Prêmios : aêêêê!

Recebi pelo face um comentário sobre o site de Lícia Fábio, a famosa promoter baiana, fazendo uma promoção cultural do Dia das Mães.  Resolvi mandar um parágrafo pequenino e… tchan, tchan, tchan, tchan!!! Ganhei! Fiquei mega feliz, pelo prêmio, que é simbólico, e também pelo reconhecimento – esse que não tem preço. Ah, e foi o quarto quinto prêmio do ano dos quatro cinco que participei 😉

A seguir, o textinho que mandei:

O maior presente da relação entre mãe e filho se resgata pelo olhar: aquele olhinho miúdo que lhe suga o peito e a olha com um misto de adoração e necessidade. Então nasce a cumplicidade, a certeza de poder contar com o amor maior de alguém que vai prover, enquanto existir, uma vida melhor para o outro, o seu filho. A mãe descobre então o que é alteridade de verdade, sente na pele o arrepio do que o outro sente; nos olhos, as lágrimas de dor e resignação e o misto de emoção sem precedentes. A mãe descobre que o sorriso do filho é o que a impulsiona nas horas de quase desistir, de morrer de cansaço e sono e dor… É a felicidade que procurava há tempos e ela cabe naqueles pequenos lábios sorrindo para si.  Alena Cairo

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Vaca de divinas tetas

Descobrir-se mãe não é só doçuras, antes sensações extremas e contraditórias em turbilhão na alma. E no corpo. Primeiro que a gravidez enlouquece o organismo e se, por um lado, nos enche de boas sensações, também nos permite experimentar as controvérsias: sim, é você se sentir linda e mágica com uma barriga enorme enquanto o mundo te enxerga como quem carrega um nariz de bola gordo e inchado.

Então vêm as emoções do parto e o medo do que virá super casado com a ansiedade por ver e pegar, no colo, o seu bebê pela primeira vez. Nem sempre os partos saem às mil maravilhas ou como você quer e nem sempre temos de perto todas as alegrias que pensávamos.

Mais controvérsias, mais confusões. Eu tive depressão pós-parto (só que na época não foi diagnosticado) e me descobri arrasada, sem vontade de ver qualquer pessoa que fosse. Deu-me logo um desejo de recolher-me no meu próprio útero com o bebê e lá ficar até que tudo ficasse bem. Tudo? Como assim? E lá algum dia nesta vida tudo fica bem?

É que a maternidade na tv e nos livros é um exercício eufêmico. Mães de cabelos escovados e maquiagem de salão carregam nas suas vestes brancas e no seu sorriso plácido , no colo, um bebê de seis meses com rostinho de veneração e mãozinha gordinha. E magras.  Ao lado dela, em pé, sempre a senhora sua mãe, com o mesmo sorriso terno.

O meu quadro desmoronou logo aí mesmo, nesta famosa cena: Alice era um bebê RN e não de seis meses(obviamente), não sabia direito chupar o peito, meu bico era invertido, precisei de enfermeiras, lágrimas, curso, leituras, bicos de silicone, bomba manual, lágrimas, ordenha, bomba elétrica, irmã espremendo os peitos, febre, cheiro de leite azedo o dia inteiro, lágrimas, falta de tempo para banhos, escovar os dentes e pentear os cabelos, bebê que chorava sem parar, mais lágrimas, exceto quando estava no peito. Tradução: Alice ficava o dia todo no peito. E ela, ainda assim, perdeu mais peso do que deveria. E, obviamente, eu fui enlouquecendo, pirando, ficando estressada, uma bomba, zumbi sem dormir, miséria de animal irracional sugado pela cria. Ao mesmo tempo, enlouquecida e desvalida, triste pelo sinal lacrimoso de assumir a própria incompetência para algo que – ao que parecia – a humanidade dava conta muito bem.

Então, desesperada, em confissão no consultório da (maravilhosa!) obstetra, contei-lhe minhas angústias e ela, humana e mulher, me disse: passei exatamente pelas mesmas coisas e, ao que parece, todas as demais. Mas não é comum falar-se. Simplesmente ninguém nos avisa, ninguém nos prepara. Dra. Sílvia me disse: – Eu dava curso de amamentação, chefiava uma maternidade e um grupo de aleitamento e, simplesmente, pensei em rasgar em tirinhas bem finas todos os meus livros de medicina e amamentação.

Aliviei-me. E fui me consolando com o velho jargão: “isso passa”. Dia após dia, era um mantra que eu internalizava para não ficar maluca. Quanto mais Alice gritava, mais eu pensava em silêncio que iria sair pelo mundo andando para sempre, tipo Forrest Gump, sem destino e sem documento. E sem filha.

Fiz minha irmã me prometer mil vezes que ela cuidaria de Alice se algo me acontecesse. Mas ela não sabia do meu plano secreto idealizado todos os dias. Sair sem destino pelo mundo, andando, andando, andando…

Em todo momento de desespero, via-me na sinaleira do Iguatemi, o sinal vermelho, e eu em pé, pensando qual caminho tomar nesta andada do para sempre.

Sorte que o tempo passou. E eu consegui sobreviver à loucura psicológica (inicial) que é amamentar. Porque passa o difícil e quando a gente já está acostumada, vicia! É maravilhoso!

E, quando eu já estava em condições de tirar aquelas fotos das campanhas, descobri que gostava de amamentar, os seios já estavam calejados e ela já sabia direitinho o que fazer!

Amamentei até Alice fazer 3 anos e 2 meses. Amamentei Aslan, meu sobrinho, e também Apolo, o pequenino. E me orgulho disso. Mas não foi fácil. E passou. Ufa!

Alice(minha filha) e Aslan (meu sobrinho) mamando

Para amamentar, precisei de apoio dentro de casa (no caso minha irmã); de lucidez para não arrancar os peitos nos momentos de febre, inchaço e sangue; de insanidade para continuar e de abnegação. Sim, a gente abre mão de si pelo filho. Ou filha. E vontade e perseverança são os segredos únicos.

“Respeito muito minhas lágrimas/Mas ainda mais minha risada/ Inscrevo, assim, minhas palavras/ Na voz de uma mulher sagrada/
Vaca profana, põe teus cornos/ Pra fora e acima da manada (…)/
Ê, ê, ê, ê, ê, /Dona das divinas tetas, / Derrama o leite bom na minha cara (…) / Vaca de divinas tetas/ La leche buena toda en mi garganta (…) / Vaca das divinas tetas/ Teu bom só para o oco, minha falta /E o resto inunde as almas dos caretas / Dona das divinas tetas /Quero teu leite todo em minha alma / Nada de leite mau para os caretas / Mas eu também sei ser careta/ De perto, ninguém é normal /Às vezes, segue em linha reta / A vida, que é “meu bem, meu mal” (…) / Deusa de assombrosas tetas / Gotas de leite bom na minha cara / Chuva do mesmo bom sobre os caretas…”

Mas vale. A pena.

O retorno de Alice

Hoje ela estava com a cara mais safadinha do mundo, um misto de maravilhamento e euforia. Parque, almoço fora e shopping (que me matou de cansaço). Chegamso em casa ambas quase mortas e dormimos juntas, abraçadinhas.

A dieta hoje ficou na cota, graças ao meu brócolis ninja, que me deu um surto de vontade de cozinhar e me fez surgir um caldinho delicioso, que eu chamei para Alice de sopa do amor. Tomamos juntas e ela, simplesmente, amou!

Depois me pediu o gagau e, lá pelas tantas, falou: mamãe, está delicioso esse gagau! Ao que eu lhe respondi: é o que mamãe faz, filha, é sempre com muito amor.

Tá. Ingressei definitivamente no clube das mães.

 

O melhor perfume do mundo

Eu precisei ter Alice para descobrir o melhor perfume do mundo:
nem Dolce Vita, nem Chloé, nem The One, nem J’adore, nenhum outro. O melhor perfume é o cheiro que ela tem, que eu não me canso de sentir, todos os dias.

O melhor sorriso do mundo, o mais belo;  a maior alegria é a dela.

O maior conforto que se pode ter é descobrir o quanto de conforto você representa para o outro. E quando ela acorda, todas as madrugadas, e chama gritando MAMÃE!, eu amo poder estar viva para pegá-la no colo e me sentir, junto, acolhida. Porque, nestes momentos, a minha vida se enche de sentido e significação.

Fotos cininar

A idéia eu já conhecia. Li sobre o projeto há algum tempo na cidade de São Paulo. Torcia para alguém fazer algo parecido aqui em Salvador senão eu mesma teria uma iniciativa destas por puro desespero. É que sair da caverna após ter filho não é nada lá tão fácil assim. Precisamos de apoio. E o cininar Salvador chegou até a minha pessoa. Foi um comentário aqui no blog, lá no post sobre o teatro.

E lá fomos nós!

Ilana e Aslan no Cininar

Ilana e Aslan no Cininar

A ambientação da sala de espera do cine UFBa estava compeltamente voltada para as necessidades das mamães e de seus filhotes.

Alice e Aslan se divertindo antes da sessão para mamães começar

Alice e Aslan se divertindo antes da sessão para mamães começar

O tempo de início da sessão foi um excelente momento para os bebês brincarem na excelente estrutura montada e para as mamães conversarem.

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E só esta parte foi tão legal que já fez sentido sair de casa com as crias.

Taty e a fofa

O ambiente é muito bom porque, em primeiro lugar, todas são mães e entendem que bebês choram… mamam… fazem birra… e ninguém faz cara feia porque, digamos, os papais e as mamães que comparecem estão no mesmo barco!

Mães à vontade

Mães à vontade

E era possível dar mama tranquilamente também…

Amamentar... que delícia!

Amamentar... que delícia!

Era uma vez uma mãe chorando no teatro

O dia foi hoje. A idéia foi da tia atriz. O avô achou maluquice. A mãe topou na hora. Arriscou para ver como seria a estréia de Alice no teatro. Como espectadora, entendam.

Começou a dúvida a caminho: eu quase desisto de sozinha levar a baby mais  sacola e bolsa. A babá já viajara para a sua semana santa. Mas me lembrei bem de quem eu sempre fui:  apertei os cintos do bebê conforto e torci para ela não chorar muito até lá além de o trânsito também colaborar conosco.

Ela não chorou.

Encontramos a tia logo no estacionamento e fomos direto ao camarim, saber da notícia de que algumas crianças tinham chorado na véspera ao ver o coelho. Pensei com os meus botões: se ela chorar, dou peito para acalmar  ou saio de mansinho se não resolver. Paciência. Meio apavorada, meio confiante no meu taquinho de gente, avisei que qualquer coisa me perdoassem e que eu sairia estrategicamente pela esquerda se necessário.

Pense então em Pandora diante da caixa mágica…

foi Alice.

Enquanto os atores se maquiavam no camarim, ela sorria alegre, balançava os bracinhos, sacudia as perninhas e olhava todas as coisas: os espelhos, as luzes, as maquiagens, os atores e uma bandeja de pães (com cara de pidona – obrigando a mãe a disfarçar e levá-la ao outro lado, lógico).  Pois Alice adorou o tal do coelho. Olhava  tão curiosa para ele, que ríamos sem parar. Ela parecia então a estrela maior. (E era.)

Desci para guardar o lugar não sem mudar pelo menos umas cinco vezes até que retornei ao primeiro que me fora reservado: na primeira fila. Enquanto o teatro se enchia de crianças de escolinhas, ela observava hiper atenta toda a movimentação. O que eram as cadeiras, as filas, as professoras, as crianças de mãos dadas, os gritinhos desta ou daquela, os risos. Na telona, rolava um filme para aquietar a garotada. Mas Alice não lhe deu muita bola e eu cheguei a suar frio, temerosa de um escândalo com lágrimas por causa de um som mais alto ou tenso, de uma gritaria infantil qualquer ou mesmo do apagar das luzes.

Ela resolveu, ao toque do primeiro sinal, dar sinais de impaciência e reclamou daquele jeito chatinho que só os bebês conseguem. Comecei a ficar mais apreensiva. Numa ginástica em que só as mães são bem sucedidas, abri o fecho da sacola com Alice no meu colo, peguei a mamadeira, a garrafa de água e a lata de leite. Com uma mão apenas funcionando, destampei a mamadeira com cuidado para tudo não cair no chão, enquanto ela se sacudia e escalava meu colo para subir de pé e olhar a sala de espetáculos, coloquei a tampa da mamadeira virada de cabeça para cima em minhas pernas – a esta altura ela já queria pegar tudo que estava em minha mão ,  abri a garrafa de água, despejei na mamadeira, fechei de novo – e ela escalando, guardei a água, peguei a lata de leite, medi as benditas sete colheres (quem mandou eu esquecer o porta-leite-com-medida exata?), fechei com muito cuidado a mamadeira enquanto ela já gritava ao ver seu lanche. Sacudi forte para misturar ao som do segundo sinal.

Ela deitou e aquietou, rezei para ela dormir se não fosse ficar legal e imaginei umas trinta vezes onde era que minha cabeça estava para levar um bebê de sete meses ao teatro.

Pois soou o terceiro sinal e Alice olhou atenta a movimentação dos personagens que desciam coloridos por entre as filas de cadeiras abarrotadas de meninos e meninas.

A danadinha acompanhou a peça atenta, riu e demonstrou a maior atenção. Gostou. Quando o som ficava forte ou as luzes se apagavam, eu a abraçava mais pertinho. E se a platéia gritava com o coelho “É tarde, é tarde, é tarde!”, ela, como num jogo de tênis, revezava o olhar entre o palco e as cadeiras atrás de si, muito curiosa com o que acontecia.

No meio da peça, mais ou menos, Alice deu para me olhar e gargalhar, como quem diz “Tá vendo, mamãe?”, “que coisa maluca!”, “Que coisa engraçada!”, “estou me divertindo” e sorria, sorria, sorria. Com seus sete meses de vida, uma bebezinha ainda, ria de dar gritinhos e gargalhava de encantamento. Nesta hora, eu caí no poço de emoção e as lágrimas simplesmente me lavaram o rosto e a alma. Orgulhosa de minha filha e da

relação gostosa que ali se celebrava entre nós, chorei como só mesmo uma mãe pode chorar. E me lembrei também das tantas vezes em que minha mãe me levara ao teatro.

Se a música ficava tensa e muito alta, ela recostava leve a cabecinha em meu ombro como quem tinha a certeza de que a mamãe estava ali.  Mas o clímax ainda estava por vir. Por segundos, os personagens se calaram no palco. Acho que Alice entendeu que era a hora então de ela falar: com os bracinhos em largos gestos italianos, sacudindo-os afoita, a minha filha no idioma dos bebês palestrou um pouquinho, interagindo com a trupe em alto e bom som. E foi o sucesso porque os atores e o teatro inteiro ouviram-na maravilhados. Olhavam para ela e sorriam.

Quem herda não furta, diriam. Ao que parece, não só na minha veia corre o amor pela arte. A pequena Alice deu um show hoje.  A peça foi O tesouro mágico, de Xanda Fontes (a titia querida), encenada no Teatro Jorge Amado às 14 horas.

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É lógico que depois da sessão teve mais camarim, com direito a muito colo e abraços coloridos. A festa foi de Alice. Foi por isso que eu não deixei de dar umas beliscadas roubadinhas em um pãozinho para alegrar a barriguinha da minha estrela: e a mocinha ainda mastigou com seus dois dentinhos de boca fechada. Pode?

Voltamos exaustas às 17. De novo, ela não chorou no carro. Estávamos muito felizes para isso. Cúmplices e felizes demais.