Quando eu era pequena, pedi a minha mãe que comprasse espinafre lá naquela seção de hortifrutigranjeiros, palavra que eu achava a coisa mais maluca do mundo – levei um tempão para entender esta aglutinação. Ela estranhou e disse que não, que eu estava inventando moda. Mas sempre fui ladina na argumentação e aquelas aulas de ciência valiam para dizer que criança tem que comer folha, fruta e verdura. E eu repetia direitinho o argumento.
Minha mãe comprou e fui para casa sob a ameaça: tem que comer tudo que tem criança por aí no mundo passando fome e meu dinheiro não é para se jogar fora.
Fui feliz para casa carregando o saco do Paes Mendonça. Planejava o alimento de uma vingança maquiavelicamente articulada.
A empregada lavou tudo e fez a salada, que eu comi alvoroçada, sem achar muito gosto na folhinha, mas saboreando a desforra. Fui para a sala, provoquei-o e fiz o muque. Nada. Não cresceu nem um pouquinho o bíceps nem o tríceps. Dei-lhe um murro no braço e recebi outro que doeu. Meu primo da mesma idade era ágil, menino ( e só as meninas sabem o que isso significa nestas províncias machistas) e batia em mim que era uma beleza.
Decepcionada, lavei uma lata de leite condensado e coloquei todo o espinafre do outro dia dentro para ver se era assim que fazia efeito. Nada também. Apanhei de novo.
E foi assim que eu descobri o que era ficção. Nunca mais dei crédito ao marinheiro.