Abrir as portas

Gosto de visitar casas de amigos. Gosto de sentir como cada um dá sentido ao seu espaço. As casas contam histórias. Cada badulaque, um quadro, um vasinho com flores, uma mesinha de centro com plantinha ou castiçais, móveis modernos ou demodê, panelas e a arrumação da cozinha… um paninho bordado aqui, outro ali. Olhar atentamente o velho piano e os santinhos do corredor , a moderna bancada do banheiro reformado e as cadeiras de vime, tudo isso são pedaços humanos, são marcas pessoais, são fruto de uma idealização, de uma vontade de trazer a beleza, o lirismo, a doçura para onde se vive.

Abrir a casa aos amigos é compartilhar um espaço cheio de histórias. É o nosso enredo particular, é ver a fusão caótica do que talvez devesse ter passado, mas é mantido, como um mimozinho de artesanato infantil feito pelos filhos crianças e que aparenta não pertencer àquele canto, mas que , na verdade, são os retalhos de nós e fazem-nos, donos da casa, sorrir ou nos enternecer.

Compartilhar nosso mundo particular com pinturas descascadas ou paredes mofadas é lembrar que nem tudo sai de uma prancheta de arquiteto ou que nem tudo é possível consertar quando queremos ou mesmo se podemos. É entender as cicatrizes no piso arranhado ou o cheiro de passado no quartinho da bagunça. São conjecturas e projeções humanas que habitam a nossa casa, enfeitam nossas estantes e se escondem nas gavetas da alma.

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O melhor perfume do mundo

Eu precisei ter Alice para descobrir o melhor perfume do mundo:
nem Dolce Vita, nem Chloé, nem The One, nem J’adore, nenhum outro. O melhor perfume é o cheiro que ela tem, que eu não me canso de sentir, todos os dias.

O melhor sorriso do mundo, o mais belo;  a maior alegria é a dela.

O maior conforto que se pode ter é descobrir o quanto de conforto você representa para o outro. E quando ela acorda, todas as madrugadas, e chama gritando MAMÃE!, eu amo poder estar viva para pegá-la no colo e me sentir, junto, acolhida. Porque, nestes momentos, a minha vida se enche de sentido e significação.

Assuntos e coisas afins

Depois do binômio gravidez e pós-parto, os temas andam muito maternos por aqui. É que a vida fora da maternidade só voltou a começar timidamente a acontecer por agora. E isso inclui também o tempo para ler e sair.

Pretendo desviar os posts sobre Alice  e gravidez para uma outra página, um outro blog. Mas ele está sem nome ainda. E voltar a ser mais eclética aqui. Ou menos mãe – se é que isto é possível.

Sugestões?

Quem aguenta viver na linha do Equador?

Ontem à noite, o termômetro marcava 30 graus no meu quarto. Já era meia-noite, fazia muito o sol já fôra.

Então lembrei que no deserto à noite faz frio. Em Salvador, o calor continua. E o povo ainda se aglomera no festival de verão, no carnaval, na praia… Que nada! Só de pensar em muita gente junta já me dá mais calor e vontade de tomar banho.

Eu só penso em chuveiro, banheira, piscina, sombra e água fresca. Roupa leve de algodão (pouca) – bem aqueles vestidinhos ordinários.

Sucos e mais sucos e mais sucos.

Ainda bem que Alice não nasceu em janeiro.  Se eu tivesse que passar pelos calores da apojadura neste sol…

Urgente, antes que ela nasça!

Preciso dizer urgente, antes que ela nasça, algumas coisinhas muito importantes.

Primeiro, que eu trabalhei na prática até segunda. Que sufoco! Grávida nenhuma deveria… Mas, por outro lado,  foi bom estar ativa. Continuo ágil apesar do barrigão. Sento, abaixo, levanto, subo e desço sem chiada.

Tá… ando um pouco mais devagar, mas não cheguei a patinar de forma ‘hipopótema’ (risos).

Todas as grávidas estão perdoadas. Não é fácil manter pose e elegância, a gente fica meio “slow motion” no passo. Não há como. E a falta de sapatos altos deixa-nos tristes e cansadas. Sandália rasteira é pior de calçar.

Já me conscientizei de que nos próximos meses ainda não vai dar para a estripulia do salto. Não com ela no colo.

* * *

Minha barriga está imensa. Muito imensa mesmo. E eu fiquei apaixonada por ela.

Que delícia olhar no espelho e ver a projeção gigante… Que maravilha poder ostentar uma mega melancia bem redonda embaixo da roupa. Adorei! Achei linda.

* * *

Como é impossível, por outro lado, pensar que eu coube em roupas menores. Muito menores… Como é incompreensível crer que estarei um dia de novo em uma calça jeans… ou em uma roupa normal.

* * *

Nesta semana, freqüentei um curso intensivo para gestantes. O curso merece um capítulo à parte. Farei. Mas agora quero falar sobre como eu estava besta. Chorei de emoção várias vezes durante a manhã. Bastava pôr um vídeo xaropado de bebês para meu lado mãe aflorar de forma estupefaciente. E haja lágrimas.

* * *

Eu não consigo de jeito nenhum conceber que um dia vou dormir sem filhos e que, assim, logo no outro, pronto! Haverá uma bebezinha no meu colo.

Não, não consegui compreender isso. Por mais que eu queira.

* * *

Está quase na hora. Quase mesmo.

* * *

Eu tenho amigos que valem a pena. E tios maravilhosos. Não posso deixar de registrar.

* * *
Sair durante esta semana com o maridão para umas providências de última hora foi uma das melhores experiências da nossa relação. Companheirismo é muito bom. Aconselho a todos. 😉

* * *

Fomos à obstetra juntos. Ela nos disse (para mim já era a segunda vez) :

– A partir de agora, é a qualquer rmomento.

Tá. Ouvimos e fizemos trinta mil coisas e saímos tranqüilos e fomos a umas lojas e compramos umas bobagens que faltavam e etc e tal. Bem de forma normal.

Depois chegamos a nossa casa, já tarde, jantamos e fomos dormir quase meia-noite… quer dizer, tentamos ir dormir…. pensamos que íamos dormir… desejávamos dormir…

Uma noite inteirinha de olhos bem abertos, a olhar o teto escuro do quarto… sem conseguir pregar o olho. Ansiedade bateu e a taquicardia aconteceu… Por mais que tentássemos dormir… nada!

E foi legal isso ocorrer… juro. Achei engraçado depois.

Não era possível que só eu não tivesse esta história para contar.

* * *

Ela vai ser bem recebida. Ah, isso vai. Já amo tanto e nem sei de nada ainda.

* * *

Aos poucos, o quarto está ficando pronto (é… no gerúndio ainda…) E dá um prazer enorme dar cada lacinho e colocar cada coisa no lugar.

* * *

Eu não deveria, mas (re)passei a ferro todas as roupinhas. Todo o enxoval. E gostei de fazer isso pela minha filha e por mim.

* * *

Na hora H, você descobre que ainda falta uma luvinha da cor x. E uma camisetinha y.

Coisas de meninas. Ai, ai…

37 semanas

Você vai à consulta de rotina e… cai na real. Pela primeira vez.

É que a médica, autoridade máxima no assunto, lhe diz: ‘a partir de agora, qualquer hora é hora’. Ao que você responde: ‘Eu sei.’

Só que, à noite, quando você chega em casa, e deita a sua cabecinha no travesseiro para dormir e descansar para as aulas do dia seguinte, ‘parece que as coisas começam a fazer sentido’. Então, dá aquela vontade de levantar correndo, como se fosse um profissional no teatro, e encarar o espelho com a máscara pintada a derreter no monólogo desesperado de todos aqueles que se dão conta de algo muito, mas muito importante:

– ‘Qualquer hora é hora. A partir de agora. (ar de pouco caso). Qualquer hora… é hora. A – p-a-r-t-i-r -d-e – a-g-o-r-a. QUALQUER HORA É HORA (GRITANDO)! É HORA. MEU DEUS, É HORA! (Então bem baixinho em seguida diz a si no espelho que revela a realidade): É agora . É hora. Eu vou ser mãe. COMO ASSIM? MÃE?’

Então você se dá conta no meio da madrugada de verdade que nos próximos dias haverá um bebê, uma menininha de lacinho e tudo na cabeça, a se mexer em seu colo, completamente dependente. E ela terá saído de suas entranhas. E ela é fruto seu e do pai. E ambos estarão ali, pedaço seu e pedaço dele… E ela vai chorar, vai rir, vai crescer… vai virar criança, adolescente, adulto. De repente.

E então voê também se dá conta de que com você também foi assim. E estupefacta não crê que possa ter habitado um dia o útero de sua mãe.

Não creio em milagres. Mas este é um milagre. Não creio em mistérios. Mas este é um mistério.

E, muito de repente, de repente e longamente, você passa a madrugada inteira assustada com esta coisa que é a vida.

Não é mentira

É verdade. Não, não é mentira.

A gravidez nem bem acabou ainda e o barrigão já deixa saudades. Estou na fase “alisa-barriga”… Até a semana 35 não tinha chegado a esta etapa, mas agora, completando 36 semanas, a redonda barriga já me deixa a suspirar.

Claro que desejo um dia voltar a ser mulher*… caber num jeans (meu Deus! calça Levis existe!) , usar vestidinho curto de verão, meu biquíne de lacinho… mas a barriga vai fazer falta, ah, vai…

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* nem vem que grávida é outra categoria!

Novidades e tal

A barriga está tão grande, mas tão grande, tão grande que não me deixa dormir mais direito. Não agüento ficar muitas horas na mesma posição. Vira daqui e dali e, de repente, a menininha resolve esmagar meu diafragma ou meus pulmões e acordo com falta de ar e taquicardia. Aí já era. Nada de dormir mais. Ontem, acordei às 4h35 (fui dormir à 1h). Hoje, acordei às 5h (fui dormir meia noite). Amanhã, não sei. Sei que vou dar uma canseira nela. Só vou deitar quando não agüentar mais.

Estou a pensar como é que os barrigudões de cerveja vivem. Que lesões na coluna eles têm. Não é possível que agüentem tanto tempo na vida com o barrigão.

Mas olha que eu estou feliz e curtindo tudinho. O quartinho não sei a troco de que mágica já está com aquele cheirinho delícia de neném. E eu não coloquei perfuminhos nem nada. As roupinhas, coitadinhas, ainda não podem cheirar a ‘comfort’ que o hospital recomenda trinta mil vezes nada de cheiros por causa da possibilidade de alergias. Tudo lavadinho com sabão de coco. Só. Que não tem cheiro delícia de nada. Mas de repente, bem de repente, o último mês chegou e de mansinho o cheirinho de bebê já impregnou todo o guarda-roupa dela.

Domingo, eu faço 33. Nem me preocupei com os 33 porque a semana 36 já chegou. Esta foi a contagem que andei fazendo nos últimos meses. Pela primeira vez na vida, meu aniversário não foi o tema nem a prioridade. “Filhos”. É assim que estou descobrindo esta história de deixar de ser o centro de minha própria vida.

Desesperadas

Minha irmã ficou. Eu fiquei.

Só quando o sétimo mês despontou na barriga é que a possibilidade real do bebê nascer apareceu para a gente. Então, o medo não foi o parto, não foi a saúde, não foi o médico nem a anestesia nem a injeção. O medo foi o enxoval.

É que eu passei a gravidez inteira no maior relax com o enxoval. Nem comprei nada. Nadica mesmo. Ganhei uma coisa aqui e outra ali e pronto. Fiquei esperando. Esperei fazer mais tempo ‘de barriga’. Esperei para ver se fazia ou não fazia chá de bebê. Esperei ter tempo porque estava trabalhando demais. Esperei fazer a mudança. E mês passado desesperei.

Faz um mês que eu estou no desespero das listinhas, lendo e relendo, passando e repassando, ‘ticando e reticando’ o que tenho e o que não tenho, o que preciso e o que não preciso, o que ainda vou comprar e o que não vou comprar.

Eu não sou de encomendas. Estas coisas demoram. Eu não aguento esperar (exceto o tempo de gravidez – o qual considerei pequeno até). Nas lojas que prestavam em Salvador, os prazos eram de 45 dias para entregar um enxoval. E se depois de pronto eu não gostasse? Se achasse que a qualidade não era lá tão boa assim? Não ia colocar o rostinho de minha neném numa áspera colcha de meia tigela. E se eles atrasassem? Se os pontos não saíssem bem feitos? Se o patchwork não me agradasse? Se ficasse feio?

Não, não, não. Sou mais prática. Gosto de comprar e levar para casa. Então foi assim. Namorei as revistas, escolhi, paguei e já faz uma semana ao menos que o berço pode recebê-la.

Ao menos.

O diacho é que a listinha é tão grandinha, tão grandinha, cheia de tantas coisinhas, que a toda hora você descobre que não tem mais uma coisa. E olha que eu não sou de supérfluos do tipo ‘aquecedor de mamadeira’ – uma vez que há fogão em minha casa.

* * *

Ainda continuo com a idéia de que grávidas deveriam ter licença-maternidade de dois anos e um cartão corporativo sem limites. Porque, por outro lado, não há nada mais gostoso na vida de uma mulher.

O mundo é rosa

Eu nunca fui fã de rosa. Minha cor sempre foi vermelho. Não uso batom rosa, tenho no máximo uma roupa rosa (ou duas – se estiver muitíssimo na moda). Gosto de cores cítricas, vibrantes, fortes. Muito alegres. E vermelho.

E olha que eu sou romântica. Mas nada de rosa.

Desesperei-me ao descobrir que o mundo das meninas é rosa.  Engravidei, identificou-se que era uma menina e… pronto! Lá vamos nós pela odisséia das lojas e dos enxovais… tudo rosinha, rosa, rosa-choque, rosa bebê, rosa envelhecido, rosa desbotado, rosa esmaecido, rosa degradê, rosado… Quase nada lindo de amarelinho. Quase nada lindo de estampados vibrantes. Quase nada vermelho. Quase nada verde cana. Quase nada colorido. Só em tons rosas.

Morri de inveja dos que habitam São Paulo e têm opções de comprar as peças multicores para as suas filhotas. Aqui é um caso. Uma dificuldade. Garimpa-se , garimpa-se, garimpa-se… e  você acaba se convencendo mesmo de que o mundo das meninas é rosa.

Depois de folhear trezentas mil revistas de projetos e enxovais, depois de percorrer quilômetros de lojas e mais lojas na província de Salvador da Bahia, acabei optando pelo mundo rosa e me deixando seduzir. Não houve jeito. Agora é fazer os ajustes finais e esperar a fofura que vestirá azul, amarelo, vermelho, branco, verde, mas, principalmente, rosa.  E viva as meninas!