Talvez sejam resquícios do papel da mulher no passado, mas a imagem da mulher costurando é um ícone em todos os tempos. Mãe costura. A mãe costura as meias dos filhos, faz as bainhas das calças e prega os botões das camisas do marido.
Mãe dá um ponto no que descostura. Mãe cerze os paninhos. Faz até lençol. E , muitas vezes, roupinhas de boneca. Ao menos era assim.
Eu nunca acertei dar um ponto sequer. Não que tivesse problemas com agulhas, aliás, sou craque desde pequena em passar a linha pelo buraco. Acho que foi desvio intelectual mesmo o que me afastou das linhas e dos carretéis.
Na adolescência, revi o papel da mulher e, se a geração que me antecedeu plantou em nossas cabeças a rejeição à imagem feminina como era dantes, eu comecei a redescobrir o lirismo dela. Vi minhas avós costurar a vida toda. E, embora já fosse em meu tempo coisa de vó, era algo muito bonitinho de olhar, útil por demais e, além do mais, artístico. Cada bordado!
Comecei a me sentir uma mulher inútil porque não sabia bordar. Veja! Então lancei mão do desafio aos 20 anos : peguei uma das revistas de minha avó, pedi a ela que me ensinasse e escolhi o desenho mais complicado. É, eu tenho destas coisas. Se fizesse o complicado, faria qualquer outro depois. Foi um anjo cheio de tons diferentes para dar o sombreado no corpo. Lá pelas tantas, errei uma linha no meio do corpo, mas refiz as proporções e meu anjo acabou com uma linha a mais na barriga. Imperceptível.
Minha avó deu a nota e criticou, disse que o avesso não estava perfeito. Ah, se fiz o direito, o avesso não importava. Depois disso, bordei umas maçãs na toalhinha de mão. E me achei a própria. Para nunca mais bordar. O desafio estava vencido.
Vivi bem então, não sem umas nostalgias do tempo em que eu bordei e da vida de bordadeira que eu não tive.
O caso é que, depois que eu virei mãe, me deu uma vontade louca de costurar. Um desejo incontrolável. E comecei a pensar na velha singer.
Esta semana fui visitar o representante aqui na cidade e acabei de escolher o meu presente de dia das mães.
A campanha está lançada, vamos ver no que vai dar. Que venham as linhas depois. E os paninhos.