Quando você engravida, prepara-se para tudo, menos para o que acontece de verdade. É que nenhuma mãe de primeira viagem tem a mínima noção do que é ser mãe. E não venham me falar que tem. Não tem. Não adianta ter parentes próximos com filhos recém-nascidos, não adianta ter sido babá, não adianta ter mil sobrinhos, não adianta ter visto filmes e tais… Com o seu filho é diferente. Ser mãe é diferente de ser tia. É diferente de ser avó. De ser babá. De ser enfermeira. De ser pediatra. de ser médica. de ser esclarecida. De ter pós-graduação. Nada, mas nada mesmo, pode se comparar a ser mãe. E só sabe quem viveu a experiência.
A sensação que eu tive era a de que estava num programa reality show de mau gosto, do tipo “No limite”, “Alta tensão” ou coisa assim.
O tempo inteiro eu pensava em desistir, mas já estava no meio de um furacão sem volta. É. E não queria voltar. Gostava de ser mãe. Gostava de ter a filha nos braços. Gostava da nova fase. Mas foi um surto.
Primeiro, que nenhuma mãe de verdade dorme. Não adianta. A não ser que você seja chique ou famosa, tenha um séquito de babás hiper treinadas, mãe e avós disponíveis, muito dinheiro para pagar o séquito e um pouco menos de disposição para a abnegação.
Em segundo lugar, mãe nenhuma deveria receber alta hospitalar no terceiro dia, exatamente quando começa o terrível período da apojadura do leite. Esta é mais uma prova contra a nossa sanidade mental. Não é humana. É animal. Seu peito incha, endurece, racha, você tem calafrios, febre e… tem que passar ainda uns cinco dias neste estado, com um bebê se esgoelando de chorar, pensando onde é que você está errando e, simplesmente, não está errando, é assim com todo mundo. E ninguém nos avisou disso. Se avisou, nós não mensuramos corretamente, simplesmente, porque não tínhamos como ter a menor idéia do que é ser mãe. A não ser sendo.
Em terceiro lugar, a vida continua PARA TODA A HUMANIDADE e você vai passar a primeira semana sem saber se choveu ou se fez sol, se houve guerra atômica ou não, se a bolsa caiu, se o dólar aumentou, se há dinheiro em sua conta, se houve mais ou menos acidentes, se x, se y e se z. Não. Não é metáfora. eu não sei se choveu ou se fez sol. E mais nada além do xixi, do cocô, do peito, da madrugada emendada no dia e tal. Só.
Em quarto lugar, você tem uma saudade imensa do seu marido, vontade de dormir agarradinha com ele, abraçada, de fazer carinho e de se sentir amada… mas o bebê não deixará absolutamente nenhuma vírgula de espaço para você.
Em quinto lugar: você não toma banho direito e nem tantos quanto quer, você não escova os dentes todas as vezes que gostaria, você sente um calor insuportável ao amamentar, você não tem tempo para pentear os cabelos, os pêlos do corpo crescem todos e nada de depiladora, a unha vai vendo o esmalte ficar velho, velho, velho… e ela vai crescendo, crescendo e você tem que dar um jeito em casa mesmo… é. A coisa é braba.
Em sexto, sua casa se enche de pessoas queridas, mas numa hora totalmente inadequada, quando o que você mais queria era simplesmente ficar quietíssima em seu canto até entender o tsunami que a tirou de sua vidinha pacata de antes.
Isso tudo se passa quando o peito dói e o bebê chora sem parar muito alto. Ah, e quando os pontos ainda incomodam demais.