O poder de um pênis

Pênis. Esta foi a palavra mágica capaz de parar por mais de 15 minutos a aula inteira. Falei na palavra pênis. Gritos e risadas incontidas. Compulsão ao riso, à gargalhada, ao descontrole. Barulho de trinta vozes contando histórias, discutindo, falando … E, quanto mais eu falava, mais riso, mais balbúrdia.

O caso foi o seguinte: a aula era sobre leituras do vídeo, cinema e da arte. Então me lembrei de contar o vídeo que vi projetado na sala do Museu Rodin Bahia.  A filmagem é algo interessantíssimo: um líqüido vermelho-amarelo fritando, o dendê. O som do dendê no fogo foi colocado na sala da projeção para ambientar a cena mais ou menos como as exposições de Andy Warhol, e, no meio da liquidez do azeite, percebe-se a subexposição de um pênis ereto.  É místico, mágico e artístico o vídeo.

Mas bastou eu falar a palavra pênis que eu nem consegui explicar mais nada. Pura confusão. Deixei o clima como estava e os alunos gastarem as emoções. Uma parte estava enfadada, mas a outra – a maioria – eufórica. Percebi então o efeito catártico que tinha desencadeado e sugeri-lhes alguns exercícios. Primeiro, que repensassem o que consideravam imoral, pornográfico e indecente. Depois, que lessem Rubem Fonseca (particularmente Intestino Grosso e O Campeonato). Para encontrar um ponto de equilíbrio, que usassem a terapia para a síndrome de La Tourette (coprolalia): falassem, gritassem todos os nomes que conhecessem para vagina, pênis e sexo. Não, eles não toparam, contidos. ‘Expliquei-lhes’ então  que sexo é natural (muitos risos, muito assombro, muita gargalhada) e que a Igreja impôs a inferno, fogueira e guilhotina a idéia de sexo como pecado. Uns olhos se arregalaram ao ouvir que todos os avós e as avós e pais e mães fizeram sexo para que nascêssemos. Pedi-lhes para análise deles que buscassem então no cinema dois filmes de escolha própria sobre o sexo, o erotismo, a sedução.

Não consegui controlar os risos deles, as gargalhadas deles… tudo por causa do poder de um pênis. E falado. Imagina só se visto, tocado, sentido, gozado…

* * *

Glauber ainda me fez conseguir encerrar a aula na faculdade, graças.

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