Férias e… algo mais

Desde que tive Alice, ainda não parei para respirar. Digamos que agora, quase um ano depois, eu estou começando a me centralizar de novo (ou seria descentralizar?).

Desde que engravidei, a’ficha’ de ter um filho ainda não havia caído. Foi tudo muito mágico como se eu própria estivesse na tela de um filme assistindo a mim mesma. Meio onírico, surtado, sei lá. O fato é que eu ainda não conseguia me dar conta de que estava grávida ou, depois,  de que tinha uma filha. É lógico que eu saBIA. Mas o estado consciência e contemplação ainda não chegara. Não.
Até este mês pelo menos.

É que agora eu percebi que tenho uma filha e estou tão apaixonada por ela, por mim, por nós, nossa família,  e pela vida que eu só penso em comemorar, festejar, alegrar-me.

Para completar o brinde, estou de férias na faculdade.

Então, digamos, meu mês de julho vão ser sonhos diários. Muitos.

E, para completar, eu estou apaixonada por cupcakes.

É que era São João…

Toda vez que eu não estou num interior brabo, cheio de fumaça de fogueira, de calça jeans e bota, ouvindo trezentas mil vezes os forrós-poemas de Gonzagão, eu morro de tristeza e saudosismo do que era São João…

É que meu avô armava uma fogueira e seus quatorze netos ( nós), nos divertíamos demais a soltar bombas e mais bombas,  a rodar chuvinhas, estalar traques e comer milho e amendoim até estourar… Fora o amanhecer com os adultos na fogueira, contando casos enquanto eu e meus primos contávamos estrelas no céu. Assávamos milho na fogueira e fazíamos também um churrasco de fim de noite na brasa linda que ficava a me encantar… eu que sou de leão, elemento fogo.

Fui ao shopping e vi talvez a cena mais falsa da humanidade: o pobre trio de nordestinos com triângulo, zabumba e sanfona a passear pelos consumidores tocando enquanto todos ansiavam a folga para curtir o forró. Um casal de caipiras a caráter dançava e fazia de conta estar num aquadrilha imaginária. Fala sério… Apesar do dinheiro, creio que nem eles gostam daquilo ali. Sentem falta do calor da noite de São João.

Sem graça, tive três na vida: o deste ano, quando fui dormir assimq ue Alice deixou; em 2008, quando o marido estava viajando a trabalho e fiquei grávida e só em casa; e o de 2005, quando fiquei na noite do dia 23 em Pinheiros, São Paulo, a olhar o sol se pôr da janela e pensando no quanto é sem graça o São João das capitais…

Contabilizando meus quase 3+4… Três não é para me desesperar. Foram então 31 bons … Na chácara de meu avô, em Feira de Santana com a família gigante reunida, em Serrinha, no Bom Sucesso, em Bonfim de Feira, em Santo Estevão, em Areia Branca, em Aracaju, em Lençóis, em Amargosa, na Chapada, em Recife…

Ano que vem, prometo que teremos São João!

Que saudades dos festejos juninos… muitas mesmo.

Era uma casa muito triste

Dia sim, dia sim,
ela acordava com as grosserias dele.
Não ouvia um bom dia,
não recebia um agrado
nem um abraço,
um beijo sequer.

Era uma casa muito triste.
Ela não podia receber as amigas.
Não prestavam, não eram decentes, não interessavam.
Para ele ela também era puta. Sem ser.

Era uma casa muito sem graça.
Tinha teto, tinha sofá, mas não tinha colo.

Era uma casa muito sem jeito.

Ela perdeu a alegria de viver,
o sorriso espontâneo, o abraço largo.
Era só um ser sem graça um dia após o outro.

Ela nem dormia bem. Nem ele.

Pudera…

Era uma casa muito vazia.
Não havia amor nenhum dia.

Tinha livros, os quais não se comentavam.
Tinha música, as quais não se escutavam.
Tinha filmes que eram vistos a sós.
Tinha vinho, motivo de simplesmente beber.
Não, eles não brindavam nem sorviam.

Tinha comida, a qual era deglutida, engolida – raras vezes saboreada.

Por isso essa casa não tinha nada.

Era uma casa muito sem par.

Mudaram de casa.
Então a casa sorriu por sete dias quando o mar aparecia da janela. E o falcão voava. E os pássaros cantavam ao amanhecer.

E havia vento e ele uivava nas frestas a anunciar se vinha chuva para dormir abraçadinho.

A casa tinha luz.

Foi por isso que eles mudaram de casa. Mas foram junto.

Então o pássaro pouco importou aos poucos.
O falcão foi ignorado.
A chuva pouco importava. Assim como o sol. E o mar. E a luz.

Por que comemorar aniversários?

Quaisquer motivos hoje são desculpas para evitar comemorações. Estive a pensar… quando morre alguém, os rituais fúnebres são respeitados. Tudo ocorre como tem que ser: com lágrimas, flores, velas, óculos escuros e roupas sóbrias. Ninguém fala sobre dinheiro nem deixa de fazer o velório e o ‘melhor enterro’ que se pode apresentar aos vivos que lá irão dar o seu adeus ao moribundo.
Entretanto é cada vez mais comum ‘não ter dinheiro para fazer aniversários’, não achar bom investimento convidar os amigos, familiares e aqueles com quem iríamos multiplicar as nossas alegrias por estar mais um ano vivos.
Das frases mais deselegantes que já ouvi : “eu que não vou encher a barriga dos outros”… Nossa! Se tem gente que anda indo a sua casa por causa da comida apenas, é bom que não convide mesmo ‘este povo’, como se diz.
Eu não penso assim. Sou festeira, gosto de comemorar. E de comemorar tudo, inclusive o recebimento do salário ou a linda manhã de sol que nasceu. Gosto mesmo.
E ser feliz sozinha até que é possível, mas muito chato. A felicidade que se reparte com quem se ama, com os amigos, com os filhos, se torna gigante, invade o coração de alegria e o corpo de bem estar.
Eu não tenho pena de beber o meu melhor vinho com os meus amigos. Não faz sentido escondê-lo para apreciar sozinha – embora também seja uma delícia brindar consigo mesma. Ouvi minha mãe dizer que a gente deve oferecer aos que gostamos o melhor de nós. E cresci assim.
Gosto de festa, de festas e de comemorações. Gosto de celebrar. E gosto que estejam todos comigo nestas horas. Todos de quem eu gosto. Gosto mesmo.