Circulam os memes nas redes sociais com tanta frequência, que a maior parte das palavras passa tão rápido quanto aparecem aos montes. Muita curtição e pouca reflexão.
Ultimamente, tenho visto uma enxurrada de frases e netcartazes cuja mensagem consiste em dizer, de diversas formas diferentes, que ninguém tem nada a ver com a ‘minha vida’. Isso e mais a intromissão absurda de que fui vítima nos últimos tempos (ressalte-se porque estava fragilizada e permiti) me conduzem à constatação de que , quando a gente realmente está segura de si, as intromissões não somem, os palpites não acabam, as chatices alheias e as fiscalizações familiares não deixam de acontecer, entretanto a gente liga aquele botãozinho do ‘foda-se’ e sai pela vida, linda, serelepe e faceira, ao menos muito leve, se não tudo isso, e vai cuidar realmente do que interessa.
Quando há esta necessidade de justificativa como vejo nos posts de amigos, percebemos claramente o grito de socorro implícito: por favor, vão cuidar da vida de vocês e parem de julgar, condenar e maldizer a vida alheia. São estas as súplicas que leio diariamente nas mensagens dos murais on line.
Por outro lado, podemos pensar que as pessoas controlam o que publicam nas redes sociais e dão aos outros os pratos cheios para falarem de si. Há quem diga que não publica nada por isso. Mas é esta a tônica? Nada partilhar? Guardar para si suas conquistas, suas mágoas e decepções, seus lampejos de alegria e arroubos românticos? Ué, eu não aprendi na vida, na escola, nos livros e na universidade que o ser humano é social? Eu vivo com o outro, por isso publico, divulgo, me engajo e compartilho; mas não para o outro.
As redes sociais hoje se descortinam melhores do que as limitadas janelas das maricotinhas de antigamente. Se as candinhas viviam atrás das cortinas tomando conta dos beijos roubados e dos encontros fortuitos e passavam, tal qual a brincadeira do telefone sem fio, as mensagens, deturpando-as, hoje não é lá muito diferente.
Há uma gama enorme de ‘amigos’ que aceitamos para fazer parte da nossa vida virtual que só faz fuxicar e futricar a partir do que publicamos. Uma tia, um tio e um conhecido me perguntaram se eu era gay porque me vêem sempre defendendo os direitos humanos dos homossexuais. Na cabeça deles, é preciso ser homossexual para respeitá-los. Ãnh? É. É com estupefacção que eu recebo estas notícias.
Outra vez, como gosto muito de roupas estampadas e vestidos de algodão, me perguntaram se eu era hippie, se depilava as axilas, se fumava maconha e se era gay. Ãhn? É. É com estupefacção que recebo estes comentários.
E se fosse? Caberia a mim ser.
Uma titia uma vez me disse que ‘ah! ela sabia que eu não era, mas o que o mundo ia pensar, o que as pessoas iam falar?’ Gente, fala sério! Estou no terceiro milênio, vivemos numa sociedade pós-moderna, o capitalismo venceu, os direitos humanos estão em voga há décadas, as lutas por um mundo , uma vida e um planeta melhor são a pauta das aulas, das reuniões e campanhas. E ainda há gente que se assusta se você não é católico ou se não é evangélico, se defende casamentos para pessoas que queiram se casar do mesmo sexo ou não, se é a favor da adoção, se prega o sexo livre e a liberdade feminina, se não condena as mulheres que abortam, se amamentou sua filha até quando bem quis e pôde? É. Até palestras eu ouvi contra a amamentação de minha filha. Muita gente veio – na contramão da história – me dizer que eu amamentava demais.
Recentemente, cada amigo com quem tirei foto e postei virou para as candinhas um namorado, uma promiscuidade minha. E se fosse? A década de 70 era mais evoluída… Cada copo de cerveja postado em minhas mãos em eventos virou um conselho de um parente: olha, não beba, não, vão pensar que você é alcoólatra.
Ou outro conselho pós fotografias: ‘não viaje. Sua filha é desequilibrada e precisa de você SEMPRE ao lado dela’. Ser mãe é isso? Renunciar a si própria? E eu que briguei tanto para a minha mãe recuperar a sua vida pós morte de meu pai e apesar de ter 4 filhas… Renunciamos, sim, a sair todas as noites, a ficar mais fora de casa, a comprar com todo o nosso dinheiro para nós mesmas… mas renunciar `a própria vida, às próprias escolhas, às próprias bandeiras e abdicar da felicidade? Não, sinto muito, aliás, não sinto nada, mas JAMAIS deixarei de ser quem eu sou porque isso me deixaria extremamente infeliz ( e já deixou no breve tempo em que permiti que os outros falassem mais a mim que eu mesma. Ademais, quem conhece Alice sabe o quanto ela é feliz e normal.
Aí você reflete sobre as suas publicações e as suas fotos e ratifica, tranquila, que , sim, vai continuar a fazê-las porque quer do seu lado gente de bem, gente bacana, gente que pense parecido ou que ao menos defenda o seu direito de pensar diferente. Candinhas, mariquinhas, futriquinhas? Ah, coitadas! São pessoas que nada têm de bom para partilhar e por isso ocupam tanto do seu tempo com maledicências sobre as felicidades alheias.
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Conselho ao grupeto? Signifiquem suas vidas, a dos outros vai incomodar menos.