lugar propício à libertação do ser humano, onde entre as Ciências, a Filosofia e a Arte, constrói-se o cenário no qual o homem pode ser ator – agente – de sua história.

 

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” e o homem sofre, recorda-nos insistente, para recuperar o papel da escola, do professor: na sala de aula, o espaço onde nos encontramos para diminuir a nossa dor.

Margeando a metafísica, convidou-nos a todos a refletir sobre o que estamos fazendo com a única vida que temos. E mais: o que estamos fazendo com a única vida das pessoas com as quais convivemos.

A sala de aula, neste cenário de catástrofes ambientais, de problemas sociais e políticos, para Saja, aparece como uma das estratégias para salvar o homem. Ele lembrou a todos que a faculdade não é o lugar para ganhar dinheiro: “Nós estamos aqui é para mudar o mundo, para inventar um homem novo, uma mulher nova. Tudo na vida vai passar a gente só fica com os nossos sonhos”.

A corajosa reflexão assume ares de denúncia: “no lugar de um professor, muitas vezes, nós temos um impostor (…) o grande problema da juventude é acreditar que há um amanhã”.  

Precisamos ressignificar o nosso tempo, ser feliz, sentir emoção. Temos fome de quê? Temos sede de quê? Vamos nos contentar com qualquer coisa?  “O Capitalismo sobrevive pelo sofrimento das pessoas, forjando a incapacidade, a inutilidade e estimulando a baixa auto-estima”.

Saja convidou todos a se apaixonarem porque o amor move o mundo, a amar uma causa, as pessoas, um ideal; a tomar as rédeas da própria vida e decidir o seu destino. A capacidade, enfim, que temos que desenvolver, é a de segurar os nossos sonhos, de investir na nossa própria vida.

A aula se encerrou com o belíssimo vídeo de Maria Bethânia cantando Comida dos Titãs e O que é o que é ?  de Gonzaguinha.

“E a vida? E a vida o que é diga lá meu irmão… ”

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Saí leve da faculdade ontem, feliz porque há outros que também acreditam.

11 comentários sobre “Aula Magna

  1. Lendo isso só fico ainda mais sentido de não ter ido. Eu, que estava tão empolgado para a Palestra, acabei perdendo. Não só a palestra. Acabei perdendo muitas coisas que eu poderia levar para a minha vida toda. Espero que possa ter uma outra palestra dele e que eu possa estar lá.

    Muito bom o texto, Alena. Abraços e boa quarta!
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    Com certeza, Vinicius, Saja sempre palestra. E, na UFBA, dá aulas todos os semestres. Dá uma passadinha e assiste às aulas dele.

  2. Realmente concordo com Vinicius,belas palavras! Pena mesmo que eu não pude ir. Lições de vida que esse mestre fantástico deve ter dado! Um abraço professora, boa quarta!

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    Aproveite as oportunidades… mas que bom que ao menos leu o texto.

    Beijos

    Alena

  3. Que bonito Alena. Palavras assim são muito importante, porque às vezes, no engole-tudo que é a vida cotidiana, a gente esquece dessas coisas. E magistério é uma das (senão a mais) profissões mais bonitas que existem. Eu até hoje ainda fico com água na boca e pensando, ai meu Deus, porque não fui dar aulas? Beijos.

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    Também acho… e por que não vai? Está em tempo!
    Beijos

    Alena

  4. Alena,
    estou apaixonada por esse cara!
    Obrigada por ter nos apresentado!
    Ele falou tudo o que eu penso sobre ensino, magistério, universidade.
    Mil beijos!
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    Pois é, Meg, fui aluna dele! Também penso estas coisas… Acredito em educação.

  5. “[…]diante de uma geração desiludida e apática face à modernidade ‘tribalista’, individualista e desprovida de ideais[…]”

    “O Capitalismo sobrevive pelo sofrimento das pessoas, forjando a incapacidade, a inutilidade e estimulando a baixa auto-estima”

    Prof., acredito que essa geração acima descrita(primeiro trecho) é fruto do que o segundo trecho descreve. Como ser agente em tempos assim? Esta deve ser a pergunta que muitos jovens se fazem, ou vão se fazer algum dia. Concordo com Saja quando ele coloca a sala de aula como solução “[…]para mudar o mundo, para inventar um homem novo, uma mulher nova.” Entretanto, entendo como sala de aula não apenas aquele hexaedro de concreto que estamos acostumados, mas uma coisa que transcende esse espaço físico. Nós, alunos e professores, temos que levar a ‘sala’ dentro da gente. Levá-la para a vida, para as pessoas…
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    Lindo o que você diz… (clap, clap, clap!)

  6. Prof. Alena, desculpe. O comentário acima é meu (Anônimo – Fevereiro 9, 2007 @ 6:11pm). Tinha esquecido de preencher o “mini-formulário”.

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    ok, Guilherme. Acho um porre estes ‘formulários’… bem que poderiam ser mais simples.

  7. Sorry, one more time. “Mate o homem mas não troque o nome” será que é assim?
    Fiquei feliz por vc ter gostado do que falei. Saiba que senti um pouco disso quando acompanhei (como ouvinte) algumas de suas aulas, pena não ter assistido todas. Culpa da demanda acadêmica ou da minha desorganização pessoal (?).

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    Ahahahha! Desculpe-me! Já consertei. estava fazendo umas três coisas ao mesmo tempo e acabei confundindo o seu nome na resposta aqui no blog porque eu falava com Vinícius no msn na hora. Beijos!

    Alena

  8. Pensamentando sobre Saja creio que ele deva acontecer no meio das pessoas. Numa nuvem de chuva seria uma boa possibilidade: ele deve ser espargido nos roçados, nas florestas, nos arranha-céus, nos planaltos, nas câmaras… e, mais ainda, nos corações áridos, descrentes de que a “pessoa é a coisa mais maior de grande” – parafraseando Gonzaguinha.

    Ademario Ribeiro

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