Beauty and the Beast

Zapeando para lá e para cá mil vezes a tv, caí na estreias de 2012 do Universal Channel: Beauty and the beast e Elementary. Assisti a ambas desde o primeiro episódio. O argumento narrativo de Elementary é obviamente sensacional porque baseado no velho e bom Holmes, mas tem algo errado com a velocidade das investigações ou com a sensação de passagem de tempo na série e, embora a veja, sinto que não emplacou bem comigo.
Já Beauty and the Beast foi me arrebatando num crescente típico de uma boa narrativa, capítulo a capítulo. A fórmula é simples: construir o enredo sempre criando a expectativa para a sequência, deixando-nos o gosto de quero mais, a vontade de saber o que é mesmo que vai acontecer depois. Junto a isso, um casal novo na tela com potencial e uma história com a (também) velha inspiração : desta vez, nos contos de fada. Poderia ser piegas e banal, mas o elemento mutação genética dá um quê moderno e verossímil que me agradou deveras.
O fato é que nos fizeram esperar muitos e muitos episódios pelo primeiro beijo e a primera transa demorou séculos (15 episódios) e nos deixou com gosto de quero ver mais. Lógico que assim que descobri a série em exibição on line assisti a primeira temporada todinha e aguardo agora a segunda, que só vem depois de setembro ao que se fala.
Mas tudo isso era só para dizer que este foi o casal de ficção que melhor embalou os meus arroubos românticos nos últimos meses. Passei muito tempo pensando e tentando descobrir os porquês de eu gostar tanto de Vincent e Cat até que matei a charada: ela é bonita, mas forte, inteligente e ágil, ao mesmo tempo, doce; ele, charmoso, másculo, sensível e, embora uma ‘fera’, apaixonado por ela. O resultado desta equação simples, bem aos moldes dos eternos contos de fada, é o resgate do mito do companheiro protetor que enfrenta os perigos e obstáculos para ter a amada no colo. E a tem. E como é bom sonhar com proteção!

Por isso , hoje, no dia dos namorados, este vídeo:

 

AMOR ?

O filme AMOR ? de João Jardim simplesmente incomoda.  AMOR ? incomoda porque, de forma íntima expõe os bastidores de casais que se encontraram por causa do amor, do gostar, de afinidades e de tesão. O problema é que ninguém nunca sabe onde é que acaba a linha tênue entre o afeto e começa a agressão.

Onde parar? Quando dizer não à relação antes que ela se desencaminhe para o desrespeito, a dor e a mutilação física ou psicológica dos envolvidos?

Relações doentes, passionais, permeadas de afeto, mas fora do padrão saudável de normalidade. João Jardim, sensível, consegue o que nenhum outro filme alcançou: sem expor a cena brutal da agressão, trazê-la totalmente à tona através dos depoimentos dos personagens, numa narrativa psicológica verossímil e tensa – por vezes tímida ou constrangida. E constrangedora. 

É uma narrativa construída através da encenação de depoimentos reais, transcritos e entregues a nomes de peso da dramaturgia brasileira como Lília Cabral e Du Moscovis. O sucedâneo de depoimentos que aborda as histórias pessoais de casais dilacerados pela agressividade de um ou outro cônjuge ou de ambos, na tela, nos causa a sensação de que todas as histórias são, na verdade, uma só.

Sempre pensei que filmes bons me causam a vontade de falar. Amor ? foi diferente. Silenciou-me.

Leitura sofrível

E escrita também. Pense num livro que não alcança o interesse do leitor : O clube do filme. Uma história insossa que talvez pudesse até convencer se fosse contada por outra pessoa ou de outra maneira. Mas a narrativa é tão monótona que a leitura só prosseguiu porque eu tinha o otimismo de que, em algum momento, alcançasse um clímax.  Nada. Não chega a canto algum.

Um pai resolve dar a seu filho adolescente entediado com a escola e com rendimento baixo a oportunidade de abandonar a sala de aula e nada fazer em troca – nem trabalhar nem pagar aluguel – mas apenas se comprometer em assistir a alguns filmes com ele, no mínimo três por semana.

Fora duas relações amorosas um tanto traumáticas para o garoto Jesse, o fato de tocar numa banda e fazer uma viagem para assistir a um show – até então nada contagiante ou fora do lugar-comum – bem como o envolvimento rápido do garoto com cocaína, que não chegou a ser um vício… ademais, nada há na narrativa a não ser as próprias impressões do autor, David Gilmour, sobre os filmes a que assistiu na vida (ele próprio crítico de cinema). A vida comum pode ser excelente pauta de livros, mas a impressão que fiquei foi a de que em nada me acrescentaram. Nada. Tudo muito óbvio, muito nhenhenhém.

O problema prossegue: as opiniões de Gilmour sobre as  películas aparecem de forma superficial, ressaltando um momento um tanto quanto óbvio em cada filme, um ator ou diretor e o garoto não consegue também nos entusiasmar embora por vezes discorde do pai. A narrativa das escolhas de filmes que vai fazendo é cansativa, um roteiro, um manual. Chato demais. Parece um diário de anotações sobre a experiência que depois foi impresso. Mas um diário sem emoções. Sem vida. Como uma lista de supermercado.

Tipo de livro que vai parar num sebo rapidinho. Aos montes.

Universo feminino?

No meu aniversário, ganhei alguns livros muito legais dos amigos. Um deles foi o da blogueira Tati Bernardi :

Li no sábado após a festa, rapidinho. Fiquei com um mau humor incrível e cheia de vontade de descascar o meu namorado. Adorei algumas crônicas, outras nem tanto. Gostei de rever o estilo franco que a vida de mesuras romanescas imprescindíveis à sobrevivência de qualquer relação ‘normal’ me fez atirar nas entrelinhas de mim mesma e afogar no riso pecaminoso dos encontros com as amigas.

O outro livro foi a menina que roubava livros de Marcos Zusak (Sidney, Austrália). Achei o título genial e não passei incólume por ele. Gastei meus 39,90 reais e vim para casa feliz, carregando o livro, Liesel Meminger e a sua história com a morte. Três dias depois, uma facada: a Saraiva me mandou um e-mail anunciando a fantástica compra da obra por R$22,90 (quase tive um infarto). Mas vamos lá: não se ganha sempre.

A passagem mais tocante para mim de a menina  que roubava livros foi a  seguinte:

“Uma pequena definição não encontrada no dicionário

Não ir embora: ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças.” (p. 37)

A estratégia narrativa é maravilhosa e o título genial. A morte é a narradora. Parabenizo o autor pela idéia, mas… não sei se foi questão de tradução ou de adaptação para a nossa língua ou se a história deixou mesmo a  desejar. Não mudei nada após ler o livro, senti que foi entretenimento apenas. E olhe que eu reservei para ele uma tarde fria de sábado ( a capa é a morte andando na neve) na qual eu devorei 405 de suas 495 páginas.

A narrativa na voz da morte é piegas em diversos trechos da história doce de uma menina pobre adotada por uma família um pouco menos miserável que a sua mãe – que desaparece. Liesel viveu na Alemanha da Segunda Grande Guerra e viu os horrores do nazismo do alto de seus olhos inocentes e feridos pela perseguição aos judeus, pela ida de seus novos parentes à guerra e pela morte (claro) de muitos dos seus conviventes. O romance, apesar de tudo, não convence. O ponto de vista narrativo da morte enfraquece e torna um fio tênue a ligação do leitor com a personagem. Não conseguiu atingir a força das emoções de Liesel, há um distanciamento que nos faz sentir apenas meros espectadores de um filme que se passa lááááááá na tela da tv, com todo o metro entre o aparelho e o sofá atestando que não foi conosco, aquela sensação de ah, tá, e daí?

É uma pena. A idéia foi instigadora.

Ó paí, ó!

Quem usa sapato alto, anda apenas na praça de alimentação do shopping Iguatemi e mora nas ilhas prediais de luxo da cidade de Salvador pode estar incomodado com o resultado na tela da filmagem de Ó paí, ó.

A preocupação de alguns é que se firme o estereótipo de baiano que aparece na telona no estilo Casseta & Planeta.

Terça-feira à noite, fui ao cinema conferir o resultado. Pasma, na cadeira, adorei ver a reprodução imagética da minha Bahia. Senti o filme como um recorte da cidade de Salvador. Andar pelo Pelô e na Feira de São Joaquim ou no Porto da Barra é realmente deparar-se com uma realidade que o cinema captou de forma quase documental, embora haja a recriação artística e a adaptação da ficção. 

 

Olhe para aí, olhe (Ó paí, ó). Porque, cegos em seus guetos vigiados, os privilegiados da nossa cidade e do nosso mundo não vêem ou fingem não enxergar o que tanto incomoda na tela. 

A Salvador que se incomoda com o que o filme apresenta é a mesma que fecha os olhos para o apartheid do carnaval baiano, a mesma que ignora com vidros fechados nas sinaleiras os menores pedintes, a mesma Salvador que despreza o negro, o pobre, o marginalizado. É uma Salvador que não se importa que haja cordeiros (seguradores de corda) no carnaval para os ricos pularem com conforto e segurança. É a Salvador que dá de ombros para os R$14,00 que cada cordeiro recebe. É a Salvador que não percebe a concorrência entre os catadores de lata que precisam de crachá e credencial para no carnaval arranjar um sustento.

Existem outras cidades que não aparecem no filme. A cidade da Mc Donald’s, do Horto Florestal, dos shoppings e condomínios de luxo. Não aparece no filme o menino de barriga cheia, nem o estudante das escolas particulares, os empresários da Tancredo Neves.

Mas a realidade de que trata Ó paí, ó é a vida cotidiana de moradores do Pelourinho, de Coutos, do Trobogy, de Paripe, do Subúrbio Ferroviário, da Ribeira… 44% da população de Salvador vive abaixo da linha da pobreza. Isso significa que não vai ao cinema, não tem emprego, moradia, dignidade garantida. 

O filme só pode mesmo incomodar às ilhas de intelectualidade que gritam em cima de bancas universitárias num chilique que combate o estereótipo de um baiano que ri e dança apesar de. Tanta coisa.

Convido os preocupados com o recorte do filme a visitar São Joaquim, a andar pelo Pelourinho, olhando para além das portas e fachadas turísticas dos casarões. A visitar na Saúde os cortiços repletos de excluídos. Esta cidade  faz festa, tem futebol e carnaval. Também tem tóxico, tráfico, vendedores de café, meninos na rua …

Gostei do resultado, tive vontade de aplaudir o filme ao final da sessão. Não me preocupo com aqueles que acharão que a Bahia é apenas isso nem com o preconceito de sulistas que se julgam superiores. Porque mais forte do que tudo para mim foi a divulgação de que a Bahia também é o que nos faz estupefactos exclamar: Ó paí, ó!

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Quarta, nas Faculdades Jorge Amado, recebemos parte do elenco do Bando de Teatro Olodum e  Márcio Meirelles e outros convidados para um debate. Depois, mais informações e a resenha do evento.

300 de Esparta

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Leônidas nas Termópilas (David, Jacques-Louis Musée du Louvre)

Histórias gregas sempre atiçaram a minha imaginação de menina. Entre as opções de filmes que havia no sábado, escolhi, portanto, assistir a 300 de Esparta.  Àquela altura, não tinha noção dos quadrinhos nem da concepção original do filme.

Luzes apagadas e extensos minutos de cansativos traillers, intrigou-me, inicialmente, a imagem em sépia. Desejei muito ver o mar azul da Grécia na telona, como nas cenas de Capitão Corelli. Por isso durante vários minutos estive atenta ao segundo plano das cenas. Até que a ‘ficha caiu’: nenhum grande homem ou guerreiro ganharia atenção dos espectadores em detrimento do azul do mar grego.

Eu vi o mar de Santorini na Grécia

 A narrativa nos remete a 480 anos a.C. quando o rei Leônidas (interpretado por Gerard Butler), espartano de grande honra e destemido guerreiro, luta contra o Império Persa do rei-deus Xerxes (Rodrigo Santoro) no desfiladeiro das Termópilas. Se o figurino de ambos os personagens deixa a desejar porque adereços de guerra foram desconsiderados tanto na concepção fílmica quanto nos quadrinhos e o rei da Pérsia aparece, por exemplo, cheio de piercings,  não posso deixar de aplaudir a caracterização do Leônidas enquanto grego. Ao ver a projeção do espartano, imediatamente fui levada ao Museu Nacional de Atenas, onde está exposta a estátua de Poseidon. Compare:

Se o Leão de Esparta foi tão bem representado por um lado, por outro há hipérboles imagéticas que me decepcionaram. Embora a licença ficcional do cinema permita o inverossímil  e gere o efeito de realidade,  infelizmente não mergulhei no efeito do real porque os inimigos persas estavam tão caricatos e alguns humanos tão monstruosos (como um grandão brutamontes deformado e acorrentado e o traidor e miserável Ephialtes) que só pude pensar na subliminar e pobre visão maniqueísta do mundo. Se Platão dicotomizou as forças do Bem e do Mal, é fato que a filosofia moderna já superou as falhas de um mundo tão estoicamente organizado. “Para além do Bem e do Mal” ( Nietzsche)  talvez seja uma leitura para os autores/diretores da atualidade que ainda insistem em um ponto de vista partidário ao extremo. 

Na linha do inverossímil, as bestas apocalípticas que como feras encarnam todo o mal inimigo  (os elefantes e o rinoceronte) parecem mais saídos de um filme de terror que daqueles navios depois de dias no mar: improvável que fossem domesticadas para atacar apenas o inimigo grego. A história conta outra versão e não há registros da presença destes animais na referida batalha, mas apenas em outra 200 anos após. 

Ainda a descortinar a crítica, embora assuma o ritmo de game moderninho na luta e apresente um Xerxes (Rodrigo Santoro) com 3 metros de altura, o filme agradou-me. Fez-me recordar os idos do colégio quando o professor de história em 1992 contou-nos na sala a Batalha das Termópilas. A aula do mestre Miguel Dratovinsk foi repassando na minha cabeça e adorei ver, no cinema, a representação daquilo que imaginei no passado (melhor ainda -uh lá lá – porque, na época, eu não tinha conhecimento do belíssimo corpo dos gregos).

O expansionismo persa nos lembra a estupidez da sanha humana pelo poder, assim como os EUA ainda hoje revelam ao ocupar o lugar do grande Império do século XX, já ameaçado no terceiro milênio pela China. Terras e mais terras com suas riquezas em  troco de vidas que são sacrificadas pela vaidade de ditadores insadecidos pela supremacia tão ansiada.

Por outro lado, a honra dos espartanos me deixa saudosa dos tempos épicos e também líricos em que os homens defendiam a sua pátria, as suas mulheres e crianças. 300 de Esparta nos traz valores há muito usurpados pelo torpe capitalismo. Nos tempos de agora, homens moderninhos se vendem a qualquer preço, traem valores, instituições e a família por qualquer ‘trezentos’ que lhes molhe o bolso. É uma pena.

Mestre Haroldo… e os meninos

Mestre Haroldo… e os meninos  está em cartaz de sexta a domingo às 20 horas na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. A peça de Athol Fugard conta a história de Reri, um adolescente branco filho da dona de uma lanchonete onde trabalham Samuel, um garçom negro de 50 anos, e Valney, faxineiro negro  de aproximadamente 45 anos.

O velho Samuca criou Reri, muitas vezes fazendo-lhe o papel de pai uma vez que este, na verdade, era um alcoólatra inveterado. Estudou com o menino, ajudou-lhe com as lições, empinou pipa e carregou-o no colo nos momentos difíceis. O menino cresce e, adolescente impiedoso, diz impropérios ao velho Samuca, cospe-lhe na cara e exige que o trate por Mestre, assim como o Valney já fazia.

O clímax da peça ocorre em meio às gargalhadas do adolescente que repete ao velho Samuca a piada racista que o seu pai biológico lhe contava repetidamente no lar. A revolta de Samuca faz da tensão grotesca que se forma um momento lírico de libertação do preconceito, da discriminação. Uma lição de moral e amor.  

Gideon Rosa, no papel de Samuca, emociona uma sala inteira e rouba, literalmente, a cena, protagonizando o conflito que Athol Fugard, autor africano, transpôs para o teatro num ato único. Como Mestre Haroldo, o ator Igor Epifânio e, como Valney, José Carlos Ngão.

A peça, ambientada numa lanchonete dos anos 50 na África do Sul, nos remete ao Brasil que também discriminou nas fazendas escravocratas as amas de leite e os pajens. Um Brasil que gerou filhos brancos preconceituosos capazes de humilhar aqueles que mesmos que os criaram na infância.

Ao final do espetáculo, os atores bateram um papo conosco. 

O diabo veste Prada

Crédito da imagem: https://i0.wp.com/www.cinemacomrapadura.com.br/filmes/img/1937-2006-06-21-19:06:09_8.jpg

A maior recompensa de O DIABO VESTE PRADA é, realmente, ver o esbanjamento de charme e classe de Meryl Streep, magnífica no papel de Miranda, editora de moda da revista Runway, a mais importante de NY. O filme revela os bastidores do mundo da moda. O enredo é fraquinho,  cansa o espectador e faz a coluna sentir o incômodo da cadeira. Interessa a poucos e não chega a ser nem politicamente correto nem incorreto. Meio constatações de como são as coisas no mundo fashion.  Anne Hathaway interpreta a recém-formada em jornalismo que consegue o seu primeiro emprego , justamente como assesssora da terrível Miranda, misto de deusa da moda e diabo de chefe.

Soube agora que o filme é uma adaptação do livro homônimo, de Lauren Weisberger. Admira-me esta obra virar best seller com tanta literatura precisando de leitores no mundo, mas vamos lá, metáforas não são mesmo para todos e o mundinho fashion das celebridades é o norte dos valores vigentes então. A autora foi assistente da editora da Vogue americana e parece que a voz d‘a vida como ela é’ acabou por apimentar mais ainda a vendagem do livro.

Mito ou realidade, se o diabo veste Prada, todos podem concluir que ele é um show de elegância. E se o diabo veste Armani, Gabbana, Dior, Valentino e o que mais do gênero, além de endinheirado – não dizem que foi ele que inventou o $$$? – o tinhoso é  de muito bom gosto. O que me atraiu ao longo do enredo, que deu sono realmente, foi o mundo de faz-de-conta e a tirania das editorias. Miranda é realmente espelho de muitos editores , capazes de vender até a alma ao diabo para ter certas benesses. Uma troquinha de favores aqui, uma puxação de saco ali, e milhões de dólares gerados pela indústria da moda. É o espelho de pessoas que vivem de flashes e sorrisos, diplomáticas, mas , na verdade, toleram-se umas às outras.

Nada contra a moda, nada contra os estilistas. Aliás, os melhores momentos do filme são realmente os desfiles de modelitos. O diálogo de Miranda com a subalterna explicando-lhe sobre a cor do suéter dava uma aula de análise crítica muito boa. Aliás, o clímax do filme para mim. A secretária de Miranda entra no manequim  do papel. Ótimo pensar que a moda crucifica quem veste 40. Acima disso, nem existe! Paradoxo é ver a própria Miranda exibir com elegância quilos a mais e a mais e a mais do que o restrito padrão de 34 a 38. Quem tem um pouco de massa encefálica, entende a crítica que perpassa levemente satírica o enredo. Os demais? Deslumbra-se-ão e considerarão a  heroína Andrea tola.

Paris em flashes vale a pena: dá para quem a conhece sentir o frio gostoso da saudade. Mas o final, diante do desenrolar dos fatos: pouco provável. Sem contar no editor que paquera Andrea… tsc tsc tsc… personagem mais improvável impossível.  A relação de Andrea com o love também … tsc tsc tsc…

Bom, só para não dizer que não falei dela,  Gisele Bündchen faz uma mini ponta no filme. Bela como sempre, mas nada que chegue a lhe dar algum sal a ponto de a considerarmos  como algo mais que uma figurante. Foi ela, mas poderia ter sido qualquer outra ali.

É inútil o filme? Não. Mas também não chega a ser bom.

Xeque-mate, o filme

Excelente filme! A narrativa consegue ter coesão do início ao fim. Considerando-se o que andamos vendo no cinema recentemente, há que se aplaudir a seqüência realmente lógica das idéias. A sucessão de cenas aleatórias a que assistimos no início, aos poucos, vão fazendo sentido e são recuperadas ao longo da história, encaixando-se coerentemente na trama dos fatos. A ‘trapaça Kansas City’ é o elemento condutor da história.

O enredo é aparentemente simples: um garoto é confundido com outro rapaz: estava na hora errada, no lugar errado e caiu nas mãos de poderosos chefões do crime e do jogo de New York. Sem opção, enfrenta um e outro, sabe de ambos o que deve fazer e parte para cumprir sua missão.

Interessantíssimo o poder que a arte tem de projetar nossos sentimentos e nos conduzir a sensações várias. Adversamente à moral social comum, como justiceiros que aguardam ansiosos o acerto de contas, a platéia termina por sentir o bem doce sabor de vingança pelas mãos de Slevin Kelevra (Josh Hartnett). Nada de esperar pela polícia ou pelo juízo final : justiça feita, filme com ares de ‘é melhor agir por conta própria’, porque o Estado ou a Providência deixam, infelizmente, muitos bandidos impunes.

A ação garante atenção do início ao fim, mas as almas mais sensíveis não devem arriscar seu estômago: as cenas de morte  exploram desde cabeças estilhaçadas por explosivos tiros de armas potentes, passando por asfixia e chegando até mocinhas assassinadas à queima-roupa. O personagem de Willis desde o princípio deixa muito claro que a Trapaça Kansas City será uma ótica que reverterá a nossa visão: quando pensamos que o inimigo está de um lado, ele, na verdade, estará do outro.

Bruce Willis, além de charmosíssimo na pele do GoodKat, esbanja maturidade e charme na interpretação do assassino por encomenda que é encarregado de matar o filho do Rabino, (Ben Kingsley) arquiinimigo adversário do Chefe (Morgan Freeman – também espetacular na frieza do papel do gângster).

Nas entrelinhas da história, ainda um final moralizante. Os temidos rivais do submundo do crime novaiorquino terminam por destruir-se a si mesmos em vida: encarcerados em prédios de segurança máxima, passam a vida a odiar-se e vigiar-se mutuamente. Do cárcere privado em vida, chegam à auto-destruição: à armadilha que os conduz à presa fácil dos assassinos que eles próprios contrataram.

Envolvente, emocionante, boa diversão nas telonas. Vale o bilhete e a pipoca.