Faltava pouco. Mas faltava.
Pensei setecentas vezes em abandonar este blog, deixá-lo vagando no universo líquido da rede para sempre. Talvez como se sua autora tivesse morrido. E, por ter mesmo consciência desta morte, da morte da eu Alena de antes e não me saber ainda que eu Alena agora eu era… então…
Estes silêncios gigantes que vivenciei me propiciaram hiatos de dias e posts de vazios que ecoaram para quem abria repetidas vezes estas páginas em busca de mim, de minhas histórias; e estes mesmos silêncios me frustravam por ver este blog abandonado também como espelho do abandono de mim e do não reconhecimento de um eu que não mais se sabia. Identidade fractária.
Neste meio tempo de minha história, tempo de lacuna para o A vida em palavras, os desencaixes se deram por processos de perdas que, somados aos processos anteriores já conhecidos por vocês(morte de meu pai, de minha mãe… avós e também pelo fim de relacionamentos) resultaram numa incompreensão global do todo de mim mesma que só me convidavam ao não falar. Justo eu, a mulher das Letras, a profissional das palavras, a amante da palavra escrita, a pessoa que fala pelos cotovelos e que conversa sem parar. Fui toda silêncios entrecortados por notícias ou breves espaços de histórias não tão interessantes assim.
Eu não sabia se exatamente apenas não convinha dizer. Já não sabia se queria dizer. Tampouco se o que dizia era realmente relevante ( fato com o qual nunca me preocupara antes). Ou mesmo se estava vivendo algo que valesse.
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O tempo passa. Contratempo. Contra tempo.
Tempo arrastado para as dores e insuficiente para digerir todas as coisas. Assim me dei conta de que foram dois anos de um vazio solidão incríveis para mim.
Dediquei-me à autoanálise retroalimentada por cada descoberta de farrapos de mim. De peças desconexas, restos de uma cidade invisível e um tempo impossível agora.
SENSO EXATO DE NÃO PERTENCIMENTO A COISA ALGUMA. Não pertencer a si mesma. Não pertencer ao outro. Não ter vínculos afetivos, estes estraçalhados. Não pertencer a um emprego. Não pertencer a um lugar – que cidade é esta que eu não reconheço, que eu não amo, mas que no entanto me revela aterradoramente ter sido meu berço? Não pertencer a um grupo de iguais. Não pertencer a uma turma. Vê-las todas perdidas. Objetivos distintos, pessoas agora então estranhas. Não pertencer a um estado de espírito tão meu por tanto tempo, tão meu, tão meu. Não me reconhecer no espelho. Não me reconhecer como mãe. Não me saber como mulher. Não ter irmãs – eco vazio de família. Não ter família. Nenhuma. Nem a que eu tinha, nem a que eu sonhei, nem a que eu desejei. Só. Solidão. Não ter casa para voltar, a minha casa, as minhas coisas. Regressar a um espaço vazio de significados. Sem laços. Mausoléu de um tempo que foi bom, mas que se perdeu na memória e apenas nela resta: casa herdada de família.
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Cada projeto em que me meti focava exatamente o micro, a pequena essência… e a busca consistiu em idas e vindas que objetivavam essencialmente o sabor de redescobrir-me, diferente, outra, melhor e também pior, mas Alena.
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Confesso que acho no fundo bacana. Não sei se é isso que se chama maturidade. Mas desconfio. Esse tal de andar devagar porque não faz agora sentido algum ter pressa. Para quê? Para onde? Por quê?
Assim o tempo passou e eu realmente fui me achando. Pedaços essenciais de mim , mas também outras faces desveladas. E confesso , de novo, que estou gostando muito de tudo isso.
Estou de novo gostando muito de mim.