Come back…

Adoro esta música, de melodia linda, mas, como dizia Antígona, morto meu pai, morta minha mãe, só me restam estes irmãos. E a música nos convida a refletir exatamente sobre o sempre ter casa para voltar.

“Oh my beautiful mother
She told me, son in life you’re gonna go far
If you do it right, you’ll love where you are
Just know, wherever you go
You can always come home
(…) oh my irrefutable father
He told me, son sometimes it may seem dark
But the absence of the light is a necessary part
Just know, you’re never alone, you can always come back home”

Quando os pais morrem, você passa realmente a pertencer ao mundo, pertencer ao mundo verdadeiramente. Se, por um lado, causa melancolia, por outro, o seu “caminho é cada manhã” . É uma liberdade gigante ter todas as estradas pela frente.

 

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Rio

Além das maravilhas óbvias da cidade maravilhosa, o Rio tem padarias incríveis que fazem croissant como nenhuma na Bahia sabe fazer. Pães fofinhos, daqueles que sabemos que se enfiarmos o dedo, a massa volta para o lugar.
O Rio tem dias nublados e ares cinzentos que também nos fazem acalanto por identidade, idade e ecos de Clarice na alma, além do sol e da praia e dos biquínes sorrindo. O Rio é democrático.
E cosmopolita. O Rio tem lojinhas em Copacabana onde a gente encontra das moderníssimas invenções em designe e tecnologia às poeiras do tempo e às decadências de outrora.
Tem velhinhas passeando maquiadas, resquícios de uma era em já foram as garotas da praia. Senhorinhas de salto alto e cabelinho penteado, andando devagarinho nas calçadas irregulares, despertando-nos ternura. O Rio tem moleques com caras felizes e crianças com ginga. Vendedores cheios de saquinhos pendurados a nos oferecer o petisco mata fome pela janela dos automóveis parados ou coletivos cheios. Tem lavadeiras gordinhas que, ao subir o morro depois de um dia cansativo de trabalho, se deparam resignadamente com a polícia a revistar suas sacolas e uma fila enorme para ter acesso à ladeira que leva à sua casa.
O Rio tem olhos verdes, gateados, mulheres incríveis e meninos do Rio, sim, de provocar arrepio. Tatuagens incríveis. Pranchas e ondas e varas de pescar nas pedras da Niemeyer. Engarrafamentos que poderiam nos matar de pressa ou de raiva ou de tédio não fosse o deslumbramento e o assombro de tanta beleza que nos faz , sinceramente, agradecer pelo trânsito ser tão lento.
O Rio tem nuvens densas que fazem a Gávea ficar envolta em atmosferas oníricas e nos levam a portais de outras dimensões, perdidas que ficamos a contemplá-la. É a cidade dentro da mata ou a mata dentro da cidade? Cada árvore, cada planta de um tom verde escuro, e trepadeiras e parasitas subindo aqui e acolá. Terra de gradis e arquitetura sui generis.
Tem samba em cada esquina, feijoada em cada morada e carne seca de sabor único. Supermercados cheios de frutas apetitosas, folhas verdinhas e tenras e uma diversidade de industrializados de nos fazer perder hoooras a ler rótulos e indecisas sobre o que levar.

O Rio convida à poesia, seja na lagoa, na Glória, em Santa Teresa ou Ipanema. É terra de grandes homens, de grandes escritores, músicos incomparáveis e índios memoráveis; terra que precisa, ainda hoje, de melhores caciques para seu povo.

O Rio é bonito de baixo para cima e de cima para baixo.

Nude

Dia nude

ao som  de Nando Reis e Skank “Sutilmente”

Estou no Rio para ver se rio mais.
Vim domingo, estou em casa de amiga, me divertindo e sendo feliz como manda o fakebook. Conheci gente interessante e ampliei um pouquinho este círculo de amigos que podem enfim nos apresentar a um namorado novo, quem sabe?!
Afora… andando, como Alena Gump, parente daquele outro, para ver se faz sentido a vida. Período sabático, estou me dando o prazer de me reencontrar em essência depois que tantas coisas se perderam pela vida. Ou de me reinventar.
Não, não estou triste, mas de vez em quando choro um pouquinho. Mais de emoção que de tristeza. Nas entrelinhas, vez ou outra, fico triste também. Nesta medida inexata que é a vida.
Beijo


Alena

P.S.: Aqui estou on tb, que amigo que se preza tem casa wi-fi.

 

Acabei de inventar

Como já falei várias vezes, gosto de rituais. Há lugares que nos causam lembranças dolorosas, que nos angustiam ou nos lembram o que poderia ter sido e não foi. Talvez o Leme da sua vida que se perdeu tal qual sonhara…

Pois bem, três anos depois, o tempo estimado de um luto mesmo, retorno ao local onde muitos sonhos saíram pedalando numa derrocada que me custou um preço altíssimo: família desfeita. Planejo voltar àquela porta de ferro, enorme, ver através das grades que nem fantasmas habitam os corredores frios, quiçá o muquifo de sonhos desfeitos. E descalçar lá as minhas sandálias douradas, os laços que se desfarão, velhos e frágeis, solados corroídos pelo tempo, gastos por tantas pedras  e asperezas. Descalça, caminharei em busca de lugar melhor, de ressignificações e um sapato novo .

Mãe Menininha do Gantois Memorial

O ILÉ ÌYÁ OMI ÀSE ÌYÁMASÉ – Gantois e a Associação de São Jorge Ebé Oxossi convidaram para o lançamento do livro Memorial Mãe Menininha do Gantois , dia 22 de julho de 2010.
Casa do Gantois Rua Mãe Menininha, Alto do Gantois n 23
Salvador Bahia

O evento transcorreu iluminado pela luz maravilhosa de Oxum.  Filhos e filhas de santo, artistas e personalidades da Bahia prestigiaram a noite, emprestando também sua luz ao lançamento. Servidos diversos quitutes e iguarias nordestinas e típicas, pairava a bênção acolhedora da Mãe Menininha sob o som inesquecível da Oração a Mãe Menininha do Gantois na voz de Gal Costa.

O livro Memorial Mãe Menininha do Gantois, inspirado pelo ideal de Mãe Carmen, reúne fotografias de Claudiomar Gonçalves, resultantes de um trabalho que durou cerca de dois meses .

Mãe Carmen radiante emanava toda sua majestade ao lado de suas duas filhas e de sua neta.

Mais registros:

E:

Ari Capela, fotógrafo, pedindo a bênção de Mãe Carmen.

Fim de festa…

Fim do evento no Gantois em clima ainda de total descontração.

O vídeo abaixo mostra parte do acervo para quem quiser vê-lo. Faz parte de um documentário sobre Mãe Menininha:

Entusiastas

Freela de última hora. Urgente. Ainda pedi meia hora para dar a resposta. Obstáculos mil. Iria desistir. Pensei: se fosse antes, aceitaria? Sim. Aceitei então.

Uma hora e meia na estrada. Vinte minutos de burocracia para entrar. Desci um elevador desnecessário – a escada era mínima – ô conforto da atualidade! E vi o que há muito não via. Há muito, muito tempo mesmo.

Uma equipe inteira de funcionários entusiasmados. Muito entusiasmados. Muito eufóricos, muito alegres, muito … entusiastas. A maioria esmagadora de mulheres. Felizes pelo evento, felizes pelas condições de trabalho, felizes pela premiação que recebiam a todo e qualquer esforço fora do óbvio padrão. E confesso que fui aos poucos me tomando por aquela alegria toda, por aqueles sorrisos todos, por aquela simpatia emanada.

Havia percalços, sim. Era óbvio. Foram dirigidos, discutidos, levantados como meta a ser superada. Explanados. E elas eram valorizadas, e a música falava de amor, falava de bem-estar, convidava a dançar. E os prêmios eram bons, eram bonitos, eram desejáveis. E o reconhecimento acontecia.

Em troca, todos trabalham para consolidar um gigante no mercado.

Então me peguei a pensar sobre o que aconteceu com algumas das empresas em que trabalhei. Grande parte delas quando cresceu deixou de ser um modelo de gestão eficiente…  E ingressou na rotatividade sem fim de funcionários porque entenderam mal que os problemas aumentam quando a empresa aumenta. Cresceram e perderam a subjetividade, o reconhecimento individual. Ontem eram duzentas e cinquenta pessoas chamadas pelo nome, apresentações repetidas, ênfase a toda hora na identidade de cada um.

Eu era só mais uma convidada, anexa no salão, junto a  mais um punhado de pessoas alheias (algumas tinham os olhos brilhando), assistindo de camarote àquele evento. E percebi claramente que não era a única em minha fileira a sentir (pasme!) vontade de trabalhar com aquele grupo também.

Entre as mulheres, representantes de diferentes estados. Foco na regionalização, na individualização, na musicalidade de cada grupo, na identidade. Na beleza. Eram mulheres de todas as aparências. Eu consegui enxergá-las todas lindas, gigantes. É inegável que estavam felizes.

De melhor pagamento pelo freela, a certeza de que eu preciso ser assim de novo. O sorriso é a melhor roupa que a gente veste.

Museu Rodin Palacete das Artes

Finalmente, após seis anos de negociações (incluindo os dois de atraso conforme o previsto), chegam à Bahia, em regime de comodato, as obras de Auguste Rodin. A exposição durará três anos e conta com 62 obras. Em 2007, o Museu Rodin foi inaugurado, mas o comodato não saiu como planejado. Algumas peças vieram e fui vê-las algumas vezes. Agora, poderemos, finalmente, ver mais da arte de Rodin.

Republico meu post de 2007. Depois, virá o novo.

Museu Rodin Bahia

Janeiro 8, 2007 ·

Detalhes da fachada do recém restaurado Palacete do Comendador Bernardo Martins Catharino ( 1862-1944), espaço que abriga as obras do francês Auguste Rodin:

À entrada do Museu, o transeunte já se depara com a beleza da fachada e o belíssimo jardim que abriga quatro obras originais adquiridas pelo Governo da Bahia e pela iniciativa privada. O Museu receberá, em regime de comodato com o Museu Rodin de Paris, 62 obras a partir de março de 2007, as quais serão expostas nos suntuosos salões do palacete.

Na foto acima, detalhes da área externa do Museu Rodin Bahia, o jardim e o calçamento xadrez em branco e vermelho de onde se ergue  Jean de Fiènnes nu (Rodin, 1886). Abaixo, a escultura em ângulo frontal:

Na entrada, a escultura  L’ homme qui marche sur colonne (Rodin, 1877):

O  Torse de l’Ombre (Rodin, 1901):

E, no mesmo jardim à entrada também,  La Martyre (Rodin, 1885):

Em detalhes:

Sobre o Museu, visite aqui informações sobre o baiano@ , veja o site oficial do Museu Rodin Bahia @ ou viaje aqui até o museu em Paris @.

Vergonha

Eu tinha vinte e seis anos quando pisei pela primeira vez o pé na terrinha. Ao sair do ar condicionado do aeroporto, lembro-me como se fosse agora, trajando uma calça cáqui e uma blusa na qual havia uma grande índia pintada, chorei ao respirar o ar português pela primeira vez. Havia algo genético: era o que parecia… Talvez eu sentisse ali a emoção da tradição que, aos poucos, foi se confirmando. Talvez ali, naquele momento, as aulas de História ecoassem aos poucos na minha mente. Talvez as palavras de Gil falando sobre encontro dos povos me impressionassem ainda. Talvez a minha avó paterna estivesse claramente agora para mim visualizada como fruto mais direto – ainda não perdido – daquela cultura que herdara dos pais.

E eu cheguei a Lisboa. A sensação primeira é que aquele momento seria o início de muitos encontros. Encontro comigo, com o meu passado, com os meus antepassados. Encontro com traços indeléveis da minha cultura que eu não saberia dizer até então o quanto eram herança de Portugal.

A ida ao hotel, os olhos atentos como os de uma criança a descobrir o mundo e a maravilha da cidade tão cosmopolita e tão histórica. O Rossio e os calçadões da baixa, o marco dos descobrimentos, a torre de Belém, os pastéis de nata, a ginjinha (com elas!), as igrejas, o castelo de São Jorge em cujas paredes voa uma donzela diáfana (juro que eu a vi a vagar!)… a nostalgia de flautistas por toda a baixa, a beleza do Tejo, a modernidade do cais, os magníficos restaurantes onde me viciei em comer muito e bem e muito e bem e muito… o parque das nações com todas aquelas bandeiras a tremular e a emoção de nos descobrir brasileiros embaixo da verde-amarelinha, o teleférico, as Tágides reconstruídas à beira do Tejo, o oceanário (!!!)… a carne de javali, os vinhos, as bodegas, o elevador de Santa Justa, o arroz de sarrabulho, a recepção acalorada ao nos saberem brasileiros pelo sotaque, a emoção de ver (eu, professorinha de literatura) o túmulo de Camões, a beleza da arte manuelina, os almoços intermináveis regados a vinho na casa do amigo Zé, as rabanadas com vinho do Porto, os amigos que fui acumulando, as prendas carinhosas que recebi, o sotaque gostoso de ouvir dos portugueses, os pães que me ensinaram o que era pão, as azeitonas as quais comi sem parar, as cerejas frescas na beira da estrada, o patê de sardinha mais maravilhoso do planeta(vício certo!), a Marisqueira com suas sentollas e a certeza de que Portugal é um país maravilhoso.

Sintra tão pertinho a nos erguer no alto da serra o magnífico palácio mouro, suas ruas tão poéticas, o litoral e seus fortes, a beleza do Oceano Atlântico ( e pensar que é o mesmo que nos banha aqui)…

Estrada rumo a Óbidos, Évora, Marvão, Serra da Estrela (que trutas!), Nazaré, Braga, Guimarães, Porto, o rio Douro, os rabelos, Coimbra (e viva a Universidade!), Valença, Viana do Castelo, o rio Minho, Covilhã, Leiria, Santarém, Portalegre, Sines, Faro, Sagres… Todas todas com post merecido a desenvolver…

Fui a Portugal a passeio em 2001, 2002, 2003, 2004, 2005 … e devo voltar lá a partir do ano que vem. Um encontro maravilhoso comigo mesma, um amor à pátria que também é minha, um reconhecimento de raízes, um encontro emocionado.

Infelizmente, para minha surpresa e vergonha, me deparei com o vídeo do programa Saia Justa no qual a Maitê Proença dá um show de estupidez, desrespeito e ignorância.  O Brasil deve, no mínimo, desculpas diplomáticas a Portugal.

Publique-se o vídeo para que se tome conhecimento e um protesto mesmo nasça. Trarei aqui algumas memórias da minha relação de amor com Portugal. É o mínimo que posso fazer.

Vinho chileno

Você toma um vinho chileno perdido na sua mini adega… vá lá que não é o seu preferido, você ama muito mais os portugueses, especialmente depois que viu tanta cortiça nos campos da terrinha e mais todas as caves em Vila de Gaia, no Porto… ah, tá… mas é vinho, e “in vino in veritas” sempre.

Parece que o fato de realmente ver o sol nascer da janela do quarto significa algo muito maior. E eu sabia. Sabia que isto estava acontecendo. É um renascer… um resgate, um reviver eu mesma.

E o vinho parece que me conduz a isso, leve, livre e torpemente. Amada. Sei lá pelo quê. Talvez por mim.

E de repente dá uma saudade maluca de Gaia, Vila Nova, daquelas caves gigantes, dá saudade dos rabelos no Porto, dá saudade da blusa vermelha de gola alta que eu usava em Portugal. E ela jaz inerte aqui no armário… sei lá, talvez… Me deu saudade de minha festa de 30 anos…

E de repente eu morro de vontade de noites na varanda discutindo poesia, morro de desejo de spaguettinis, de fotografias com a minha canon…

e um desabafo inebriado…

e uma saudade de Praia do Flamengo em tempo áureo…

e vem a lembrança de um casal em Conde, Bahia, que morava dentro da areia da praia. Ele era Cláudio, ela eu não lembro… sei que eles saíram de Bsb para tentar a vida no longínquo da Bahia. E a pousada que construíram tinha uma concepção completamente gnomos… aquela coisa lindinha meio de sonho sem luxo e com um potencial humano demasiadamente humano… e eu leio agora que minha amiga recém parida está separada… que bom , eu penso, com certeza foi o melhor para ela… e vejo ontem duas surpresas em dois blogs sobre mim… e fico feliz… e as canções de Chico ecoam agora em minha casa porque o meu projeto de gente dorme e me deixa enfim blogar… e ela está embalada por nós, pelo que é nosso … por Chico… e dorme mesmo um anjo… e assim eu reconstruo o que chamo de FELICIDADE… e ela existe. Está em mim e pode estar em você se permitir.

Beba um vinho. Porque eu vou dormir com Nietzche. Ou com o travesseiro. (os)

E eu amanhã queira acordar em São Paulo, juro. Ou em Lisboa.

Mas vou ter a melhor aula do mundo. E isso basta-me . Por enquanto.