Todos os livros nos lugares. Hora das palavras explodirem na blogosfera de novo.
Faz mais de um ano que eu me mudei para esta casa. Foi em outubro de 2009. Coração arrasado. Separação iminente. Retornar à Ítaca não foi bem o que desejei após 9 anos de Odisséia. E carregava uma filha então e malas de frustrações. Sem dinheiro. Nenhum centavo. Sem amor. Arrependida de ter acreditado. Sem emprego. Opção justificada, mas estranha.
Passei exatos DEZOITO meses sem arrumar minha casa. As coisas estavam nos lugares, mais ou menos, mas sem amor, sem alegria, sem organização. Jogadas. Há tempo tento fazer a arrumação. A cada tentativa, sobravam tantas coisas que nem sabia o que fazer. Aparentemente melhor isto ou aquilo, a verdade para quem tinha olhos de fora era que aquilo não era um lar. Apenas um amontoado de peças desconexas.
Meus móveis não combinavam – a casa era grande e antiga demais. Indesejada. As coisas estavam usadas, velhas, sem viço, quebradas. Paredes descascando, telhado furado, goteiras. Meus olhos tinham perdido a alegria de ver.
Um ano e seis meses em que eu não fui feliz aqui. Pensei em ir embora várias vezes. Tristeza e depressão. Sentia-me só apesar de Alice.
Montanha de dívidas.
Então, cinco meses após a mudança, tracei um plano: PROJETO MINHA VIDA DE VOLTA. Coloquei uma placa de isopor na parede em cima do computador e escrevi tudo, tudo que eu queria ter de novo e que já tivera um dia. Dei-me prazos. Quatro meses depois, as coisas já tinham mudado de configuração. Estava menos arrasada e DETERMINADA a ser FELIZ de novo. As coisas não foram fáceis. Atropelavam-se. Mas eu tinha arranjado dois empregos bons e feito a opção pelo melhor. De volta à ativa e o projeto de ficar um ano com minha filha realizado. Eu queria a sensação de dedicação à maternidade e alcancei.
Alice não teve festa de aniversário. Embora recebesse dez vezes mais que eu quando ela tinha um ano, o pai não patrocinou o segundo ano dela. O primeiro foi por minha conta. Chateadíssima fiquei. Mas para tudo tem solução. Terá. E também uma lição. Já aprendi.
Troca-troca de babás, até uma ladra passou aqui. Outra achou que tinha o direito de governar minha entrada e saída de casa. Uma delas deslocou o bracinho de Alice. Houve a que chegou a esfaquear o namorado meses depois de sair daqui. Também uma antes me fez perder o trabalho por causa das faltas: não tinha com quem deixar o bebê e ela nunca chegava nas segundas-feiras. Houve a que fez Alice ter uma injustificada crise de gagueira. Outra era porca. Mais uma sem noções de higiene. Outra preguiçosa. Uma fuxiqueira. Outra mentirosa. Foram mais de 20. Por isso não me arrependo de trocá-las todas. Sempre vem alguém melhor e acredito mesmo que a decisão é certa. Agora começo a ter mais paz. Enfim.
Faltam pregos na casa, preciso trocar as brocas de minha furadeira e empunhá-la de novo. Fizeram-me crer indevidamente que existiam trabalhos que não eram femininos e, por conta de baixa autoestima e solidão, não pendurei os quadros, os espelhos, as fotos, os nichos, as prateleiras. Hoje, em minha lista de compras, escrevo pregos, buchas, brocas e um jogo novo de chaves de fenda. Voltei a quem eu sou, me sinto forte e disposta, feliz. E certa de que a furadeira e o que eu mais quiser poderei segurar.
Os problemas ainda me atropelam, mas eu já sei levantar porque fiz isso muitas e muitas vezes na vida. Perdi meu pai, minha mãe, meu avô, meu tio, minha avó e , por fim, a outra avó que tanto me foi inspiração e exemplo. Morreu também um primo. Parece que para lembrar sempre que a hora é agora, que o tempo é este e que a vida é minha. Fênix renovada a cada queda, a cada morte, tranquila pude escolher uma páscoa diferente para mim este ano.
Optei por mim.
Em três dias, acho que fiz muito do que me faltava há tanto tempo.
Estou alegre. Dou risada. Gargalho de novo. E abraço as pessoas. Ouço música. Brinco com as crianças. Tenho saudades dos meus já idos. Escolhi quem realmente valia para companhia nesta estrada da vida. Amigos que me são caros. Leio muito . De novo. Reencontrei a poesia. Voltei a escrever. A fotografar. A ter planos. A conhecer pessoas. A reencontrar pessoas. A ser referência de novidade e alegria.
E hoje à noite farei um brinde a esta que eu sou. Acompanhada de pessoas legais.