Morrer ou não morrer, Hamlet?

Durante um tempo de limbo muito grande, fiquei a pensar se matava ou não este blog. Não que a minha vontade fosse realmente esta. Foi algo assim, meio como uma depressão: vai se instalando aos poucos e quando nos damos conta, já se apoderou de nós.

É que eu passei a ser perseguida por uma censura interna que nada tinha a ver comigo mesma. Cobranças afetivas e excesso de críticas intimidativas. Então a gente vai vestindo um véu de anulação e prevendo o que cada palavra vai causar. E isso trava. Apaga. Exclui a palavra. Um saco completo para quem gosta de escrever e quem sente que a escrita deve ser fluido.

Associada a este problema a situação de mergulho na maternidade que nos faz desfocar de nós mesmas, entender a alteridade real: antes de ser mãe tal dimensão compreensiva não é  tão bem alcançada.

Ter um filho projeta a mulher para fora de si.

E o blog foi ficando meio mãe e comecei a questionar o que realmente era importante para escrever.  Isto é um sintoma da crise: antes dela, qualquer coisa era pauta: o vinho aberto na solidão solteira ou o encontro com o amor que morava ao lado, o livro degustado ou o filme de consumo barato. A música romântica e a Lua no céu.

E meio que me perdi de mim mesma. Coração em parafuso, crise profissional, desestímulo com o mundo e o abalo que Alice representou na minha vida com a sequela de um questionamento sério de quem realmente eu era. Um filho nos faz aparar as arestas, cortar o supérfluo, abandonar o irrisório, jogar no lixo os acúmulos de anos, sejam eles emocionais ou materiais. Desejar o grande e admirar o pequeno. Sonhar diferente.

* * *

Sabia que o parto era um rito de passagem, sabia que naquele dia 13, eu morreria para nascer outra. Não fui incauta. Recém-nascida como mãe, fiquei sem enxergar direito um mundo tão óbvio. Fiquei sem falar como quem ainda descobre a fala, fiquei sem chão como quem ainda não anda. Fiquei só como só um órfão é capaz de se sentir. E, obviamente, fiquei mãe, descobrindo-me em meus limites e em meu melhor.

A crise trouxe muitas questões. Entre elas, o sentimento de que ser mãe é muito mais que “ser mãe moderna”(leia-se mulheres desesperadas que juntam mil tarefas no seu coração assoberbado e no seu corpo exaurido). E eu quis me dar um tempo para me descobrir, para nascer como nova mulher. Para nascer ao lado de minha filha.

Saí do trabalho, dediquei-me como pude ao meu bebê. Arrependimento zero, exceto pelo mau planejamento financeiro que envolveu “expectativas irreais”.

* * *

Muito de mim eu redescubro, em conquistas e reconquistas sucessivas e tímidas, quase dois anos depois, saindo de uma crise fdp. Muito de mim me causa saudade. Muito de mim eu desejo ardentemente. Outro tanto enorme eu descartei.

Minha dúvida por enquanto é se toda esta inauguração de uma nova pessoa, de novas perspectivas e alguns outros interesses deve ser compartilhada em outro espaço, se deve permanecer aqui como parte de um todo fractário que se constrói em retalhos alinhavados ou se devo, realmente, sair de cena.

Não, não sei sair de cena. Mas morre o a vida em palavras e nasce outro? Que nome teria? Ainda não sei. Tudo me soa inadequado. Faltam nomes.

*  *  *

O assunto neste tempo todo não desapareceu, mas eu o senti pessoal demais. Calei portanto. Medo das pessoas. Justo eu.

***

UP-date:


diga ao mundo que fico. E volto revigorada desta vez. Parece que os deuses andam sorrindo para mim.

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