Freela de última hora. Urgente. Ainda pedi meia hora para dar a resposta. Obstáculos mil. Iria desistir. Pensei: se fosse antes, aceitaria? Sim. Aceitei então.
Uma hora e meia na estrada. Vinte minutos de burocracia para entrar. Desci um elevador desnecessário – a escada era mínima – ô conforto da atualidade! E vi o que há muito não via. Há muito, muito tempo mesmo.
Uma equipe inteira de funcionários entusiasmados. Muito entusiasmados. Muito eufóricos, muito alegres, muito … entusiastas. A maioria esmagadora de mulheres. Felizes pelo evento, felizes pelas condições de trabalho, felizes pela premiação que recebiam a todo e qualquer esforço fora do óbvio padrão. E confesso que fui aos poucos me tomando por aquela alegria toda, por aqueles sorrisos todos, por aquela simpatia emanada.
Havia percalços, sim. Era óbvio. Foram dirigidos, discutidos, levantados como meta a ser superada. Explanados. E elas eram valorizadas, e a música falava de amor, falava de bem-estar, convidava a dançar. E os prêmios eram bons, eram bonitos, eram desejáveis. E o reconhecimento acontecia.
Em troca, todos trabalham para consolidar um gigante no mercado.
Então me peguei a pensar sobre o que aconteceu com algumas das empresas em que trabalhei. Grande parte delas quando cresceu deixou de ser um modelo de gestão eficiente… E ingressou na rotatividade sem fim de funcionários porque entenderam mal que os problemas aumentam quando a empresa aumenta. Cresceram e perderam a subjetividade, o reconhecimento individual. Ontem eram duzentas e cinquenta pessoas chamadas pelo nome, apresentações repetidas, ênfase a toda hora na identidade de cada um.
Eu era só mais uma convidada, anexa no salão, junto a mais um punhado de pessoas alheias (algumas tinham os olhos brilhando), assistindo de camarote àquele evento. E percebi claramente que não era a única em minha fileira a sentir (pasme!) vontade de trabalhar com aquele grupo também.
Entre as mulheres, representantes de diferentes estados. Foco na regionalização, na individualização, na musicalidade de cada grupo, na identidade. Na beleza. Eram mulheres de todas as aparências. Eu consegui enxergá-las todas lindas, gigantes. É inegável que estavam felizes.
De melhor pagamento pelo freela, a certeza de que eu preciso ser assim de novo. O sorriso é a melhor roupa que a gente veste.