Amigo oculto ou presente designado

Eu confesso que não consigo aceitar a prática que anda se espalhando entre os jovens. No Natal e em outras épocas comerciais, como a páscoa, inventa-se o amigo secreto. Legal fazer amigo secreto, dar a oportunidade a alguém de me presentear e a mim mesma a oportunidade de presentear também. Escolher presentes é uma das coisas mais gostosas de se fazer. Pensar no outro, escolher para o outro, doar ao outro.

O caso é que aqui é costume inventar amigo secreto de presente determinado. Ou melhor, com presente encomendado. Nesta semana, por exemplo, estão acontecendo, em quase todas as salas de aula, amigos secretos de ovo de páscoa. Cada participante escolhe a marca, o tipo, o tamanho e se o chocolate deverá ser branco ou preto. Ora, quem quiser ganhar um ovo x, do tamanho y e das características z… que vá ao comércio e o compre!

Trocar dinheiro? “Só valem ovos entre R$15,00 e R$20,00”, “Todos têm que ser número 16″… me deixem.

A mesma coisa é um tal de amigo secreto de sandália havaiana. A pessoa escolhe o designe, a cor, o tipo e faz a encomenda a alguém que só vai chegar à loja e pagar. Eu não participo destas trocas. Eu não gosto delas.

Há quem participe, não receba o que PEDIU e saia ainda chateadíssimo porque gastou o seu dinheiro e não ganhou o que quis. Até assembléia para decidir o que fazer com o revoltoso que não comprou o que a lista indicava eu já vi acontecer. De novo: quem quiser suas coisas que as compre.

Dou presentes aos meus amigos, escolho com detalhes, penso na pessoa. Depois saio feliz por tê-los agradado e assim me sinto quando recebo gentilezas de quem gosta de mim. Trocar dinheiro só no câmbio, se eu for ao exterior.

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O dia do saco preto

Gente , quando morre, recebe um lugar na terra e vai embalada em um caixão às vezes simples, às vezes pomposo… a depender da situação econômica. Dizem que indigente nem caixão recebe, vai embalado no saco preto para o seu calvário que nem pós morte tem fim.

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Semana passada, quase eu breco o carro a 80 km num ato reflexo em plena avenida Paralela. Voltava da faculdade à noite e, ao passar pelo memorial Luís Eduardo Magalhães, tomei um susto daqueles…

É que em tempos de pai vivo, havia flores novas todos os dias a enfeitar uma estátua que o homenageava e, no local onde se diz que colocaram o tal do coração do homem, havia sempre dois policiais civis a tomar conta para que vândalos ou pombos ou sabe-se lá o que mais não pertubasse a paz da estátua que estava em pé eternamente em berço esplêndido.

Pai morto, outro rei posto. Ou reis. Já dizia Camões : “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. O fato é que os herdeiros andam aqui pela Bahia se digladiando pela dinheirama e a mídia está repleta de escândalos, rachas, achismos, conjecturas e… fatos.

Semana passada, o novo governador parece que atinou… qual era a estátua de Salvador que recebia vigilância 24h diárias? Nem Vinícius, sozinho lá em Itapuã nem Jorge Amado lá no meio da praça do Iguatemi nem o caboclo lá no alto do Campo Grande… tsc tsc tsc

E Wagner suspendeu o uso da polícia como mantenedora da paz da estatueta, devolvendo seus dois homens à paz estatal.

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As flores continuam. Eu não sei quem as paga. Deve ser ainda a fortuna do pai. A grande fortuna do pai. Que eu também não levanto hipótese para saber como se multiplicou tanto. Deve ter sido pelo seu trabalho.

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O caso do saco preto é que me intrigou. Era 22h40 de um dia de semana qualquer e eu voltava distraída da faculdade quando vi uma grande lona preta ou um conjunto de sacos pretos amarrados no monumento. Neste mesmo, no monumento ao filho do homem. A estátua estava toda embalada em um saco preto ou o que parecia sê-lo.

Não entendi, não compreendi, não vi notícia, não vi comentários e, somente 24 horas depois, já estava lá de novo a estátua reluzente , guardada por dois seguranças particulares, de roupas simples e mochila igualmente.

Só pude pensar que no tempo do pai isso jamais aconteceria. E que os tempos mudam (ainda bem). O enigma talvez não seja solucionado . Mas que me intrigou, ah, isso me intrigou. Fiquei estupefacta. Nunca havia visto estátua nenhuma embalada, ainda mais daquele jeito, em plena praça pública por assim dizer.

Up date: Segundo um transeunte, a estátua estaria em reforma e por isso foi embalada.