A casa é sua

Feliz ano novo!

Toda vez que eu penso em deletar o blog ou trancafiá-lo para sempre, sei que é hora de rever as pessoas com quem estou andando. É que se há censura para ser quem sou, dizer o que penso e escrever, algo anda muito errado nestas paragens. E então hiberno sempre, adiando as decisões. E o pior: paro de escrever.

Faz tempo que penso em mudar o nome desse blog. Mas a mudança vem e volta em meu coração. Cheia de ressalvas ainda. Caminhemos por aqui mesmo então.

Em 2015, desde primeiro do ano, fervilha em mim a vontade de retomar a escrita do blog, mas só hoje pude realmente me dedicar. Questões de matutar e também de ter acesso à conexão que prestasse – afinal de férias ninguém deve ficar on line muito tempo se tiver juízo.

Então feliz ano novo e feliz recomeço!!! Estou (querendo estar) de volta!

Impressos

Vara fina, mãos que esperam.

Escrituras.

Linhas se delineiam no chão de areia e terra batida

ao redor da menina

no rastro da mulher .

E rodopiam mulher e rastro, terra e fogo.

Calos nas mãos de escrita,

nos pés descalços.

Na alma, rasgos e palavras.

Percalços.

Escrevo

Escrevo para desopilar.
Escrevo para desencontrar.
Escrevo para não surtar.
E escrevo porque surto.
Escrevo porque sussurro. Escrevo porque falo. Porque ouço. Porque grito. Porque choro. Escrevo porque rio, sorrio, gargalho. Explodo.
Escrevo porque há lápis. Mas gosto mais de caneta.
E teclo. Quase como penso.
Escrevo. Rabisco. Não apago. Publico.
Escrevo e encontro. O outro. O amigo. O inimigo. O sonho. O etéreo. O impalpável. O mito.
Os íntimos.
Serena canto palavras no papel.
Insana rasgo as mãos em palavras.
E elas brotam estúpidas, pálidas, pesadas.
E leves, mais leves que a alma.

Alena Cairo

Sobre a morte do candidato

A dimensão humana de uma tragédia é a dimensão humana de uma tragédia. Está certo.
Mas daí a quase uma timeline inteirinha do facebook que nunca tinha publicado sequer um postzinho do mais ordinário ou minúsculo sobre o político falecido e, de repente, virar carpideira eleitoral do defunto… me façam uma garapa.

A psicologia explica a tendência a santificarem os mortos. E a cultura popular também. Não, eu não tenho saco para isso. É um atentado à inteligência.

…Embora

O último vinho não é a última taça… quiçá a última gota.
A última ponte não é a última esperança… quimeras da última aliança.
A última foto não é a última morte… nem a última câmera.

O último sonho não é o findo suspiro… quem dera a lembrança.
A última lágrima não é a doce lembrança… choro de criança.

O último vento não é a finada cortina… ainda desolação.
A última chama não é o esperado orgasmo… sequer deleite.
A última dor não é o último pulso… voo transcendente ao infinito.

Esperas. Demoras. Que horas? Embora.

Bacante

Se aí estivesse hoje, faria amor…

Bacante.

Olhos nos olhos ouvindo a canção.

É que eu tomei um vinho bom hoje há pouco

então a música tocou e me lembrei de ti

e tem dias em que a gente faz amor na vida…

Hoje eu faria… 

Do tipo olhos nos olhos e puro sentimento

quando penetrar é comunhão com o outro –

aquele momento único em que se sente o ser humano,

na hora em que se ouve estrelas e se 

sente como na nona sinfonia de Beethoven.

Estou toda mulher

materializada em seu desejo

sentindo intensamente. 

O choque do contracheque

Hoje à tarde, eu recebi algumas ligações estranhas. Mandei sms perguntando quem era. Era uma mãe de aluna. A secretária havia dado (com cacófato, sim!) o meu telefone à figura (oi?). Mas era uma ótima mãe. De uma ótima aluna. E ela queria saber se eu poderia adiar a entrega do trabalho da filha.
Você pode estar aí pensando que eu disse não. Mas eu perguntei por quê? É que minha mãe me ensinou que “nada tem que ser, mas tudo pode ser”…
E ela, a mãe da aluna, me respondeu que a filha tinha resolvido doar a (linda e vasta) cabeleira ao GACC (Grupo de Apoio à Criança com Câncer) depois de visitá-lo. E ela, a mãe, não tinha tido tempo ainda de levar a garota para cortá-lo.

É que eu passei um trabalho em que cada aluno , após ler sobre o profeta Gentileza, ouvir músicas e estudar uns textos sobre ele e sobre o tema, fizesse uma gentileza urbana.
A garotinha de 13 anos leu, estudou, foi a instituições de caridade, plantou árvore, distribuiu flor na praça e… resolveu doar cabelo para fazer peruca para crianças com câncer.

E eu às vezes não sabia que se poderia ser tão melhor assim como humanos. E esses meninos e meninas podem ser. E eu gosto disso.

É. É esse o salário indireto de idealistas como eu que entram na sala de aula todos os dias.

Sim, e isso ameniza o choque do contracheque.

Porque eu.

Porque eu preciso de poesia. Porque eu preciso de amigos. Porque eu preciso de amor. Porque eu só sei amar inteira. Porque eu só sei caminhar feliz. Porque os meus fantasmas andam comigo, mas dançam de vez em quando. Porque eu sou a minha estrada. Porque a poeira faz parte. Porque o riso nunca foi preso. Porque não me mataram.