A gribe me begou

A coisa anda difícil aqui… trabalho tanto que nem tenho tempo de alisar a barriga. Sorte que meus alunos e os ex-alunos que encontro pelo corredor têm sido tão delicados que o carinho
anda suavizando o caminho da jornada de doido em que eu estou.

Nesta semana, então, o corpo faliu. Toma. Quem manda. O corre-corre foi tão grande na semana passada que mal comi uma frutinha. E olha que é parte da minha rotina muitas frutas e quase todas as verduras e os legumes. É que eu gosto mesmo. Mas já resolvi o supermercado e abasteci de verdes, laranjas, vermelhos e açaís a casa.

Entrei numaparanóia tão grande que me esqueci de comer terça à tarde. Conseqüência imediata: no meio da prova, uma dor de cabeça tão absurda – que eu nunca havia sentido – que simplesmente tive o primeiro branco da minha vida e não pude responder bem ao que eu sabia ‘de cor e salteado’. Só na próxima para recuperar. Paciência. Quem manda, madame tudo-ao-mesmo-tempo-agora ?

Providências de sábado de aleluia

Arrumar a vida.

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Ganhei em sala seis bombons feitos em casa de leite condensado, biscoito e cobertura de chocolate… estou no quinto, compulsivamente, deliciosamente, depois de rasgar o equivalente a 100 litros de papéis que fizeram parte de minha vida. O lixão ficou cheio.

É que a menina vai chegar, eu vou me mudar em breve e o espaço para o novo TEM que surgir.

Vai ver que o doce foi para compensar a perda.

Amigo oculto ou presente designado

Eu confesso que não consigo aceitar a prática que anda se espalhando entre os jovens. No Natal e em outras épocas comerciais, como a páscoa, inventa-se o amigo secreto. Legal fazer amigo secreto, dar a oportunidade a alguém de me presentear e a mim mesma a oportunidade de presentear também. Escolher presentes é uma das coisas mais gostosas de se fazer. Pensar no outro, escolher para o outro, doar ao outro.

O caso é que aqui é costume inventar amigo secreto de presente determinado. Ou melhor, com presente encomendado. Nesta semana, por exemplo, estão acontecendo, em quase todas as salas de aula, amigos secretos de ovo de páscoa. Cada participante escolhe a marca, o tipo, o tamanho e se o chocolate deverá ser branco ou preto. Ora, quem quiser ganhar um ovo x, do tamanho y e das características z… que vá ao comércio e o compre!

Trocar dinheiro? “Só valem ovos entre R$15,00 e R$20,00”, “Todos têm que ser número 16″… me deixem.

A mesma coisa é um tal de amigo secreto de sandália havaiana. A pessoa escolhe o designe, a cor, o tipo e faz a encomenda a alguém que só vai chegar à loja e pagar. Eu não participo destas trocas. Eu não gosto delas.

Há quem participe, não receba o que PEDIU e saia ainda chateadíssimo porque gastou o seu dinheiro e não ganhou o que quis. Até assembléia para decidir o que fazer com o revoltoso que não comprou o que a lista indicava eu já vi acontecer. De novo: quem quiser suas coisas que as compre.

Dou presentes aos meus amigos, escolho com detalhes, penso na pessoa. Depois saio feliz por tê-los agradado e assim me sinto quando recebo gentilezas de quem gosta de mim. Trocar dinheiro só no câmbio, se eu for ao exterior.

O dia do saco preto

Gente , quando morre, recebe um lugar na terra e vai embalada em um caixão às vezes simples, às vezes pomposo… a depender da situação econômica. Dizem que indigente nem caixão recebe, vai embalado no saco preto para o seu calvário que nem pós morte tem fim.

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Semana passada, quase eu breco o carro a 80 km num ato reflexo em plena avenida Paralela. Voltava da faculdade à noite e, ao passar pelo memorial Luís Eduardo Magalhães, tomei um susto daqueles…

É que em tempos de pai vivo, havia flores novas todos os dias a enfeitar uma estátua que o homenageava e, no local onde se diz que colocaram o tal do coração do homem, havia sempre dois policiais civis a tomar conta para que vândalos ou pombos ou sabe-se lá o que mais não pertubasse a paz da estátua que estava em pé eternamente em berço esplêndido.

Pai morto, outro rei posto. Ou reis. Já dizia Camões : “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. O fato é que os herdeiros andam aqui pela Bahia se digladiando pela dinheirama e a mídia está repleta de escândalos, rachas, achismos, conjecturas e… fatos.

Semana passada, o novo governador parece que atinou… qual era a estátua de Salvador que recebia vigilância 24h diárias? Nem Vinícius, sozinho lá em Itapuã nem Jorge Amado lá no meio da praça do Iguatemi nem o caboclo lá no alto do Campo Grande… tsc tsc tsc

E Wagner suspendeu o uso da polícia como mantenedora da paz da estatueta, devolvendo seus dois homens à paz estatal.

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As flores continuam. Eu não sei quem as paga. Deve ser ainda a fortuna do pai. A grande fortuna do pai. Que eu também não levanto hipótese para saber como se multiplicou tanto. Deve ter sido pelo seu trabalho.

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O caso do saco preto é que me intrigou. Era 22h40 de um dia de semana qualquer e eu voltava distraída da faculdade quando vi uma grande lona preta ou um conjunto de sacos pretos amarrados no monumento. Neste mesmo, no monumento ao filho do homem. A estátua estava toda embalada em um saco preto ou o que parecia sê-lo.

Não entendi, não compreendi, não vi notícia, não vi comentários e, somente 24 horas depois, já estava lá de novo a estátua reluzente , guardada por dois seguranças particulares, de roupas simples e mochila igualmente.

Só pude pensar que no tempo do pai isso jamais aconteceria. E que os tempos mudam (ainda bem). O enigma talvez não seja solucionado . Mas que me intrigou, ah, isso me intrigou. Fiquei estupefacta. Nunca havia visto estátua nenhuma embalada, ainda mais daquele jeito, em plena praça pública por assim dizer.

Up date: Segundo um transeunte, a estátua estaria em reforma e por isso foi embalada. 

Dia INTERNACIONAL da mulher

Porque sábado foi o Dia Internacional da Mulher também foi um dia de calarmo-nos. Também foi um dia de esperarmos. Também foi um dia de silêncios. Porque muitas vezes os silêncios são necessários.

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Sábado eu esperei. Esperei para ver. Parabéns tímidos de uns, chacotas de outros pela rua, homenagens sinceras de alguns.

Mas sábado eu me decepcionei também. Por que a propaganda brasileira continua mantendo a mulher branca, de cabelo liso e sorridente , com cara de rica como o padrão, o estereótipo da mulher que MERECE os parabéns pelo dia de TODAS as outras?

Por que as publicidades on line não se referiram também às negras, às mulatas, às nordestinas, às menos ricas ou às mais pobres, as que choram e não apenas sorriem com cara de bem sucedidas etc etc etc… ? A que público específico estas publicidades se dirigiam? Por que não vi mulheres chinesas, coreanas, africanas, sulamericanas, mexicanas… ou simplesmente a DIVERSIDADE de brasileiras, mas apenas – tão somente – o padrão europeu?

Por que eu recebi até um folder “parabéns pelo dia da Alena“? Não soou cretino, excludente, individualista, egocêntrico? Não, obrigada, até no dia do meu aniversário eu aceitaria os parabéns exclusivos de melhor grado. O dia era de todas. E não se deveria pretender – sequer aventar – a exclusão.

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Isso me fez mais uma vez recordar o dia em que uma escola onde trabalhei distribuiu rosas às professoras. Considerei uma delicadeza enorme e me senti enternecida. Então fui ao toalete, encontrei a faxineira humilde e desejei-lhe “Feliz Dia Internacional da MULHER”, perguntando-lhe com sorriso largo se gostara da rosa. Timidamente, ela me respondeu: não , pró, a gente não ganhou flores, só as professoras. A gente é pobre, pró.

Fui imediatamente à direção perguntar o que houvera, se as rosas delas, de todas as outras MULHERES, ainda seriam distribuídas. Informaram-me que não. Só o público professora fôra agraciado. Aí a minha rosa murchou, morreu. Disse à pessoa ‘encarregada’ que era melhor nenhuma de nós as recebermos. Infelizmente. Algumas professoras souberam do episódio e continuaram a carregar as suas rosas orgulhosas. A minha e mais a de mais ou menos meia dúzia de outras colegas cientes foram enfeitar um vaso simples na casa de outras mulheres que ainda continuam esquecidas, silenciadas, humilhadas e desvalorizadas.

O que é mesmo que a maternidade faz com as mulheres?

Eu sempre fui sensível. Tá. (tsc tsc) Tá.

Eu sempre me emocionei. Tá. E daí?

Também endureci. Virei cética. Guardei arroubos de lirismo, que minha alma é viva. Vocês sabem. Tá.

E daí?

Perdi meu pai. Triste demais.

Perdi minha mãe. Morri também. E viva.

Amei. Chorei. Sofri. Sorri. Sonhei. É . Ainda sonho. Ainda.

Mas eu estava tão cética, tão triste, tão só, tão vazia… ainda que você não percebesse, ainda que você não soubesse, ainda que você não notasse ou sequer quisesse reparar.

Mas que coisa é esta que está acontecendo comigo que me deu de novo uma dimensão diferente do real, que me fez eu me sentir transcendente, à parte, ‘encasulada’ em mim mesma, feliz, sensível e gigante?

Que coisa é esta que me plantou a dúvida de novo, que me tirou das incertezas em que eu boiava, que me redirecionou ao futuro? Que me fez sorrir sozinha e chorar de mansinho só de ler um texto bonitinho?

Que alegria é esta que me faz chorar, que medo é este que me faz comum? Que sonhos são estes que me fazem tão clichê, tão mãe-igual?

Que redescoberta de mim, do corpo, da voz, dos sonhos? Que consciência é esta do colo, do peito, do ventre ?

Que universo é este que habita em mim?

É você, meu filho, é você.

É você que me faz querer amanhecer.

O bebê

O bebezinho disse a que veio neste fim de semana.

Depois da jornada insandecida que tive na semana passada com trezentas consultas médicas (de praxe), horas de espera nos consultórios (como gestante vai ter prioridade em obstetras?), provas a corrigir (jááááá!), cronogramas a ajustar, casamento de irmã mais nova em outra cidade, formatura de primo-melhor-amigo, jornada alucinada para fazer material para o ensino médio, busca de agulha no palheiro (leia-se um vestido chique para grávida nesta Salvador provinciana cheia de roupas horríveis, tudo demodê), necessidade de faltar aulas, agendamento de reposições …

… ai, ai, depois disso tudo, meu baby hiperativo igual à mãe chutou sem parar por três dias e eu simplesmente parecia que havia saído de um esmagamento por rolo compressor. Falhei de ontem para hoje: o corpo pifou.

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Ainda não sei se menino ou menina… a requisição de ultra-som está na minha mão… o tempo é que não está dando para ir fazer o exame. Pode?

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Sou bacante, dionisíaca seguidora. Amo o vinho e o prazer que proporciona. Mas nesta fase não etílica da minha vida, estou viciada mesmo em suco de uva. Só não venham me falar do de caixinha que eu acho o fim. Tomo um que vem lá do RS, numa garrafa de vidro, com toda pompa que um suco pode ter, rótulo, fabricante e tal … para compensar, minhas taças continuam indo à mesa.

Desejo…

… de parar tudo, o mundo inteiro, dar um start nas pessoas, congelar a cena, meio como aconteceu no conto dA Bela Adormecida. Então eu olharia minha vida de fora dela, tomaria pé deste turbilhão de trabalho, obrigações, contas a pagar, mudanças a fazer, finanças a arrumar e projetos a realizar. Talvez assim, com tudo arrumadinho, compartimentado como nenhuma vida deve ser, eu pudesse ter paz de espírito para respirar aliviada e sentir todo o prazer que a gravidez tem me proporcionado.

Quem foi mesmo que lutou pela emancipação feminina?