Fazer um bolo

Há quem banalize tudo, até a própria existência. Há quem esqueça a mágica diária, quem se perca em pedaços de si, em retalhos dos outros, em migalhas soltas pelo vento das intempéries da própria vida.

Fazer um bolo requer amor, requer plenitude, requer doação ao outro. Requer você inteira. Sim, porque os bolos não se fazem nas indústrias ou megapadarias com suas batedeiras gigantes. Ali se faz farinha de trigo enriquecida com açúcar, assada com fermentos químicos, gorduras hidrogenadas e pirofosfato de sódio. Isso tudo pronto e embalado dá às pessoas apressadas que nem têm consciência do próprio existir, imersas que estão no frenético dia-a-dia , a falsa impressão de que se alimentam no café noturno ou no lanche da tarde. Elas comem, devoram sem sentir os pedaços açucarados da massa sem sentido. Embrulham-se. Embromam-se.

Não, a indústria não é capaz de fazer um bolo. Nem o supermercado. Fazer um bolo requer tempo. Um tempo que não será imperativamente tido com o desperdício de dinheiro. Requer um tempo investido. Um tempo para si, para o outro, para a família. Um tempo para os amigos.

Um bolo se faz com a carícia do sorriso ao pensar nos queridos a degustar consigo aquele pedaço de ternura oferecido ao outro. Um bolo se faz com o açúcar do AMOR, com a antevisão da gulosa faca ou espátula a partir o pedaço fofo de si que foi oferecido, partilhado, festejado ou, simplesmente, convivido.
Um bolo se faz com o frio na espinha do forno quente e a apreensão de que dê realmente certo. Sim, porque quando o oferecemos, queremos de nós dar o melhor. Porque amamos.

Um bolo se faz com preenchimento da alma e certezas de carinho. O “hummm” de satisfação interjeitiva que invade a nossa corrente sanguínea e suaviza os males do mundo. Ajuda-nos a viver.

Ontem eu fiz um bolo.

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10 comentários sobre “Fazer um bolo

  1. Tá bonito esse bolo hein? Fiquei com vontade!
    ô Alena, a condução que você deu ao seu post me lembrou a filosofia da Gestalt..você já leu sobre? Me lembrou também que no Instituo Gestáltico da Bahia vai ter uma palestra/vivência sobre “Ritos e Ritmos” que foca exatamente nisso..em “estar” se doando aos pequenos momentos, escovar os dentes prestando atenção a escovar os dentes e não seguir pensando em como vai ser o dia, que blusa usar etc..
    Qualquer coisa, se você se interessar, me diz.

    Um beijo grande. Aliás, dois. ;]

  2. Ah, não sabia que pra fazer bolo precisava de tanto chamego. Mas bolo é bom. Cozinhar é uma terapia, né? Não tem lugar mais gostoso (e digo gostoso em todos os sentidos) em casa do que a cozinha. Diga se eu tô mentindo?
    Pra falar a verdade, até sabia que pra cozinhar precisa de chamego, amor, uma paaaaz… Se for cozinhar enquanto pensa nos problemas a comida fica carregada, acho que o sentimento passa pra ela, ela pega o gosto, o tempero, o cheiro, pega tudo de você. Pra cozinhar é preciso entrar na cozinha e deixar tudo de ruim da alma do lado de fora. E acho que isso combina bem com gravidez. Qual grávida não gosta de chegar em casa e deixar todos os problemas do lado de fora, pra ficar só olhando a barriga e pensando na vida que tá ali? Aproveita essa fase da sua vida que é boa, não tem coisa mais impressionante no ser humano, digo, nos animais, do que a gestação. Pra quê prova maior de que Deus existe (e de que é muuuuito bom) do que o fato de podermos gerar uma vida e nutri-la durante nove meses até que ela esteja pronta pra vir ao Mundo? Pra mim não existe! 🙂

    Deixe eu ir que tenho pressa, mas volto depois pra olhar mais um pouco e ver se você descobre entre todos seus alunos este que vos fala!

  3. Oi Alena! Depois de muito tempo apareci para conhecer seu cantinho, e que delícia de texto, que delícia de bolo. Você esteve no meu CumulusNimbus postando um Meme… agora que terminei o mestrado, estou retornando o carinho dos amigos. Um beijo. (www.breviario.org/cumulusnimbus)

  4. Oi Alena,
    como vão vocês ?
    Espero que bem.

    Olha, confesso que cheguei em casa nesse exato momento
    verde de fome… e me vem você com esse bolo reluzente.
    Me ocorreu uma certa inveja, por segundos..
    depois me convenci do puro prazer de comer um misto simplório.
    Hhehehehehe…
    Mas lhe digo, que amor existe em toda parte.
    As coisas feitas com amor são as melhores… digo isso,
    porque tudo que a minha mãe faz é sempre uma delícia. ( Não é com Sazon, ok?)
    E quando dou uma de gourmet, me enfio na cozinha e tento misturar
    tudo com um pouco de carinho, até que as vezes acerto..

    Enfim, guarda um pedaço pra mim ok?

    Um beijo!

    “Jami”
    Como você diz.

  5. faça um curso de fotografia
    _____________________________

    É uma ótima idéia! Mas este não é um site de fotos… E quer saber? Adorei minha foto e meu bolo. E isto basta.

  6. O mais importante, creio, é que você fez o seu bolo… e, ao que parece, o fez com a delicadeza dos bons sentimentos. A foto do dito bolo, certamente, é um convite a saboreá-lo… hummmm !!!!!

    Que pena! Os bolos de padaria, as tortas impregnadas de cores químicas nas confeitarias, é o que temos hoje.

    Ainda bem que ainda existe gente simples, que as sutilezas da vida e tem muito bom gosto.

    Parabéns pelo bolo e pelo sentimento.

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