Sem novidades

A pessoa mais sem novidades sou eu. E isso me deixa incomodada. Nunca mais tive tempo para acompanhar escândalos políticos. Por isso não os comento. Se uma guerra estiver ocorrendo e uma mobilização gigante no mundo estiver armada, também estou por fora. Nada de jornais, nada de noticiário, nada de informação on line. No máximo, leitura corrida de e-mails.

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Nos últimos tempos, apenas a chatice ( e ninguém venha me dizer que é legal) de corrigir provas e mais provas. Fardos enormes. Envelopes que se multiplicam. Mas isso está acabando.

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Faz tempo que não viajo. Faz tempo que não vejo outros mundos. Faz tempo que não tenho tempo direito. Faz tempo que minha vida não é rica. Não sei bem por que tive a idéia de jerico de trabalhar demais neste ano. Deve ter sido pelo dinheiro. Mas, mais uma vez, comprovei que quem trabalha demais não tem tempo de ganhar dinheiro. Nem de planejar gastos. Nem de ser feliz. Nem de gozar do que tem.

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Então, se a natureza não tivesse me dito para parar e ser mãe, assim, de forma meio impositiva, “cometa um deslize e eu a engravidarei”, tenho certeza de que, no próximo semestre, eu trabalharia bem menos. Já fiz isso mais de uma vez em doze (a 15) anos de profissão. Da última, em 2005, quando dei aulas para apenas três turmas, fui para a Grécia, vivi meio em Salvador meio em Sampa e mandei tudo para aquele lugar sonoro e bom de falar.

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Cansei. Cansei mesmo. Quero ser eu mesma de novo. Recuperar minha alegria e vontade de viver e de descobrir o mundo.

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Tem gente que fica me agourando, falando das horas sem dormir por causa da bebê. Em anos como professora, quero saber quantas noites de verdade eu dormi. Porque a gente só faz corrigir provas e vira madrugadas. E ainda está “cuidando dos filhos dos outros”. Fora estas questões, quem foi mesmo que inventou de no Brasil as aulas começarem às 7h da matina? Isso, muitas vezes, significou para mim levantar às 5h30. E os 200 dias letivos? O idiota que pensou nesta “qualidade total” esqueceu-se de que QUANTIDADE NÂO GARANTE QUALIDADE ?

(Portanto, repito a todos, mesmo cansada, mesmo ouvindo chorinhos, mesmo sem dormir, vai ser um prazer enorme cuidar da minha filha. Mudar o foco. )

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Há muito tempo disserto: feriado existe só para professor corrigir provas e ter tempo de entregar tudo. E o recesso do meio do ano é para os bestas não desistirem da escravidão diária. No fim do ano, vem décimo para iludir e deixar todo mundo ‘felizinho’ , pensando que vale o sufoco. Ei, hellooooooo! Atenção professores, qualquer trabalhador com carteira assinada ganha “décimo”.

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E este não é um post amargo. É antes um desabafo.

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Gosto de dar aulas. De estudar . De planejar. De criar. Mas queria fazer isso meio que de forma filantrópica, sem ter burocracias ou salário ou empregador por trás de tudo. Ou talvez como era na Grécia Antiga.

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Que saudade de minhas viagens.

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