Fotos: Alena Cairo
Eu sempre fui apaixonada por carros. Sim. E não deixei de ser mulher por causa disso. Detesto generalizações, embora confesse também incorrer em algumas vez ou outra: é a força da cultura nos traindo.
No shopping Salvador, recentemente, houve uma exposição de carros antigos. Daquelas pessoas que curtem muito automóveis e passam a vida a exibir o que resgataram dos tempos idos: verdadeiras jóias que – se não possantes pelo motor desta ou daquela cilindrada – são possantes pela sua história e pelo que representaram na época.
Fotos: Alena Cairo
Eu adoro exposições de automóveis, eu adoro carros antigos e atuais. Curto muito dirigir um carro, o meu carro. Nestas horas, sinto-me senhora de mim mesma e recordo prazerosamente com o pé na estrada que muitas mulheres – gerações inteiras – não puderam ir e vir. Hoje eu posso e celebro esta conquista.
Fotos: Alena Cairo
Dirigir me dá a noção de ir e vir, este direito constitucional e universal que todos temos, mas muitos esquecem. Dirigir me dá a sensação de que posso tomar outra estrada, aprender novo caminho, escolher espaços diferentes na vasta geografia da Terra. Ou da minha Vida. É a metáfora do assumir o controle, do curvar e seguir reto quando necessário.
É por isso que sinto muito quando mulheres escrevem textos nos quais associam os carros apenas ao universo masculino, ou pior: quando os limitam aos ‘patriarcas’, estigmatizando e estereotipando ainda mais as mulheres.
Fotos: Alena Cairo
A autora seria capaz de repetir a máxima: “mulher no volante perigo constante”?
Perigo sim!
Mulher no volante: perigo porque assume o controle, decide onde vai, pode escolher inclusive abandonar um casamento que não a satisfaz ou a deixa feliz. Mulher no volante pode ir ter com o amante. Mulher no volante pode desvendar o universo masculino, pode empatar com o homem na liderança, na atitude de escolha, na descoberta de caminhos e na opção por eles. Mulher no volante era um perigo porque ela não deve(ria) saber onde o homem estava, onde se escondia ou onde se achava.
Frase mantenedora DOS COSTUMES DE OPRESSÃO à mulher, de REFORÇO da sociedade patriarcal, de EXCLUSÃO do gênero, de SABOTAGEM da vontade feminina de assumir o controle de sua história.
Mulher no volante pode mudar de direção. Este era o problema. E o perigo constante.
Fotos: Alena Cairo