A poesia de um sepultamento

A poesia de um sepultamento

E a cerimônia a que ninguém quer ir um dia chega. Chega hoje, chega amanhã. Ou já chegou ontem mesmo. A pessoa não queria morrer. E essa não é a novidade.
Mas assim… ela preparou os filhos para não gostar de corpo morto, para não cultuar o caixão com a palidez e todo o sofrimento do não-vou-ver-mais você. E assim os meninos providenciaram uma urna fechada. E um violão e uma voz. E a música deu o tom que só nos fazia pensar no riso dela, a que se foi. E os acordes foram penetrando na alma… E é claro que uma lágrima teimosa rolou. E é claro que o coração ficou apertadinho com gosto de quero-mais-te-ver-te-ter-estar-com-você.
Mas o riso ia e vinha entre o embaçado da visão e o som da canção. Ao redor, a certeza da vida bem vivida, dos amigos feitos, do peito grande onde couberam tantos amigos. E o sol forte nos expulsava dali, daquele campo santo onde o físico um dia se encerra. Parecia querer nos lembrar da vida lá fora. Do sorriso dos netos. Das brincadeiras engraçadas. Da forma de se fazer tão presente, tão importante, tão solícita.
Então almoçamos juntos, todos juntos. E o riso veio com a memória. Com a certeza do que vai permanecer: a história. E o amor da gente.
Izabel, com Z. (Saudade da porra de você).

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