Mestre Haroldo… e os meninos

Mestre Haroldo… e os meninos  está em cartaz de sexta a domingo às 20 horas na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. A peça de Athol Fugard conta a história de Reri, um adolescente branco filho da dona de uma lanchonete onde trabalham Samuel, um garçom negro de 50 anos, e Valney, faxineiro negro  de aproximadamente 45 anos.

O velho Samuca criou Reri, muitas vezes fazendo-lhe o papel de pai uma vez que este, na verdade, era um alcoólatra inveterado. Estudou com o menino, ajudou-lhe com as lições, empinou pipa e carregou-o no colo nos momentos difíceis. O menino cresce e, adolescente impiedoso, diz impropérios ao velho Samuca, cospe-lhe na cara e exige que o trate por Mestre, assim como o Valney já fazia.

O clímax da peça ocorre em meio às gargalhadas do adolescente que repete ao velho Samuca a piada racista que o seu pai biológico lhe contava repetidamente no lar. A revolta de Samuca faz da tensão grotesca que se forma um momento lírico de libertação do preconceito, da discriminação. Uma lição de moral e amor.  

Gideon Rosa, no papel de Samuca, emociona uma sala inteira e rouba, literalmente, a cena, protagonizando o conflito que Athol Fugard, autor africano, transpôs para o teatro num ato único. Como Mestre Haroldo, o ator Igor Epifânio e, como Valney, José Carlos Ngão.

A peça, ambientada numa lanchonete dos anos 50 na África do Sul, nos remete ao Brasil que também discriminou nas fazendas escravocratas as amas de leite e os pajens. Um Brasil que gerou filhos brancos preconceituosos capazes de humilhar aqueles que mesmos que os criaram na infância.

Ao final do espetáculo, os atores bateram um papo conosco. 

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Conselhos úteis do leitor de Nuno Cobra

– Ô, menina, você tem que rever este seu horário.

– Eu sei.

– Tem que dormir mais, você dorme pouco. E tarde…

– Ai, meu Deus, eu preciso é de tempo para mim. Eu quero dormir.

– Basta você se organizar.

– A questão não é esta. A demanda de trabalho é muito grande. O que eu preciso é ganhar mais e trabalhar menos ( eu e a grande parte da humanidade). Não é fácil se sustentar sozinha e manter as coisas todas.

– Tenho a solução: trabalhe sábado e  domingo.

– Mais ?

Nunca durma à tarde

– Mas o sono da tarde é para repor o mínimo de horas necessárias, já que eu chego às 23h em casa e saio às 6h40 da matina. Ou seja, durmo apenas seis horas diárias.

– Depois a gente conversa, você precisa dormir mais.

– Ai, ai… (quimera)

Ser

Você é aquilo que é.

E mais um pouco do que pensam de você.

Você é a projeção de seus fantasmas.

A loucura de suas desconfianças.

A explosão da revolta adulta que a sua infância impotente não lhe permitiu.

Você é o que o mundo lhe cobra e por isso é também o sufoco de seus quereres.

Eu vi a cara da morte

A cara da morte é desfiguração.

Os olhos ficam embaçados e perdem o viço.

Uma nuvem quer apagar a vida enquanto o corpo ainda resiste,

relutante, a aceitar que  perece.

A névoa apaga o olhar.

Tira-lhe o brilho, tira-lhe as lembranças.

O corpo fenece lentamente, treme um pouco, sua.

Frio, muito frio.

.

Um gemido agoniado,

um revirar de olhos,

um suspiro de quem não queria ir.

É findo. Terminou.

.

Os vasos entopem, o líqüido derrama.

Pinga do corpo estendido: necrotério de sonhos.

Mãe.

Um dia

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Um dia a gente se cansa

de ter sido tantas vezes girassol:

rodar em torno de si,

com raízes fincadas na terra

a mirar um sol que se põe distante

porque ilumina outros planetas.

.

Neste dia, leoa, leonina,

mulher e menina

se descobrem sol,

astro, luz, força, fogo e calor.

E renasce criança, moça de dourados sonhos.

O poder de um pênis

Pênis. Esta foi a palavra mágica capaz de parar por mais de 15 minutos a aula inteira. Falei na palavra pênis. Gritos e risadas incontidas. Compulsão ao riso, à gargalhada, ao descontrole. Barulho de trinta vozes contando histórias, discutindo, falando … E, quanto mais eu falava, mais riso, mais balbúrdia.

O caso foi o seguinte: a aula era sobre leituras do vídeo, cinema e da arte. Então me lembrei de contar o vídeo que vi projetado na sala do Museu Rodin Bahia.  A filmagem é algo interessantíssimo: um líqüido vermelho-amarelo fritando, o dendê. O som do dendê no fogo foi colocado na sala da projeção para ambientar a cena mais ou menos como as exposições de Andy Warhol, e, no meio da liquidez do azeite, percebe-se a subexposição de um pênis ereto.  É místico, mágico e artístico o vídeo.

Mas bastou eu falar a palavra pênis que eu nem consegui explicar mais nada. Pura confusão. Deixei o clima como estava e os alunos gastarem as emoções. Uma parte estava enfadada, mas a outra – a maioria – eufórica. Percebi então o efeito catártico que tinha desencadeado e sugeri-lhes alguns exercícios. Primeiro, que repensassem o que consideravam imoral, pornográfico e indecente. Depois, que lessem Rubem Fonseca (particularmente Intestino Grosso e O Campeonato). Para encontrar um ponto de equilíbrio, que usassem a terapia para a síndrome de La Tourette (coprolalia): falassem, gritassem todos os nomes que conhecessem para vagina, pênis e sexo. Não, eles não toparam, contidos. ‘Expliquei-lhes’ então  que sexo é natural (muitos risos, muito assombro, muita gargalhada) e que a Igreja impôs a inferno, fogueira e guilhotina a idéia de sexo como pecado. Uns olhos se arregalaram ao ouvir que todos os avós e as avós e pais e mães fizeram sexo para que nascêssemos. Pedi-lhes para análise deles que buscassem então no cinema dois filmes de escolha própria sobre o sexo, o erotismo, a sedução.

Não consegui controlar os risos deles, as gargalhadas deles… tudo por causa do poder de um pênis. E falado. Imagina só se visto, tocado, sentido, gozado…

* * *

Glauber ainda me fez conseguir encerrar a aula na faculdade, graças.