Crime cometido

Rasgar o passado não é fácil, mas é preciso.

Há quem creia impossível. Eu creio nas mudanças que vêm com o tempo. E no prazo de validade que todas as coisas têm. Inclusive nós, seres humanos perecíveis.

Inquietações de saber-me pesada com tantas recordações: âncoras a me prender na projeção futura e necessária. Cortar os grilhões, rasgar os papéis rabiscados de tintas. Em minhas mãos lavadas a todo instante, poeiras que carregam o sangue de um passado tão vivido.

Sentei no chão de meu quarto, abri a pasta rosa, passei os olhos neste e naquele bilhete, cartão ou carta quilométrica ou expressa. É hoje apenas papel e rasguei-os todos sem dó nem piedade, mas sentindo um peito afobado e um passado que de mim talvez teimasse não sair. Quisera eu a metáfora perfeita de um escravo alforriado que ainda não sabe se teme mais o que passou ou o que virá. O que já foi não é mais. E nem eu queria que assim fosse.

Por outro lado, parece que me ver diante da que eu era há tempo me conduz ao conflito óbvio. Cartas e mais cartas e mais cartas de amor rasgadas, palavras que hoje perderam a coesão com suas companheiras de linha, rasgadas que foram. Agora, estão compatíveis com as emoções que há muito perderam o sentido, a lógica, a razão.

Fotos ainda registram o que não existe mais e nem o amarelar do tempo talvez apague tudo. Não. Não apagará. Mas há de esmaecer. Assim é. Assim será. É preciso mais tempo. Mais disposição para não se saber a si mesma, para deletar-se de si, desconstruir o que é memória apenas e apenas isso deve ser. Recordações.

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Vamos ao lixo!

Bom dia para futucar as pastas arquivadas do passado e descobrir notas fiscais de viagens, panfletos, recados, guardanapos de restaurantes bons, memórias do passado que precisavam, simplesmente, ser deletadas. Sabe que o interessante é descobrir quanto dinheiro você já gastou na vida? E olhar até com outros olhos para o seu consumo em besteiras que a estão impedindo de viajar de novo. Ai, ai, como eu preciso sair do país de novo!

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Ainda não me desfiz de todas as pastas com arquivos de apostilas que fiz ao longo de meus 15 anos de profissão, mas prometo a mim mesma ‘deletá-las’. É que, quando se é professora, as demais pessoas não fazem idéia de como a gente vira arquivo ou museu. É papel que dá para fazer uns milhares de blocos de rascunho. Mas foi tudinho para a reciclagem. O pessoal de lá que faça algo útil. Aqui em casa não dá mais. Repassei o olho em todos os livros e só consegui subtrair 20 exemplares da estante. Pode?

Hora certa de cuidar de si

Toda hora é hora, mas neste momento particular, estou centradíssima nesta questão.

Passeio no shopping para espairecer. Encontro com as amigas para refrescar a alma. Compras de pequenos mimos pessoais. Reforma da casa. E da vida. Repensar da profissão. Busca de outros horizontes. Lixo para o que não me serve mais. Limpeza do msn, da caixa de endereços do outlook, dos contatos do orkut. Papéis fora.  Lâmpadas trocadas em casa.  Despensa abastecida. Mousse de goiaba pronto na geladeira. Freezer arrumado. Receitas a postos. Carnes e recheios a serem preparados. Menu e cardápio para a próxima semana prontíssimos. Gavetas arrumadas. Livros a serem doados.

etc.

Com licença que eu vou à ginástica agorinha.

São João

Em 2005, tive a oportunidade de passar o São João em São Paulo. Nunca vi nada mais triste. Simplesmente, fiquei a ver os tons de poluição ( lindos ) enquanto o sol se punha. Nadica de forró, nadica de festa. Depois é que eu descobri que os nordestinos do Brás faziam a maior festança.

Que saudade então do meu Nordeste.

Ano passado, estive em Salvador, mas no auge de uma deprê, resolvi ficar quietinha em casa sem muitas peripécias. O máximo que arrisquei foi ir à fazenda de meu primo em Pojuca.

Neste ano, ainda não sei o que virá. Mil festas e animação, mas São João que vale é acompanhado. É a festa mais namorado que existe. Dançar com qualquer um não faz o meu estilo. Delícia mesmo é estar acompanhada do amor no friozinho dos interiores da Bahia a comer milho, amendoim e a tomar licor enquanto os fogos espocam no ar.

Ano passado, fui ao Pelourinho e ele estava lindinho com esta decoração: meio São João meio Copa do Mundo. Os bonecos gigantes estavam uma gracinha. Amanhã de manhã, se fizer sol, vou ao Pelourinho tirar umas fotos, ver se a prefeitura cuidou de decorar o espaço para os festejos juninos neste ano.

Censura parcial

Juro que não consigo entender a censura do Comitê Olímpico Brasileiro aos blogs de atletas brasileiros que nos representarão no Pan-Americano. Os atletas não poderão publicar fotos, vídeos nem áudios produzidos durante as competições para  evitar ‘ferir a imprensa’ que pagou para noticiar e nem ganhar dinheiro com patrocínios comerciais em seus blogs.

Controle autoritário: se a moda pega, o que será de nossos blogs?

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Leia mais aqui.

Árvore genealógica

  Este charme de trisavô é o pai do pai de minha avó Neyde Freire de Carvalho.  Ah, dá uma olhadinha no link da Câmara Municipal de Salvador.

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“Nome Completo: Carlos Augusto Freire de Carvalho
Profissão: Médico
Data de Nascimento: 29 de Agosto de 1857
Filiação: José Eduardo Freire de Carvalho e Emília Adelaide Freire de Carvalho
Cônjuge: Estefânia Espinheira Freire de Carvalho (1º esposa)
Ernestina Espinheira Freire de Carvalho (2º esposa)
Obs: Ao ficar viúvo casou-se com a cunhada.

Filhos: Alberto, Estefanote, Alexandre (este aqui é o meu bisavô!), Aurélio, Orlando, Adolfo, Alice, Maria da Pureza, Maria José, Julieta, Armando, Mário, Aylton, Jaime, Carlos Augusto Freire de Carvalo Filho
Falecimento: 14 de junho de 1931

Formação Educacional:
Aos 18 anos matriculou-se na Escola de Marinha no Rio de Janeiro, cujos estudos foi obrigado a abandonar por ter sido atacado por Febre Amarela. Voltando a Bahia fez o curso de farmácia e depois o curso de Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, concluindo o curso em 1887 com a defesa da dissertação: Considerações acerca da eclampsia e o seu tratamento.

Atividade Profissional:
Foi Médico da saúde pública, onde tomou parte ativa no combate as epidemias de Febre Amarela e Varíola na sua fase mais ativa.
Nomeado preparador da carreira de Terapêutica da Faculdade de Medicina, cargo que exerceu por mais de 10 anos. Dedicação a Clínica Humanitária, especialmente nas Freguesias da Penha e Mares. Militou na Imprensa como repórter, e redator nos órgãos do Partido Conservador, e Estado da Bahia, e a Gazeta da Bahia, cujo diretor era o seu Pai, o Cons. Freire de Carvalho.
No Governo Washinton Luís, por indicação do seu amigo Dr. Otávio Mangabeira, foi nomeado Presidente do Conselho Administrativo da Caixa Econômica Federal da Bahia até o seu falecimento.

Atividade Política :
Como médico humanitário nas freguesias da Penha e Mares, logo se tornou um dos mais fortes chefes eleitorais desta capital. Seu reduto principal era o da Pedra Furada.
Em 1908, como vereador, assume a presidência do Conselho Municipal de Salvador, exercendo esta função até 1911.
Foi senador estadual 1912
Foi Deputado Estadual e Presidente da Câmara Estadual durante 4 anos

© Câmara Municipal de Salvador, Praça Tomé de Souza – Salvador – Bahia – Brasil
C.E.P.: 40.020-010. Tel.: (55+xx+71) 3320-0100

Criado por: Marcio Oliveira / Dmitry Rocha “

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Estou agora envolvida em fornecer dados aos pesquisadores primos. Até mais. 

Um homem só

A toada da canção entristece tudo … As bolsas sob os olhos parecem hoje ainda mais fundas, mais inchadas… Na moldura de um rosto másculo, os fios envelhecidos de uma barba por fazer quase grisalha. As marcas do tempo se percebem ainda mais nitidamente quando o olhamos varando os limites do físico e adentrando sua alma.

Tristeza. Solidão. Frustração. Certezas de ser só.  

O homem maduro, cansado da livre existência, mais uma vez constata o fim do romance que quisera eterno. Que faltara? É sempre assim. Despedaçado, passa os olhos pelo quase nada de pertences que lhe restam. Livros, roupas, discos, um som e … meia dúzia de itens mais. Que sentido há em querer os demais objetos ou móveis? Tudo pode ser refeito. Tudo.  

De relance, olha a estante repleta de livros e os sapatos na prateleira de baixo militarmente alinhados. Pode-se entrever uma sombra de solidão em seus olhos. Calado, caminha em direção ao quarto. Na cama, a mulher que fora sua até tão pouco tempo. À vontade, deitada está entregue ao deleite dos lençóis macios. Com certeza ela cheira. O doce cheiro de uma mulher…

Tira os olhos de cima do seu corpo, respeitoso pelo fim do relacionamento e , sozinho, fecha o armário de roupas ainda ocupado pelas suas camisas . Uma peça fica um tanto de fora e, delicadamente, com os dedos alisa a manga da camisa pra dentro da porta sanfonada. Nesse ritual tão mudo, parece querer entender os cuidados que outrora deveria ter tido. O silêncio está em sua alma, enche o seu corpo de vazios, corta a sua existência inteira. Tímido e silente, o adeus quase sussurrado ecoa entre as paredes que de tantos sonhos foram testemunha. 

Este homem é grande. Mas tão pequeno agora…